Delivery de bike: entregadores em bicicleta dominam ruas de Brasília
Empresas abriram o leque de trabalhadores e têm a “modalidade magrela” para percursos mais curtos
atualizado
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O delivery está aquecido no Brasil – uma estimativa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) indica que o mercado movimenta cerca de R$ 10 bilhões anualmente. A tecnologia dos aplicativos de celular tornou o ato de “pedir comida” muito mais simples. O crescimento da demanda gerou nova preocupação nas empresas: como conseguir entregar os pedidos com agilidade e atrair novos profissionais ao ramo.
O trânsito das grandes cidades brasileiras, no entanto, não colabora com a rapidez das entregas motorizadas. As motos, veículos mais ágeis que os carros, representa um risco: estiveram envolvidas, só no ano de 2015, em 12,1 mil acidentes fatais no Brasil, segundo o Observatório Nacional de Segurança Viária. Assim, as bicicletas têm ganhando cada vez mais adeptos – unem a possibilidade de uma renda extra com a prática de atividade física.
Em algumas capitais, como São Paulo, há empresas especializadas em realizar entregas de qualquer produto com bikes. A gigante do varejo Netshoes, por exemplo, percebeu crescimento de 400% nessa modalidade em 2018. A tendência chegou a Brasília e conquista espaço no mercado da alimentação.
À primeira vista, eles parecem entregadores como outros quaisquer. O que denuncia é o capacete: em vez de proteger todo o rosto, o adereço cobre apenas o topo da cabeça. “Quando o cliente vê equipamento de ciclista, logo pergunta se cheguei ali de bicicleta. Não acreditam na rapidez do serviço. Alguns percebem que a entrega foi feita de bike e já abrem aquele sorriso”, descreve Ulysses Castilho, 24 anos, entregador da Rappi.
O rapaz, recém-formado em administração, encontrou no aplicativo uma fonte de renda enquanto não consegue um emprego na área. Durante todo o ensino médio e o superior, Ulysses se locomoveu pela cidade com sua magrela. “Gosto muito de andar de bicicleta e, quando vi que esses aplicativos dão a opção de fazer a entrega de bike, fiquei maravilhado com a ideia de ganhar dinheiro pedalando”, lembra.
Na rua ou na calçada
Mesmo com ciclovias pela cidade, Ulysses prefere andar na rua: ali, consegue atingir velocidades que a instabilidade das calçadas adaptadas não permitem. “Esse modelo de entrega está sendo um processo muito importante para o trânsito perceber a bicicleta. Os motoristas respeitam quem carrega esse mochilão nas costas, estou com mais coragem de pegar as pistas agora”, conta o jovem, que pedala até seis horas por dia.
Quando Ulysses estava aprendendo a se equilibrar em sua primeira bicicleta, Romeu de Macedo, 51, já pedalava em busca de um bom condicionamento físico. Com duas décadas de pedal nas costas, o morador de Sobradinho concilia o trabalho diurno como atendente em uma loja de artigos esportivos com as entregas para a Uber Eats à noite. “Eu já gosto de pedalar, ser remunerado por isso é melhor ainda. Entrei nessa para complementar renda”, conta.
Romeu trabalha com entregas, em dias úteis, das 19h à meia-noite. Aos sábados, ele começa o expediente às 15h e, aos domingos, pega no batente às 10h. Em meses mais movimentados, chega a pedalar 45 quilômetros por noite. “É tudo de bom, né? Imagine fazer uma atividade que você gosta, ser remunerado, conhecer gente diferente. Vou ao estabelecimento, convivo com o atendente. Daí levo para a casa do cliente e ele abre um sorrisão quando me vê na bike. Me olham como se eu fosse um bicho de outro mundo, até me dão gorjeta”, diverte-se.
O veterano concorda com Ulysses: as pessoas estão começando a entender que a bicicleta não serve apenas para lazer e condicionamento físico, mas é um meio de locomoção. “Para mim, é corriqueiro, mas isso ainda está engatinhando no Brasil. As coisas estão mudando para melhor”, afirma. Animado com o retorno ao pedal, Romeu tem um plano a longo prazo: manter-se exclusivamente com o trabalho de entregador e se dedicar ao preparo físico para competições de bicicleta.
Entregas em Brasília
Por enquanto, somente Uber Eats, Glovo e Rappi dão aos entregadores brasilienses a possibilidade de trabalhar pedalando. O iFood está testando o modelo em São Paulo e planeja trazer a modalidade para a capital em breve, mas ainda não há data para isso.
Nenhuma das empresas informou quantos entregadores em bicicletas empregam em Brasília. Questionada sobre o tempo de entrega, a Rappi disse que esse fator não é de grande influência – a diferença entre a bicicleta e a moto é de minutos. A opção não motorizada atende apenas a distâncias mais curtas.
Esses trabalhadores recebem por entrega, como se fosse uma corrida de aplicativo: quanto mais entregas, mais dinheiro. O cliente também pode dar gorjeta caso queira.