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Pela primeira vez, Bolsonaro registra quatro meses de saldo negativo de seguidores no Twitter

Jair Bolsonaro (sem partido) teve crescimento no Twitter cerca de 60% menor do que o registrado no ano anterior

atualizado

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1 de 1 presidente-tuiteiro_ - Foto: Arte/Metrópoles

No segundo ano de governo, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) teve um crescimento no Twitter cerca de 60% menor do que o registrado no ano anterior. Em 2020, Bolsonaro ganhou 1.096.983 novos seguidores no microblog, enquanto em 2019 quase 3 milhões de usuários passaram a seguir a conta do mandatário (2.853.859).

Os dados são da plataforma americana Social Blade, ferramenta que monitora a atividade de grandes perfis nas redes sociais. O site mantém um ranking no qual avalia a qualidade dos canais do YouTube – os melhores recebem nota A++. A partir das estatísticas, são feitas, por exemplo, estimativas de quanto ganham youtubers famosos.

O número de seguidores que Bolsonaro perdeu no Twitter nos meses de agosto, setembro, outubro e dezembro de 2020 superou o de seguidores que ganhou. É a primeira vez desde que criou a conta no Twitter, em agosto de 2016, que o perfil oficial do presidente registra meses com saldo negativo de seguidores.

Os dados também revelam uma curva descendente de seguidores do chefe do Executivo, iniciada em abril deste ano e que coincide com o recrudescimento da pandemia de Covid-19 no Brasil.

 

A plataforma de monitoramento mostra que, após ter registrado um pico de novos seguidores em março, a trajetória entrou em queda. Em agosto ele perdeu 4.284 seguidores, enquanto em setembro 6.639 usuários deixaram de segui-lo. Em outubro houve uma retomada, com perda menos expressiva, de apenas 1.776 contas.

Os meses de perdas coincidem com declarações polêmicas feitas pelo chefe do Executivo. Em agosto, o Brasil bateu a marca dos 100 mil mortos pela Covid-19 e Bolsonaro, que contraiu o vírus em julho, usou a data para dizer que foi salvo pela hidroxicloroquina, medicamento sem eficácia comprovada.

Em 7 de setembro, por ocasião do Dia da Independência, Bolsonaro exaltou, em pronunciamento em cadeia de rádio e TV, o golpe de 1964, que deu início à ditadura militar. Dias depois, o mandatário afirmou que ficar em casa é “conversinha mole para os fracos”.

Setembro também foi o mês em que o auxílio emergencial foi reduzido pela metade, de R$ 600 para R$ 300. Ainda em setembro, Bolsonaro fez seu discurso na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), quando disse que o governo é “vítima de uma campanha de desinformação sobre a Amazônia”.

Por sua vez, em outubro, Bolsonaro considerou que a pandemia foi “superdimensionada”. No 10º mês do ano, um dos vice-líderes do governo, o senador Chico Rodrigues (DEM-RR), foi flagrado pela Polícia Federal escondendo dinheiro na cueca, escândalo que acabou respingando em Bolsonaro, dada a proximidade com o senador.

Depois da recuperação de novembro, em dezembro Bolsonaro voltou a perder mais seguidores do que ganhar: o saldo final ficou em – 5.396. Naquele mês, o presidente falou que o país vivia o “finalzinho” da pandemia. Questionado sobre o fato de o Brasil ainda não ter começado a vacinar a população, ele respondeu: “Não dou bola”.

Para o pesquisador Danniel Gobbi, da Universidade Humboldt de Berlim, na Alemanha, a principal hipótese é que a queda de seguidores na conta do presidente em 2020 é uma ação orgânica relacionada à pandemia. Ele avalia que a redução não tem ligação com a desmobilização de bots (robôs) pelo microblog, o que influencia no número de seguidores.

Em julho de 2018, por exemplo, a limpa dos bots fez com que o ex-presidente americano Barack Obama perdesse mais de 2 milhões de seguidores na rede. Outras personalidades e famosos também tiveram uma queda vertiginosa em decorrência da ação.

Recuperação e eleições americanas

Em novembro, depois de três meses consecutivos de resultados negativos, o perfil do presidente Bolsonaro teve um saldo positivo e recuperou o total de seguidores perdidos no período anterior (+ 29.297, ante – 12.699 no acumulado dos três meses antecedentes). Ainda assim, o saldo de novembro de 2020 não se equiparou ao do mês equivalente de 2019 – quando ganhou 154.183 novos seguidores – nem de novembro de 2018 – quando recebeu 381.455 novos usuários.

