ReFazenda cultiva mudas e faz comidinhas de plantas não-convencionais
Grupo de amigas busca, por meio de participação em feiras, informar o público sobre as muitas opções de plantas comestíveis pouco conhecidas
atualizado
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Basta olhar em volta. As PANC (plantas alimentícias não-convencionais) estão em muitas paisagens, mas costumam ser ignoradas. Podem parecer só mato, mas nas mãos certas essas plantinhas recebem o manejo adequado e viram ingredientes dos mais variados quitutes.
Dispostas a levar o conhecimento das plantinhas não-convencionais ao maior número possível de pessoas, as amigas Bruna de Oliveira, Daniela Messias, Layane Carvalho e Mayara Jacob se associaram e criaram a ReFazenda.
Mais que uma pequena empresa, a ReFazenda é um projeto. “As pessoas querem entender mais sobre as plantas. Há essa busca. Mas percebemos a existência de uma lacuna entre a dúvida do público e quem tem o conhecimento. Não há esse encontro de informações”, afirma Bruna.
Nosso trabalho, principalmente por meio da participação em feiras, auxilia em disseminar o saber ancestral que está por trás do uso de plantas não-convencionais e reduz esse desencontro
Bruna de Oliveira
Apesar do nome curioso, as PANC não são algo de outro mundo. A maioria delas vive nos quintais, esquecida, ou até serve de cerca viva. Malvavisco, ora-pro-nóbis, fruta-pão, bertalha e major gomes são exemplos. Mas até o inhame e alguns tipos de chuchu também podem ser considerados plantas não-convencionais.
Trabalho em equipe
Daniela, Layane e Mayara cursam faculdade de ciências ambientais na Universidade de Brasília (UnB). A gaúcha Bruna é formada em Nutrição pela UniSinos. Atualmente faz mestrado na UnB. O trabalho das quatro é todo feito na fazenda do avô de Layane, em Santo Antônio do Descoberto.
Todas fazem tudo. E o trabalho da ReFazenda chega ao público principalmente por meio de feiras e venda de mudas da estação. Além disso, sempre que possível, elas preparam e vendem comidinhas.
ReFazenda vem de re-fazer. A fazenda estava abandonada, e o trabalho de cultivar as plantas não-convencionais está auxiliando na recuperação de mata nativa e de recuperação do solo. Cultivar PANC só traz benefícios
Layane Carvalho
Entre as receitas preparadas, estão manjar de inhame com coco, pastas de vinagreira e major gomes, geleia de malvavisco, rapadura de capim santo, cupcake de bertalha e laranja, falafel de feijão guandu.
O grupo garante priorizar a forma orgânica de cultivo. De acordo com elas, é crucial respeitar o tempo da natureza. “As PANC são plantas bem mais fáceis de manejar, de crescimento espontâneo, resistem bem a pragas e à escassez hídrica. Mas ainda assim é necessário compreender que elas têm seu tempo próprio de florescer. Então os itens do cardápio nunca são os mesmos. Depende da natureza”.
De 15 em 15 dias, aproximadamente, as meninas participam de feirinhas onde vendem os quitutes e as mudas. “Não estamos na lógica do lucro pelo lucro. Gostamos de pensar mais em colaboração e partilha”, afirma Layane.
Para fortalecer ainda mais o movimento, a ReFazenda organizou a 1ª Feira PANC de Brasília, no Faz Bem, em fevereiro de 2017. No próximo dia 25/3, elas participam de duas feirinhas simultâneas, a Canteiro da Quitanda, no Ernesto Cafés Especiais (115 Sul), e o Mercadinho do Brasília, no Brasília Shopping.
Enquanto isso buscam um lugar para a 2ª Feira PANC e esperam convites para participar de feiras itinerantes. Em parceria com o Instituto Federal do DF, as sócias da ReFazenda estão participando da elaboração de um seminário sobre PANC, a ser realizado em junho, o 1º HortPanc – Encontro Nacional de Hortaliças Não Convencionais.
Um feliz encontro
Cada uma das quatro integrantes a ReFazenda carrega uma história de amor pela terra e pela natureza. As estudantes de ciências ambientais Daniela e Layane tiveram os primeiros contatos com as PANC na Embrapa, estagiando na pasta responsável por hortaliças. As estudantes também contaram com o apoio do professor Nuno Madeira, que sempre deu apoio ao trabalho da ReFazenda.
Bruna trabalhou com as PANC em Ilha das Flores, Rio Grande do Sul. Ativista do movimento Other Food, Bruna fez projetos sociais no colégio de Ilha das Flores com as crianças da comunidade. Após a graduação, em Brasília, conheceu as três colegas, e, juntas, acabaram por unir o útil ao agradável.
O encontro das quatro, de acordo com elas, foi divertido. “Estávamos em um evento. Eu sempre fui apelidada de ‘a louca das PANC’. Nesse local, uma pessoa descobriu e perguntou: ‘Você trabalha com PANC? Elas também. Nossa! Vocês precisam ser amigas!’ Acho que funcionou, continuamos grudadas até hoje…”, conta Bruna.
Após muitas conversas e muito trabalho, a ReFazenda começou a atuar. E, se depender das quatro, os saberes tradicionais da roça e as plantas não-convencionais serão cada vez mais difundidos e valorizados.
ReFazenda
Contato pelo telefone 99830-7965. Agenda do grupo sempre atualizada pelo Facebook.