Conselheira da OAB, Indira Enersto Silva Quaresma venceu o racismo e o machismo, na vida profissional
Conhecida pela atuação em defesa das cotas, na UnB, e dos direitos humanos, a advogada tem trajetória de vida que serve como inspiração
atualizado
Compartilhar notícia
Conselheira da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do DF, Indira Enersto Silva Quaresma protagoniza a defesa pelos direitos humanos, levanta a bandeira do respeito às prerrogativas da categoria e lidera projetos sociais de valorização da mulher no ambiente profissional.
Reconhecida pela bem-sucedida carreira como procuradora federal da Advocacia-Geral da União – atualmente licenciada -, a advogada é especializada na representação nos tribunais superiores, nas áreas cível e empresarial. Também atua como professora da Escola Superior de Advocacia e como palestrante.
Militou em defesa das cotas raciais da Universidade de Brasília (UnB), no Supremo Tribunal de Justiça (STF), com argumentos como o de que: “um negro, com diploma na mão, inspira outros a desejar o mesmo, a correr atrás de seu sonhos”. Presidente da Comissão da Mulher Advogada e conselheira da OAB-DF, Indira e sua chapa têm como objetivo aprimorar os projetos Jovem Advogado e apoiar ao Programa Mais Mulheres na OAB.
As cotas raciais são um marco histórico e têm uma importância imensa para a sociedade e para a comunidade acadêmica, sob vários aspectos, embora não seja a panaceia para todos os males do racismo. A primeira virtude é permitir que muito rapidamente a comunidade negra tenha novos emblemas para as crianças e jovens
Indira Enersto Silva Quaresma
Ela fala sobre a importância da diversidade no ambiente acadêmico. “Não é razoável que o saber científico construído nas universidades públicas brasileiras considere a perspectiva apenas da parte branca da população. Não é razoável que o negro seja apenas objeto do estudo e não o mentor intelectual”, defende.
Ao lado das advogadas Luciana Macedo, Suelen Azevedo, Ana Izabel Alencar e Renata Alckimin, ela ofereceu palestras na rede pública de ensino, sobre direitos humanos. Ofereceu assistência jurídica a asilos, como o Lar Maria Madalena. Sua atuação é plural: ela faz visitas periódicas aos hospitais públicos e presídios do Distrito Federal, garantindo que seja oferecida mais de uma refeição diária aos detentos que “muitas vezes passam até 13 horas sem receber alimentação”.
Indira, representa a possibilidade de vitória. Mulher, negra e respeitada profissionalmente, demonstra que “não há lugares cativos”. Ela defende a ampliação do mercado de trabalho para as mulheres negras.
“Tive a oportunidade de conhecer mulheres negras incríveis, com um cabedal de conhecimento invejável, verdadeiras pioneiras, que estão dispostas a continuar lutando para que a mulher negra seja respeitada como ser humano e profissional”
Vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-DF e reeleita conselheira, nesta segunda-feira (16/11), a advogada afirma que “o dia da consciência negra é um marco, um símbolo e dia de comemoração do que já foi conquistado”, mas alerta que “ainda há muito o que ser feito.”
Temos que avançar muito, e não me refiro somente à comunidade negra. Nós temos que avançar muito como povo, como nação, para vencer o imenso abismo que separa brancos e negros ao ponto de termos dois “Brasis”, um branco com IDH alto e outro negro com IDH comparável aos dos países mais pobres, a despeito de sermos a 6ª potência econômica do mundo. O Brasil nunca experimentará a grandeza para o qual está predestinado se não vencer os problemas estruturais – racismo, pobreza e desigualdade e sexismo
Indira Enersto Silva Quaresma
Há para os negros oportunidades além dos trabalhos braçais, de pouco desafio intelectual, de baixa remuneração. Então, não só eu, mas todo negro ou negra que se move socialmente, que atinge as carreiras e empregos mais cobiçados, é um exemplo e uma inspiração e isto muda a vida de uma pessoa
Embora, geralmente, a mulher negra tenha maior escolaridade que o homem negro, ela ainda ocupa pior posição na hierarquia social. “O machismo no Brasil é um problema, desde sempre. Mas, para as mulheres negras, histórica e culturalmente, é um peso acachapante”, avalia. “Se para qualquer homem negro alçar uma posição de destaque na sociedade é muito difícil, e há sempre uma história de superação, para uma mulher negra o caminho é muito mais espinhoso”.
A advogada lembra que, há 15 anos, a primeira mulher branca foi indicada para o Supremo Tribunal Federal (STF) e, até hoje, “nenhuma mulher negra alcançou tal distinção, apesar de já termos desembargadoras, procuradoras, promotoras e advogadas negras, em condições de serem alçadas aos tribunais superiores – qualquer um deles“.
Ela ressalta também que, em 2003, o Ministro Joaquim Barbosa “chegou ao STF”, e, após a sua saída, a Suprema Corte brasileira voltou a ser monocromática. O Tribunal Superior do Trabalho (TST) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) possuem ministros dessa etnia, “mesmo assim, são raros os homens negros que alcançam esse patamar”. Indira trabalha por um futuro diferente.
Segundo o futuro presidente da OAB, eleito para o triênio 2016/2018, Juliano Costa Couto, Indira Quaresma merece todo o reconhecimento.
É uma advogada e companheira de destaque, sempre pronta para encarar os desafios que aparecem. Além disso, é detentora de uma grande sensibilidade quanto aos temas sociais e teve grande atuação junto à comissão de direitos humanos da OAB/DF. Merece todo nosso reconhecimento e é um orgulho para a Ordem tê-la como conselheira da casa.
Juliano Costa