Na avaliação de Gobbi, a recuperação de seguidores nesse período está ligada às eleições norte-americanas. Em análises qualitativas de mensagens compartilhadas pelas redes bolsonaristas, ele observou que houve uma mobilização da militância digital impulsionada pela derrota de Donald Trump e vitória de Joe Biden.

“É uma operação discursiva, do ponto de vista da política real, muito acertada. Você consegue pegar os descontentes e mostrar: ‘Olha, o que tem lá fora é muito pior'”, analisa.

A ideia, segundo Gobbi, era combater uma espécie de “fantasma comum”, representado pela derrota da extrema-direita e ascensão ao poder de um grupo mais progressista.

“Uma das afirmações que faço categoricamente é que houve essa tentativa [de mobilizar a militância] do campo bolsonarista a partir de novembro, porque qualitativamente está lá nas mensagens. A tentativa foi motivada por uma nova noção de fortalecimento do inimigo, dado pelas eleições americanas. Esse foi o fato que o discurso deles quis mediar como risco ao Brasil.”

Gobbi, que estuda governos de direita em outros países, observa que essa ação de reorganização da militância não esteve restrita ao Brasil.

Pico de seguidores e platô

O pico de novos seguidores de Bolsonaro nos últimos quatro anos ocorreu em outubro de 2018, quando 610.242 usuários começaram a segui-lo. Já no exercício do cargo de presidente da República, em janeiro de 2019, a conta do chefe do Executivo recebeu 483.519 seguidores. Depois, em março do mesmo ano, 453.115 usuários seguiram o perfil.

Existe uma avaliação de que o número de seguidores pode ter atingido um platô, isto é, uma estabilização. No entanto, essa afirmação não pode ser comprovada porque, nas redes, um usuário não corresponde necessariamente a apenas uma pessoa. O elevado número de bots (robôs) em atuação, com IPs sediados inclusive fora do Brasil, dificulta essa mensuração.

Comparações

O Twitter é a rede social mais ligada à atuação política e é usada por autoridades e personalidades públicas do mundo inteiro. É também uma das redes mais utilizadas pela militância bolsonarista. A conta oficial do presidente Jair Bolsonaro no microblog é seguida por 6,6 milhões de pessoas e possui um nível de engajamento bastante elevado – classificado como A pelo Social Blade (as maiores escalas são A+ e A++).

Para efeitos de comparação, o usuário com o maior número de seguidores no Twitter mundial é o ex-presidente Obama, com 127 milhões de seguidores. O presidente não reeleito Donald Trump ocupa a sexta posição no ranking, com mais de 88 milhões de seguidores.

No Brasil, o ex-presidente Lula (PT) possui um terço do número de seguidores de Bolsonaro: 2 milhões, e é classificado pelo ranking como A-.

Maiores interações

Segundo números levantados pelo (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles, Bolsonaro publica, em média, cerca de 211 tuítes por mês. O mês com o maior número de postagens de 2020 foi março, quando o governo federal decretou estado de calamidade pública. Foram 343 tuítes.

Na outra ponta, o mês em que o presidente esteve mais ausente da atividade no Twitter foi dezembro, quando tirou férias no litoral paulista. Segundo a agenda da Presidência da República, Bolsonaro teve apenas um compromisso público nas últimas duas semanas de dezembro – uma reunião com o ministro Luiz Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF).

O post com maior interação foi um vídeo publicado em 18 de novembro, em que uma imagem de Bolsonaro caminhando é distorcida e acompanhada de uma música caricata. O meme, popularmente conhecido como Wide Walking, já foi aplicado a outros líderes mundiais, como Donald Trump, Vladimir Putin e Boris Johnson.

Na legenda, Bolsonaro escreveu apenas: “– Bom vídeo.”, acompanhado de um emoticon de “joinha”. A postagem teve 372 mil curtidas e mais de 37 mil comentários e foi replicada quase 150 mil vezes.

E nas outras redes?

De acordo com os dados do Social Blade, Bolsonaro também teve crescimento no número de seguidores no Facebook, YouTube e Instagram, conforme mostrado abaixo.

No Facebook, rede preferencial de Bolsonaro em que ele costuma fazer as postagens antecipadamente, foi registrado por mês um número estável de ‘likes’, cerca de 10 mil a cada 30 dias. Somando os 12 meses do ano, foram mais de 125 milhões de likes (125.629.764).

No YouTube, plataforma em que compartilha vídeos da TV Brasil, lives, coletivas e pronunciamentos, foram 530 mil novos inscritos no canal. No total, são mais de 3 milhões.

Por fim, no Instagram, dos 18 milhões de seguidores, 3.204.346 começaram a segui-lo no ano passado. No Instagram, tal qual no Twitter, Bolsonaro ganhou menos seguidores do que em 2019, e a curva de novos seguidores baixou.

 

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