Restaurantes e clientes do DF são vítimas de golpe do Instagram: previna-se
Na rede social, criminosos se passam pelos estabelecimentos e pedem dados pessoais dos clientes. Saiba como não ser vítima da ação
atualizado
Compartilhar notícia
Uma das redes sociais com maior engajamento do mundo, o Instagram superou, em 2020, a marca de um bilhão de usuários mensais ativos. Com números tão expressivos, é natural que empresas enxerguem o potencial de mercado da plataforma e a usem para anúncios publicitários, posts pagos por influenciadores, reviews e análises de produtos, de forma a promover as vendas.
Todos os dias, os usuários de Instagram são bombardeados pela divulgação de produtos e informações. Os complexos algoritmos por trás da interface amigável e limpa da plataforma são responsáveis pela seleção, agrupamento e entrega de propaganda dos mais variados produtos e empresas aos respectivos públicos de interesse.
No entanto, da mesma forma que empresas e usuários se beneficiam com as facilidades trazidas por essas tecnologias, fraudadores e criminosos também se aproveitam delas para anunciar produtos falsos, aplicar golpes financeiros e roubar dados sensíveis de usuários desavisados utilizando técnicas de engenharia social. Essa, infelizmente, é uma realidade que está assolando alguns restaurantes brasilienses.
É o caso do Saveur Bistrô. Nesta semana, os sócios do estabelecimento tiveram uma tremenda “dor de cabeça” com uma conta fake na rede social, que usava o mesmo nome e fotos do restaurante. Segundo Lucas Flores, uma das cabeças à frente da empresa, eles só descobriram a fraude quando uma cliente entrou em contato. “Ela informou que um perfil com nosso nome e foto havia entrado em contato por mensagem oferecendo um jantar de cortesia. Depois disso, vários outros consumidores também informaram que o mesmo havia ocorrido com eles”, conta.
Ele explica que já havia visto acontecer com outras empresas, por isso não ficou surpreso. “A abordagem é sempre a mesma, oferecendo jantares de cortesia. Nos esforçamos pra alertar os clientes por meio dos nossos canais oficiais de comunicação e pedimos para que nos ajudassem a denunciar o perfil falso”, afirma.
Contudo, mesmo com a denúncia aos administradores do Instagram, a resposta da rede social decepcionou. “Infelizmente a plataforma não é nada transparente em relação a essas solicitações. ‘Analisaram’ o nosso pedido em minutos e, mesmo o perfil imitando absolutamente tudo o que fazemos, decidiram não tirar do ar. Ainda continuamos denunciando com a ajuda dos nossos clientes, mas estamos aguardando uma posição da plataforma”, reforça Lucas.
Diante da negativa, Lucas recorreu à Polícia Civil para denunciar o caso. “Como o golpista continua entrando em contato com os clientes, nós registramos uma ocorrência on-line no site da PCDF”.
Outra vítima foi a pizzaria Dolce Far Niente, comandado pela chef Lídia Nasser. “Descobrimos quando uma cliente, que caiu no golpe e teve o WhatsApp clonado. Ela entrou em contato com a gente pelas redes sociais. Como ligaram para o celular dela, a vítima suspeitou que colaboradores nossos pudessem estar envolvidos. Mas explicamos que esse mesmo golpe estava sendo aplicado com nomes de outros restaurantes”, relatou a profissional.
Segundo ela, a partir disso, a pizzaria passou a divulgar diariamente nas redes sociais um alerta sobre a ação e o risco de informar código enviado por SMS a terceiros.”Na semana passada, os golpes se intensificaram com o nome da Dolce. E alguns clientes caíram porque, como o golpista era muito educado e falava bem, seguindo o padrão da nossa empresa, eles se confundiram”, completou Lídia.
Promessa de volchers via Instagram
A história se repete:o golpista se identificava como Danilo, dizia que estava oferecendo um voucher para fazer estreitamento de laços após a pandemia. O valor do tíquete variava entre R$ 150 e R$ 300. E, para a pessoa ativá-lo no suposto sistema do restaurante, o cliente precisaria informar um código SMS enviado para ele.
Ao passar o código, eles clonavam o WhatsApp da vítima.”Ficamos intrigados como esse golpista era tão certeiro e tinha acesso ao dados dos nossos clientes. A gente desconfia que esses estelionatários tenham entrado em nossa lista de seguidores do Instagram e identificados os perfis abertos e com número de telefone disponível”, complementa Lídia.
