Tempero millennial: conheça a nova geração da gastronomia brasiliense
Jovens assumem as panelas e dão um sabor mais moderno e diversificado à cena da capital
atualizado
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Misture uma porção empreendedora a um propósito e um terço de engajamento. Adicione uma fatia generosa de conexão às redes sociais, além de uma dose extra de paixão pela comida. Voilá: tem-se o perfil da nova geração de brasilienses envolvida com gastronomia.
Ansiosos para fazer a diferença, seja na inovação de seus projetos ou na performance de suas marcas e casas, eles têm em comum o desejo por experiências que resgatam memórias afetivas; valorizam produtos e produtores de Brasília e do Brasil; e pensam em novos formatos de oferecer, harmonizar, entender e comercializar comida (e bebida) no Plano Piloto, Entorno e em outros estados.
Confira seis histórias de gente que está reformulando o segmento na capital:
Gustavo Guedes (Mixologista e proprietário do Balcão 86)
Vencedor do 1º lugar na categoria Food Pairing, do World Class Competition 2017, a maior disputa de bartenders do mundo, Gustavo Guedes, 31 anos, é um dos melhores mixologistas do país.
Autodidata e dono de estilo próprio, ele acompanha de perto a cena de bares e coquetelaria da cidade. “A cada semana surge uma nova opção em Brasília. Hoje temos nomes fortes no cenário brasiliense e não me surpreendo se em poucos anos emparelharmos com São Paulo”, aposta.
O primeiro contato profissional com o universo das bebidas ocorreu quando trabalhava em eventos. Há dois anos, o então estudante de Nutrição recebeu um convite para assinar a carta de drinques do restaurante Nakombi, especializado em comida japonesa. O resultado foi bem recebido e, atualmente, ele é responsável pelos menus do Contê Food & Drinks, Otramanera Cocina Latina, Bar Fora do Eixo, Saveur Bistrot, Rio Bistrô e Lounge e Cantucci Bistrô.
Conhecido pela pegada autoral, o mixologista valoriza ingredientes e sabores nacionais. “O Brasil me inspira e me fornece o necessário para proporcionar uma experiência completa que une coquetelaria, gastronomia, lazer e socialização na forma de um ritual”.
Marcus Vinícius de Oliveira (Sócio da Tomatzo, rede de fast-food)
Formado em Desenho Industrial, na UnB, o brasiliense Marcus Vinícius de Oliveira, 26 anos, é um dos empresários à frente da rede de fast-food Tomatzo, eleita a 25ª melhor franquia de comida rápida do Brasil pela revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios.
Empreendedor, o jovem diz que desenvolveu uma relação mais próxima com a comida após experimentar o vegetarianismo. Já o envolvimento com a marca começou em 2013, quando deu início a uma consultoria na área de comunicação da Tomatzo. “A estratégia foi reformulada e acabei me tornando sócio do projeto. Larguei um emprego formal e me joguei de cabeça na oportunidade. Hoje estamos indo para a oitava unidade; empregamos 80 pessoas, entre franqueados e funcionários; e faturamos R$ 5 milhões”, conta.
Millennial assumido, ele cuida pessoalmente das redes sociais e procura entender os processos e as origens de tudo que consome. “Nosso slogan ‘Sabor de Casa’ não foi criado por uma agência de marketing. Ele nasceu nos comentários dos posts nas redes, ou seja, foi validado pelo cliente”, revela.
Antenado, Marcus acompanha de perto as tendências do mercado. “A alimentação saudável está em alta. As pessoas querem comer de forma mais consciente, se sentirem satisfeitas, mas não desejam perder o sabor”, aponta.Em expansão, a marca vai inaugurar mais 3 unidades até o fim do ano, além de finalizar os preparativos para desembarcar em São Paulo. “Vamos abrir a primeira operação fora de Brasília no começo de 2018”, antecipa. “Somos parte da geração que está criando uma identidade cultural na cidade e gastronomia é cultura”.
Ariela Lana (proprietária do IVV Swine Bar e Cozinha IVV)
Apaixonada por gastronomia, Ariela Lana Nobre, 31 anos, está à frente do IVV SwineBar ao lado do chef Eduardo Nobre. Foi para acompanhar o marido que a capixaba abraçou o lado gourmet da vida e começou a pensar em projetos na área.
Meu hobby era cozinhar para os amigos durante os finais de semana, mas nunca me imaginei profissionalmente lidando com esse mercado. Abrimos o IVV em 2016, e o ambiente me envolveu de vez. Eu queria ir além de dar pitacos, queria estar 100% no negócio.
Ariela Lana
Consumidora crítica, Ariela lembra que a motivação para abrir o wine bar foi a falta de locais com bom serviço e proposta descontraída na capital. Em 2017, eles alugaram um ponto vizinho ao IVV e apostaram no primeiro coworking de gastronomia de Brasília. Batizado de Na Cozinha, o empreendimento é uma cozinha completa — mais salão para 50 pessoas — aberta a chefs profissionais e amadores que queiram usá-lo mediante aluguel.
