Memórias afetivas com meu pai que me fizeram amar a arte de cozinhar
Apesar do meu velho não se aventurar muito nas panelas, teve grande influência na minha carreira. De quebra, compartilho uma receita dele
atualizado
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Ao contrário de muitos cozinheiros, eu não tive uma família muito ligada à gastronomia doméstica. Meus pais não cozinham; minha avó materna, por conta de uma história pessoal triste, evitava cozinhar; minha outra avó mora do outro lado do país; e ainda assim, ironicamente, nasci com essa vontade.
Apesar de ninguém cozinhar de fato, um dos maiores gastos do meu pai conosco, depois de educação, foi com alimentação. Aliás, injusto chamar de alimentação, era com gastronomia mesmo.
O velhinho é um amante incondicional desta arte, sempre fez questão de nos levar a restaurantes dos mais diversos, do caseiro ao sofisticado. Neles nos explicava tudo o que podia sobre os pratos, os preparos e suas histórias. Em casa também fazia questão de compartilhar seu conhecimento sobre os ingredientes, das mais diversas origens.
Outra coisa que me lembro de ter aprendido com meu pai é a valorização do momento à mesa. Queria ver o Marco irritado, era ler na mesa ou assistir TV ao invés de aproveitar o momento. A reunião da família para comer era mais do que alimentar-se, era uma experiência, tanto social quanto gastronômica.
As viagens em família e festividades sempre envolviam uma experiência gastronômica com destaque para as comidas e bebidas. Com ele aprendi diversos preparos clássicos, ingredientes e sua especialidade, vinhos. Tudo que sei sobre vinhos é graças a ele: sabores, aromas, tipos de uva, enfim, tudo.
E assim eu fui pegando interesse por mais que consumir, mas também fazer. Comecei brincando de cozinhar em casa, depois meu pai foi me matriculando em cursos, me estimulando a cozinhar e ajudando como podia e, por fim, me apoiou em minha exoneração de um concurso público para me dedicar ao trabalho na cozinha, uma carreira difícil e mal paga.
Por isso sou muito grato. Sempre acompanhou de perto minha carreira, com orgulho, dando sugestões e mostrando interesse em tudo.
Finalizo esse artigo especial de Dia dos Pais com uma memória afetiva que ele preparava para gente nos fins de semana à noite: um simples e delicioso peito de frango com macarrão ao alho e óleo. Já aviso ao seu Marco que vou fazer minhas alterações na receita original com uns bizus. Confira:
Ingredientes
– 2 peitos de frango grandes
– 1 cabeça de alho cortada em lâminas
– 1 dente de alho amassado
– 400g de espaguete
– Azeite, sal e pimenta do reino quanto bastem
– 2 cravos
Preparo
Coloque para ferver uma panela com água, sal e os cravos. Limpe os peitos de frango, tirando o tendão e cortando cada um na metade da espessura. Tempere com sal, pimenta e um dente de alho amassado. Coloque a massa para cozinhar até que fique al dente.
Grelhe os peitos de frango até que fiquem dourados dos dois lados. Se necessário, faça um pequeno corte para garantir que não estão crus. Em uma frigideira, com azeite e em fogo médio, refogue as lâminas de alho até que fiquem transparentes, mas ainda não douradas, adicione a massa, jogue mais azeite e deixe até que o alho doure, coloque uma concha de água do cozimento e deixe em fogo alto até que quase evapore.
Sirva imediatamente.