“Incomodou quem desumaniza pobre”, diz responsável por acarajé do MTST
Bia Souza doou 150 mini acarajés e 10 kits de acompanhamentos da receita baiana a um acampamento em que Wagner Moura exibia Marighella
atualizado
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“Acarajé para mim representa luta e resistência. É uma comida que a gente só conhece hoje porque muita gente resistiu e lutou por ela”, relata Bia Souza. A empresária, cozinheira e baiana do acarajé é dona do Acarajazz e foi a responsável pela doação do prato que Wagner Moura comeu em um acampamento do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MTST). Diversas pessoas, entre elas o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ), aproveitaram a imagem para tecer críticas ao movimento desde a última sexta (12/11).
“Incomodou as pessoas que a gente sabe quem são. (Pessoas) que desumanizam gente pobre”, observou Bia. E relembrou as imagens recentes de brasileiros catando ossos em caminhões, que ela disse não ter percebido tanta comoção por parte de quem teceu críticas agora.
Enquanto as pessoas se apegaram à imagem do ator e diretor comendo o que o filho 03 do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) definiu apenas como “camarão”, Bia Souza questiona como ninguém pensou no que havia por trás de toda a situação.
“Não se deram ao trabalho de pensar no contexto daquilo. No tema da noite, de que foi uma doação, no que seria aquilo ali, mas já usaram de bate-pronto um argumento fraco, raso, mesquinho e muito egoísta. (Argumento) que escancara o preconceito de classe e como eles pensam, de qual o lugar do pobre e no que o pobre deve comer”, observa.
Além disso, ela destaca também que “é lamentável que no Brasil as pessoas não batam o olho e reconheçam” um prato de acarajé.
Ao todo, a paulista com raízes baianas conta que doou 150 mini acarajés com acompanhamentos, o que equivale a 15 kits que ela vende no Acarajazz. Os kits são vendidos em uma petisqueira de plástico com porções de vatapá, caruru, salada de tomate, camarões e molho de pimenta e são servidos com 10 bolinhos de feijão fritos. Cada kit sai a R$ 45 pelo iFood e serve até duas pessoas.
Apoio ao movimento
Mas essa não foi a primeira vez que Bia Souza fez doações para acampamentos do MTST. De acordo com a baiana do acarajé, ela já tinha feito o mesmo em outra ocupação e considera isso um ato de solidariedade.
“É algo de gente como a gente. E a noite era de um baiano notório, ícone de luta, numa ocupação. O acarajé é o alimento que sintetiza toda a luta e todos os personagens do dia: o povo de luta, os coordenadores do MTST, a gente, o Marighella, o Wagner Moura e todo mundo que simpatiza e humaniza gente pobre. Que respeita e conhece a luta”, explica.
A cozinheira formada em gastronomia com bolsa de 100% de desconto pelo Prouni conta também que começou a se relacionar com o movimento em 2018. Ela chegou a trabalhar ativamente como brigadista e depois seguiu apoiando a causa.
De festivais a delivery
A empresa familiar comandada por Bia Souza começou pouco antes da pandemia como pequenos eventos gastronômicos. Quando conseguiu o dinheiro para reformar a casa e receber mais pessoas, veio a pandemia e um calote.
Eles foram lesados por uma empresa e acabaram não conseguindo concluir tudo que estava planejado. Após uma sequência de problemas e um tempo sem funcionar, voltaram a operar apenas como delivery na última semana.
De acordo com a empresária, eles agora vendem com ajuda das redes sociais e também pelo aplicativo iFood. “A gente divulga como pode e a crítica tem sido ótima”.
Menu à brasileira
Além dos kits de acarajés, o Acarajazz conta com outras receitas que serão incluídas aos poucos no menu. Entre as delícias baianas estão o abará, “irmão” do acarajé; moqueca e arroz de camarão. Mas o orgulho da casa é a exclusiva Coxinha de paella com maionese de goma de tapioca e tucupi.
“A gente tem muito orgulho, porque reúne sabores e ingredientes do Norte e do Nordeste”, conta Bia.
Quem quiser provar o tempero baiano do Acarajazz pode fazer as encomendas pelo WhatsApp no número (011) 97956-4494. A empresa atende na região de Jabaquara, Zona Sul de São Paulo.