Simon Lau vence as frustrações do passado e traça projetos para futuro
Antes proprietário do único restaurante três estrelas de Brasília, o chef dinamarquês hoje se dedica a eventos privados e bufês
atualizado
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Visitar a casa do chef dinamarquês Simon Lau Cederholm, de 52 anos, é, ao mesmo tempo, reencontrar a memória afetiva da cena gastronômica brasiliense. Ainda estão lá as mesas na varanda e a cozinha americana, a área da piscina de água límpida em que ocorriam coquetéis ao som de DJs e a sala de estar com obras de arte eslavas e brasilienses entre móveis modernistas.
Cada um desses ambientes era marca registrada do Aquativ. Porém, hoje, o local se encontra silencioso, vazio. O restaurante foi obrigado a fechar as portas em agosto de 2013, após uma intensa briga com o GDF – o poder público alegou que o local era de uso exclusivo para construção e manutenção de residências.
Simon Lau, então, decidiu abrir um estabelecimento na casa de chá do Jardim Botânico, em setembro de 2015. Porém, a experiência se revelou nova decepção. Bastaram seis meses para que o contrato fosse rompido e o dinamarquês deixasse de oferecer seus serviços gastronômicos de uma vez por todas – ao menos dentro de um restaurante.
Planos
Em entrevista exclusiva ao Metrópoles, Simon Lau revelou que sentia medo de cair no esquecimento do público da capital. “Achava que se um novo chef ganhasse destaque, conquistaria a atenção das pessoas e ninguém sentiria minha falta, mas não foi o que aconteceu”, confessa.
E isso pode, de fato, ser conferido pelo ritmo de seus últimos trabalhos. Atualmente, o chef dinamarquês organiza eventos privados (cerca de quatro por mês), realiza serviços de bufê e, periodicamente, abre sua casa para casamentos.
Ao mesmo tempo, Lau se dedica à produção de dois livros de fotografia. “Um com receitas de smørrebrød [famoso sanduíche que reúne ingredientes nórdicos e brasileiros criado pelo chef] e outro abordando os aspectos gastronômicos do Cerrado”.
Além disso, ele organiza viagens gastronômicas com grupos seletos de Brasília. “Temos tours programadas para o Japão, a Escandinávia e a Itália”. Porém, isso não indica que ele não pense em abrir um novo espaço físico levando seu nome.
Estou organizando um projeto no centro do Plano Piloto, mas ainda não sei quando irei colocá-lo para funcionar. Será algo que deve fugir ao formato de um restaurante.
Simon Lau
Experiência
A saída dos restaurantes não ocorreu de maneira pacífica. Antes, Simon Lau foi obrigado a lidar com um quadro de estresse agudo com contornos de depressão e síndrome do pânico. As crises o afastaram da cena gastronômica por algum tempo. “Lembro de sentir que só queria paz e que aquela aflição pelos projetos frustrados passasse”, desabafa.
Aprendi que é preciso ter sonhos, lutar, mas não podemos deixar as expectativas dominarem nossa cabeça
Simon Lau
A primeira decepção foi com o Aquavit, que funcionava dentro de sua casa. Além de permanecer aberto por nove anos, o local recebeu três estrelas pelo Guia Quatro Rodas em 2013, tornando-se o único de Brasília (até hoje) a conquistar tal certificação. No mesmo ano, fecharia as portas.
“Ralei muitíssimo para conquistar as três estrelas e, ainda assim, não conseguimos obter o alvará de funcionamento para as atividades do Aquavit. Não sei se hoje teria energia para me entregar da mesma maneira”, revela.
Ao apostar todas suas fichas no Simon Lau Smørrebrød, que ficava na Casa de Chá do Jardim Botânico, o chef dinamarquês se viu diante de outro revés. “Era um plano muito lindo no qual investimos suor, energia, amor, dinheiro, e posteriormente, lágrimas. Tudo deu errado.”A lista de problemas do empreendimento é extensa: empréstimo de banco e embates com a vigilância sanitária acompanharam a iniciativa. “E eu nunca mais botei meus pés lá”, confessa. Jeanito Gentilini, diretor do espaço ambiental, no entanto, afirma que o pedido de cancelamento das operações no local partiu do chef.