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Romancista, ensaísta e curador: atenção ao múltiplo Cristovão Tezza

O escritor brasileiro vive grande fase e lança o livro A Tirania do Amor

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PAULO GIANDALIA/ESTADÃO CONTEÚDO
Cristovão Tezza
1 de 1 Cristovão Tezza - Foto: PAULO GIANDALIA/ESTADÃO CONTEÚDO

O momento é de Cristovão Tezza. A editora Record coloca nas livrarias uma edição comemorativa dos 30 anos de publicação do romance Trapo. Acaba de sair também Literatura à Margem (Dublinense, 160 páginas), coletânea de sete conferências feitas pelo escritor curitibano, apesar de nascido em Santa Catarina. E o romance A Tirania do Amor (Todavia, 176 páginas), tendo recebido ótima atenção midiática no primeiro semestre, permanece com os faróis acesos.

Tezza fez rápida passagem por Brasília no começo de junho, em mesa da Feira do Livro. Retorna no dia 4 de agosto para participar do projeto O Livro da Minha Vida, programação paralela da exposição Eu Leitor, aberta ao público brasiliense a partir desta sexta-feira (27/7), na Biblioteca Nacional. Vem falar de Lord Jim, romance do polaco-britânico Joseph Conrad que lhe forneceu em primeira mão a multiplicidade como método narrativo, incorporada desde sempre.

Lançado em 2007, o premiadíssimo O Filho Eterno deu ao autor a possibilidade de largar o emprego público e se dedicar exclusivamente à literatura, em movimento corajoso. Tezza, entretanto, não caminhou da experimentação à comunicabilidade, o que seria normal quando é preciso enfrentar o veredicto do leitor comum, como bem percebeu o sociólogo Sérgio Miceli. Entre Guimarães Rosa e Jorge Amado, a necessidade de vender livros.

Nos últimos 10 anos, Cristovão Tezza publicou cinco livros de ficção (um volume de contos e quatro romances) sem fazer concessões a um possível e provável leitor conquistado com O Filho Eterno. É bem verdade que o escritor brasileiro vive menos do número de exemplares vendidos do que de um circuito de mecenato, incluída a participação remunerada em júris de premiações literárias e palestras em bienais, feiras e festas.

Na matemática possível da indecente realidade da leitura no país, manter-se fiel a um projeto constitui tarefa para poucos. E esse é um dos temas da mais recente obra, muito provavelmente seu melhor romance até hoje. O meu preferido era A Suavidade do Vento (1991), por razões biográficas, pelo momento em que foi lido, pela leveza do título e todos esses fatores que tentam justificar de modo razoável nossas escolhas irracionais.

Mas tudo mudou quando cheguei ao final de A Tirania do Amor. O vento virou ventania – e não era uma música do Biquíni Cavadão. A suavidade transformou-se em dia de elegante fúria, um mergulho na vida do economista Otávio Espinhosa, expert em cálculos rápidos. O Brasil contemporâneo é cenário do texto, que se desdobra em camadas de tempo-espaço para seguir um protagonista atônito após descobrir que a mulher, advogada, o trai com o sócio e pretende abandoná-lo.

Para quê? Qual é a precisão do amor? Para saber do pai estelionatário, para enfrentar o filho revolucionário, para retomar o sexo sincero, para encarar o fracasso acadêmico, para calcular perdas e ganhos. O amor está em tudo. Só que não. A literatura não se presta à matemática objetiva da certeza ideológica. A literatura serve para nos liberar, ainda que momentaneamente, da vulgaridade da geografia nacional. A ficção reflete o indivíduo imerso numa realidade áspera, imprecisa.

“Pois a literatura nos tira da tábula rasa e oferece-nos a prospecção do passado e a experiência do presente, na comunhão solitária entre autor e leitor”, escreve Tezza em Literatura à Margem. No novo romance, essa mobilidade possível da literatura (e mesmo o deslocamento literal das personagens) entra em contraste com a imobilidade do país. E atinge sofisticação digna de um autor maduro, plenamente consciência da sua tarefa, com e sem clichês.

Para finalizar, faltou dizer que Tezza é o curador do mês de agosto da TAG, clube que faz chegar kits literários exclusivos nas casas dos assinantes e sacode um pouco a poeira: a gente passa a acreditar numa realidade brasileira de leitura nem tão triste assim. Para não ser suspeito de crime, não conto quem é o autor suíço escolhido, mas concedo mini-spoiler: o sobrenome tem trema e consoantes dobradas, duas vezes. São textos sobre os quais Tezza fala aos amigos com deleite e propriedade.

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