“A sensação foi de total impotência. Por mais que a gente avise em nossas redes, não conseguimos atingir 100% do público”, finaliza. Gustavo Guedes, o mixologista que comanda o South Side, também passou pela situação. “Na verdade, a gente já estava esperando que isso acontecesse. Então, desde já nos preparamos e tínhamos o comunicado oficial pronto para soltar”, relata.
Ele explica que o modus operandi foi o mesmo. “Eles ofereceram vouchers em nosso nome. Isso foi infelizmente ‘oportuno’ por conta da pandemia, essa prática se popularizou para ajudar os restaurantes. Eles aproveitaram isso e conseguiram enganar vários clientes”, aponta. Gustavo afirma ainda que, mesmo com o boletim de ocorrência, a investigação não é fácil.
Um dos primeiros a ser pego de surpresa por golpistas usando o nome do restaurante, o Taypá teve alguns problemas pós-golpe. “Ficamos muito impotentes diante da situação. Tentamos avisar todos os clientes, porem, infelizmente, não tem muito o que fazer”, lamentou Antônio Carvalho, um dos sócios do restaurante.
Mais comum do que parece
De acordo com Lucas Vieira e Leonardo Rocha, fundadores da Ab Scripta, empresa especializada em informações jurídicas, a evolução tecnológica permitiu não só a execução de tais delitos, como potencializou a prática de crimes já existentes. “Em um estudo realizado com operadores do direito, foi constatado que aproximadamente 95% dos crimes cometidos nos meios digitais são delitos comuns (como fraude e estelionato), executados por intermédio da internet”, observa Lucas.
De acordo com o especialista, vítimas abordadas por perfis fraudulentos estão suscetíveis a 100% desses delitos. “Seja o encaminhamento de link malicioso que pode infectar a máquina, a solicitação de informações pessoais e dados bancários, envio de boletos para pagamento, supostas fichas de atualizações cadastrais ou clonagem do aparelho ou das redes sociais”, enfatiza Lucas.
Segundo dados fornecidos pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a utilização de e-mails e mensagens para obter, de forma ilícita, informações dos usuários aumentou 70% após a chegada da pandemia ao Brasil.
Como identificar o golpe?
Leonardo ensina a identificar e desmascarar um golpe dessa natureza. “É preciso analisar o que é oferecido ou pedido por parte do suposto comerciante”, começa. Ele elenca duas perguntas que o cliente deve se questionar:
- Você conhece, é cliente ou tem costume de frequentar o restaurante?
- O tipo de mensagem recebida corresponde com o perfil do estabelecimento?
“Caso a resposta para tais questionamentos seja afirmativa, ainda assim é necessário que (antes de fornecer qualquer informação) o consumidor verifique se o contato utilizado corresponde ao do estabelecimento. Igualmente, deve o consumidor checar se o endereço do site, e-mail ou Instagram corresponde à página original do restaurante”, orienta Leonardo.
Caso se observe alguma divergência diante de tais questionamentos, é necessário redobrar a atenção e fazer contato com o estabelecimento para confirmar a autenticidade do contato recebido. Sendo a resposta negativa, informá-los do ocorrido para que estes se manifestem alertando outros consumidores.
“Em hipótese alguma devem ser prestadas informações pessoais, códigos de autenticação do WhatsApp ou de qualquer outra rede social, muito menos dados bancários”, aconselha Rocha. O especialista também salienta que o cliente jamais deve efetuar pagamentos de boletos bancários ou transferências eletrônicas sem confirmar as os dados da conta objeto do recebimento.
O que o restaurante pode fazer?
Inicialmente, a empresa que teve sua identidade fraudada deve denunciar a página pela própria plataforma da rede social. “É preferível que a empresa utilize de todos os meios disponíveis para apresentar a denúncia ao provedor do conteúdo, seja por e-mail com confirmação de recebimento, ou qualquer outra forma disponha”, indica Lucas. Em seguida, o estabelecimento deve alertar aos clientes.
Caso a rede social não tome providências, Vieira orienta que é cabível o ajuizamento de uma ação judicial para que o magistrado determine a exclusão da conta, bem como o prazo para tanto. “Embora a plataforma não responda inicialmente por eventual conteúdo danoso, haverá a responsabilização se descumprida a decisão judicial para que o conteúdo seja indisponibilizado. Para tanto, a depender do valor da causa, o restaurante poderá fazer uso dos Juizados Especiais, inclusive sem a necessidade de constituir advogado”, comenta Lucas;
O profissional recomenda ainda que tanto aos restaurantes como aos clientes procurem as autoridades competentes, seja a autoridade policial ou até mesmo o juiz ou o Ministério Público para que noticiem o fato.