“Percebemos que muitos estudantes de gastronomia e clientes não tinham um espaço para testar suas habilidades e criar receitas, então montamos a estrutura”, explica.
Chef Paulo Tarso (Mosaico Restaurante)
Chef-parceiro da marca francesa Le Creuset, Paulo Tarso, 31 anos, caiu nas graças dos brasilienses após criar o curso de culinária que leva seu nome. Com uma proposta informal e pegada jovem, ele é uma das principais apostas da cena gastronômica da cidade.
Após cursar um ano de Gastronomia no IESB, Paulo se mudou com a família para os Estados Unidos. Passou sete anos no exterior, entre América e Peru, e se formou em Artes Culinárias pelo The Culinary Institute of America em Nova York, considerada a melhor faculdade de gastronomia do mundo, e em Food & Beverage Management e Hospitality pelo Montgomery College, na Virgínia.
O retorno para Brasília foi em 2014 e, desde então, ele tem um propósito: entregar algo autoral para a cidade, como tem sido no restaurante Mosaico, inaugurado há poucas semanas no Lago Sul. “O público brasiliense é exigente, mas o mercado, não. Vejo que as pessoas sabem escolher bons pratos, avaliar os locais, mas como as casas sempre servem a mesma coisa, os consumidores acabam se habituando a comer o de sempre e não buscam variedade. Quero quebrar esse círculo vicioso e estou trabalhando para isso”, afirma.
Com forte presença nas redes sociais, Paulo explica que usa o perfil pessoal no Instagram para promover seu trabalho com o curso e sua visão de mundo. “Cuido pessoalmente da minha conta e do perfil do restaurante Mosaico porque acho que transparece muito minha personalidade e minhas crenças. É um envolvimento orgânico”.
Rick Emediato (Ricco Burger)
Produtor cultural e empreendedor, Rick Emediato se uniu ao empresário Ricardo Sechis, da Beef Passion; e à chef Renata Carvalho; do gastropub Loca Como Tu Madre, para ampliar seus horizontes.
Lançada na última edição do Na Praia, a marca Ricco Burger chamou atenção por testar o mercado antes mesmo de abrir as portas do ponto físico. Essa estratégia, acompanhada do sucesso do milkshake do Bolo da Ivone, acabou criando uma grande expectativa para o estabelecimento, com inauguração oficial prevista para novembro, na quadra 306 sul.
“A experiência no Na Praia funcionou como uma plataforma de marketing agressivo, que atingiu 210 mil pessoas. As redes sociais foram lançadas na mesma época e todos os sócios acompanharam a performance do produto em tempo real com o consumidor”, conta Rick. Nesses meses que antecedem a abertura da loja, os sócios têm trabalhado na “manutenção da saudade” para se manterem presentes na memória do cliente.
“O nome Ricco Burger veio dessa vontade. Rica no sentido de que o cliente vai saber informações variadas a respeito de nutrientes, da procedência da carne, do pão e do molho do burguer”, explica Rick, que tem no currículo passagens por restaurantes e bares com perfis diversos como Cabana da Árvore, Miau que mia, Pipa e Botequim Leblon.
Entre as novidades da casa, que vai operar com série de produtos orgânicos, estão o hambúrguer do mês (alterado a cada 30 dias); um burger vegetariano; e um refresco orgânico gaseificado. “A geléia de pimenta que vamos oferecer é feita à mão pela minha mãe e juro que é uma delícia”, brinca.
Carol Oliveira, Gustavo Bill e Bernardo Mota (sócios-proprietários da Mercearia Colaborativa)
Frequentadores de eventos ao ar livre e feirinhas alternativas, Carol Oliveira, 32 anos, Gustavo Bill, 33 anos, e Bernardo Mota, 32 anos, tinham um dilema em comum: eles queriam ter acesso a produtos artesanais vendidos nos eventos com maior regularidade. Da demanda pessoal, surgiu a ideia para a Mercearia Colaborativa, loja coletiva onde expositores diversos vendem seus produtos.
Com um ano de funcionamento recém-completado, e 55 expositores no acervo, é possível comprar no local pães, cafés, cervejas, brownies, queijos, linguiças, cookies, vinhos, massas, molhos, snacks e iogurtes de produtores brasilienses. “Nossa função é administrar, fornecer um ponto de vendas físico com estrutura e visibilidade para o pequeno empreendedor e criar um canal de acesso permanente ao público”, afirma Bernardo.
O que eles valorizam? “Inovação, qualidade, comprometimento e consumo consciente”, pontua Gustavo. “Um dos nossos diferenciais é humanizar os produtores. Trazemos os fornecedores para realizar eventos na loja e estreitar os laços com os consumidores. Acaba virando o “queijo do Pedro”, “o pão do João”, o “cookie da Ana” e essa interação é muito bacana”, completa Bernardo.
Eles afirmam que existe demanda para outras operações no modelo da Mercearia e acreditam no futuro do negócio. Uma etiqueta própria também está sendo desenvolvida para 2018: “Vamos lançar produtos da Mercearia”, antecipa Carol.