Vinhedo em pleno Lago Norte pode dar até 6 toneladas de uva por safra
O parreiral é resultado da determinação do consultor de projetos Renato Borges, que mantém a plantação com ajuda de um único funcionário
atualizado
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A paisagem lembra a Serra Gaúcha, região de vinhedos no Sul do Brasil, mas fica a 25km da Esplanada dos Ministérios, na Zona Rural do Lago Norte. Ali, a cinco minutos do Posto Colorado, o consultor de projetos Renato Borges ergueu, em um terreno de 1/4 de hectare, um parreiral capaz de produzir até 6 toneladas de uvas por safra.
São 300 parreiras, cada uma podendo dar até 20kg. Renato dividiu o vinhedo em quatro partes. A poda seletiva das árvores determina a quantidade de produção. Atualmente, um quarto do vinhedo produz de cada vez. “É um projeto pequeno, que não merece virar um estresse”, ele explica.
Impressiona o fato de as videiras vingarem num terreno pedregoso e acidentado em pleno cerrado. São também de causar admiração a firmeza dos cachos e o doce das frutinhas — que brotam duas vezes por ano, em julho e dezembro.Uva para dar e vender
Há três anos é realizada colheita de uvas do tipo Izabel e Niagara rosada e branca. Nas duas primeiras safras, sem ter um plano muito definido do que faria com o produto, Renato Borges acabou doando cachos e mais cachos para instituições beneficentes e amigos.
Hoje, parte das frutas colhidas é conservada em forma de passa e polpa. Doações ainda são feitas, mas as Uvas Terra Santa, como foram batizadas, chegaram também ao mercado. Podem ser compradas nas prateleiras do Bioon, loja de produtos naturais e orgânicos, que fica na 303 Norte.
No princípio, era um nada
Quando adquiriram a propriedade de 4 hectares hoje chamada carinhosamente de Sitioca, Renato e a mulher, a jornalista Cláudia Miani, se sentiram desafiados. “Aqui não havia nada. Achavam que eu tinha feito uma loucura. Mas minha convicção é que era só uma questão de tempo”.
De tempo e de muito trabalho. Então funcionário do Banco Central, o consultor de projetos se dividia entre o emprego e a labuta no terreno. Habilidoso, “um Professor Pardal”, como diz Cláudia, construiu ele mesmo um pequeno lago, uma ponte pênsil, foi plantando árvores frutíferas e dando forma ao local.
Uvas no lugar de avestruzes
Ao mesmo tempo, se encantou pela possibilidade de criar avestruzes (isso antes que a Avestruz Master chegasse para dominar o mercado). Um grupo de colegas de trabalho se juntou a ele, como sócios. Mas o negócio acabou não vingando e ficou lá o terreno, antes ocupado pelas aves.
“Aquilo me incomodava. Consultei a Emater e eles aconselharam fazer reflorestamento. Mas pensei que gastaria o mesmo se resolvesse cultivar uvas”. O vinhedo foi erguido, então, no piquete onde antes corriam avestruzes.
O que estamos colhendo é um forma de agradecer tudo que temos ao redor, a qualidade da terra. A irrigação natural tem esse ciclo, essa bio-harmonia que faz com que tudo ali se desenvolva
Terra fértil e generosa
Cláudia se encanta com a fertilidade da terra que inspirou o nome das uvas. “Uma amiga falou: ‘mas Terra Santa parece coisa de igreja!’. Gente, mas essa terra é santa mesmo… (risos)”. E tem razão. Ali, além de uvas, cresceram pés de graviola, manga, cacau, sapoti, juá, canela, cravo… “Tudo sem agrotóxico, naturalmente”, diz.
Para o marido, o cultivo de uvas teve a vantagem de envolver a família em “um negócio real” e poder mostrar às filhas a possibilidade de se desenvolver um projeto. “Acho que isso ajuda na maturidade delas”. Refere-se a Giulia, 19 anos, e Flávia, 22, estudantes de arquitetura e fisioterapia, respectivamente.
Um próximo passo é conseguir a certificação de orgânico. “Há lojas que só aceitam produtos orgânicos certificados”, explica Renato. Vencido esse detalhe, as Uvas Terra Santa têm tudo para fazer história.