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A arte de encontrar livros nas ruas de Belo Horizonte

E outras voltas do colunista pela capital de Minas Gerais e proximidades, terra de cultura, arte, queijo, café, amizade, afeto e montanha

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1 de 1 belo-horizonte - Foto: Reprodução

A experiência de circular entre livros está viva num pequeno espaço do bairro da Savassi, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Na mesma Rua Fernandes Tourinho, estão as livrarias Ouvidor, Quixote e Scriptum. Na Antônio de Albuquerque, a Livraria da Rua traz no nome o sintoma de doença incurável porque perene: a vontade de sair da casa, ao ler e saber mais.

E esse desejo aparece em carne e osso na figura da vendedora Simone Pessoa. Conhecidíssima entre amantes dos livros, ela faz jus à fama na primeira abordagem de quem entra na Ouvidor. Logo a mão vem carregada de novidades, não necessariamente lançamentos. Simone tira truques da cartola com invejável naturalidade.

Uma edição rara, com dedicatória do autor. O segundo romance de um fenômeno local, narrativa de dar gosto na boca e embrulhar o estômago. Uma opinião que não é só de orelha, de orelhada. Vem de dentro do texto. Simone fala com sorriso e olhos abertos, apaixonada pelo que faz e pelo empenho em transmitir o bom gosto de viver entre livros.

Assim sendo, não resisto a uma recomendação: Tudo Pode Ser Roubado (Todavia), de Giovana Madalosso. Começo a ler e tenho de dar razão a Simone no quesito ritmo, desprendimento, velocidade. A história (quase policial) assinada pela jovem escritora curitibana flui o suficiente para que me tome mais algumas horas.

A mágica sai da página para cruzar a rua e encontrar, na Quixote, a última edição do Suplemento Pernambuco ou os delicados volumes de pequenas, interessantes e ativas editoras mineiras, como Relicário, Letramento e Moinhos. Para o desacostumado leitor brasiliense, livros que saem da invisibilidade expositiva para reconhecimento imediato.

Após um pulo rápido e indolor na Scriptum, o turista proposital come o pão de queijo maravilhoso que o diabo amassou na charmosa A Pão de Queijaria. Sim, artigo feminino: a casa, a cafeteria. Ali bem perto, dá de cara com a Livraria da Rua, que mais parece galeria de arte. Os livros estão dispostos a se exibir e interagir como obra de Lygia Clark. Delicioso andar entre papéis. E tocá-los.

Nessa passagem de poucos dias e algumas vitrines, Minas mostra-se também (e mais, claro) em curvatura histórica, não apenas na chave do novo. No Edifício Maletta, os sebos e sua poeira alérgica. Na livraria da Editora UFMG, no campus da Pampulha, a promoção (com descontos generosos) do pensamento acadêmico de projeto editorial que perdeu o viço.

Depois de um trânsito bem “agarrado”, o passeante motorizado chega, então, ao Acervo de Escritores Mineiros, onde o diretor Leandro Garcia fala com entusiasmo do seu excelente museu de excelências literárias. As caixas anunciam trabalho incessante e avisam que ainda há algo a explorar na coleção do contista Wander Piroli.

A viagem, por fim, pega a estrada para transcorrer a triste lama que mancha a cidade de Brumadinho e se reencanta (temporariamente e para sempre) na beleza incomparável do céu aberto e da arquitetura de Inhotim. Gosta em particular da cidade que se derrete nas velas da instalação Ahora Juguemos a Desaparecer (II), do cubano Carlos Garaicoa. No estábulo escuro, a noite concede pouca esperança, a não ser como estética.

Penso nas chamas acesas pelas livrarias, no urbanismo das ruas que permitem o passeio, nos encontros com estátuas (Henriqueta Lisboa e Roberto Drummond, nas proximidades), nos viadutos a caminho do aeroporto nomeados também em homenagem aos escritores da terra, nas folheadas por páginas abertas ao distinto do dia a dia, na guloseima excessivamente doce.

As livrarias, os cafés e os museus valem a visita. Mas a montanha panorâmica concentra a atenção final. É ali onde pousa o voo livre do pássaro humano. Desce sobre a natureza em madeira recebida como recordação com asas para o futuro. Não brinquemos de desaparecer, assim e portanto.

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