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Escritores são protagonistas em filmes sobre relação entre vida e arte

A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata e O Desaparecimento de Sidney Hall mostram com quantos fotogramas se faz um autor

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1 de 1 The-Vanishing-of-Sidney-Hall_04 - Foto: Reprodução

Dois filmes colocados à disposição dos espectadores por meio de serviços de cabo ou streaming trazem de volta a figura do personagem-escritor. O Desaparecimento de Sidney Hall (foto principal), de Shawn Christensen, e A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata, de Mike Newell, apresentam protagonistas que escrevem prosa de ficção.

Baseados em livros ou a partir de roteiros originais, diretores parecem ter uma queda por escritores, da mesma forma como muitas vezes escritores gostariam de ter sido cineastas, mas terminaram por se resignar entre as páginas. A troca é intensa e extensa. E os escritores da ficção cinematográfica costumam ser extraordinários.

Basta lembrar As Confissões de Henry Fool, Garotos Incríveis ou Mais Estranho que a Ficção, para permanecer na produção internacional de língua inglesa. Na tela, ninguém é normal. No mínimo, nossas personagens sofrem de bloqueio criativo depois de um primeiro livro de sucesso, vencedor de algum prêmio de prestígio.

Em O Desaparecimento de Sidney Hall, a decisão de não escrever, ou melhor, de não publicar, é voluntária. Em A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata, a opção da escritora Juliet Ashton também é pessoal. Nos dois casos, a literatura arma-se como artefato que afeta as pessoas, atinge os leitores no coração. É coisa séria, na guerra ou na paz.

Trazer o livro e a literatura para os filmes de entretenimento aponta um significado curioso, o de sair da solidão da leitura para a multidão do espetáculo. Os atos de escrever e de ler são individuais. Ao dar visibilidade a essas duas ações, ao levá-las para o home theater, a narrativa cinematográfica agrega compartilhamento.

Assim também surgem os grupos, os clubes, as sociedades de leitura. No filme de Mike Newell, a experiência provoca adesão e conforto. A literatura transforma-se no bunker da imaginação. No de Shawn Christensen, leitura e texto constroem uma audiência quase fanática, dispersa e disposta a aproximar ficção de realidade. Em certo sentido, perigosa.

Nas duas narrativas, os autores da ficção em tela vivem no próprio corpo a lenta construção da escrita, que se torna indissociável da vida vivida (e depois narrada). Não existe separação entre arte e vida. Por isso, o escritor Sidney Hall precisa destruir literalmente as obras que produziu literariamente. Quer dizer, tem de fazê-las virar cinzas para tentar a ressurreição.

Nenhum dos dois é o melhor filme do universo. Têm alguns cacoetes narrativos (A Sociedade Literária), atuações por vezes duvidosas (O Desaparecimento) e clichês na elaboração da figura de escritor (ambos). Mas dão gosto de ver por retomar os lugares e a importância da leitura, em diferentes contextos históricos.

O personagem-escritor permanece excêntrico, fora das normas, do contrário não usaria a arte literária para se expressar. Voltamos aqui a mais uma breve lembrança pessoal das projeções: começa em Crônica de Um Amor Louco, passa por Encontrando Forrester e Histórias Proibidas, aterrissa em Rubby Sparks – A Namorada Perfeita.

O escritor é um outsider por sua própria natureza, dizem os filmes. Dessa estranheza do artista quando possível chato, fugimos para encontrar refúgio no clube de leitura (Sociedade dos Poetas Mortos na cabeça). Ou partir para o cineclube de leitura. Com certo cuidado, recomenda-se. Ações coletivas podem ser tortas de casca de batata.

Isto é: dependem de bons e maus gostos, afirmam-se na disposição para ouvir o outro, para interagir ao sair do casulo próprio da leitura. Seja como for, olhamos brevemente para o cinema norte-americano e britânico como porta de entrada literária. E vemos a literatura atuar na mediação do amor ou no enfrentamento da morte.

Os diretores brasileiros também se divertem ao enquadrar a literatura, mas esse papo fica para algum próximo momento.

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