Conheça Talal, refugiado sírio que doa marmitas a idosos em SP
Ele está no país desde 2013 e quis retribuir a hospitalidade brasileira com uma boa ação: cuidando de idosos e vulneráveis
atualizado
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Viver em uma situação de exceção, como uma guerra ou a atual pandemia do novo coronavírus, desperta em muita gente senso de coletividade e de solidariedade – algo que não se vê todos os dias. No caso do sírio Talal Al-Tinawi, que se refugiou no Brasil para escapar dos conflitos em seu país natal, ajudar quem precisa em tempos de isolamento social foi uma forma de retribuir a acolhida que recebeu por aqui.
“Durante a guerra, por causa das bombas, a gente tinha de ficar em casa. Sei como esse tipo de situação é difícil para o idoso: eles necessitam de alimentação e de cuidados. Por isso, começamos a trabalhar com eles, porque são as pessoas que mais precisam nesse momento. Quando cheguei, os brasileiros me ajudaram muito, e quero fazer algo em troca para agradecer este povo que me acolheu”, comenta o refugiado.
Desde o início do isolamento social em São Paulo, onde o imigrante vive com a família, Talal abriu mão de ganhar dinheiro vendendo comida síria e passou a investir em marmitas para serem doadas a idosos. Os pratos podem ser entregues quentes ou congelados: todos contam com charuto de carne ou vegetariano, arroz com aletria e alguma proteína, como kafta, quibe ou falafel.
Nas redes sociais, Talal compartilhou alguns retornos de moradores de São Paulo que buscaram auxílio e receberam as marmitas preparadas por ele e pela esposa, Ghazal Baranbo. Os pedidos vão desde um homem com mais de 60 anos que precisava de alguém para entregar comida na casa de sua mãe, que se encontrava sozinha há vários dias, até uma pessoa que solicitou ao casal sírio para levar uma marmita ao avô, que estava completando 88 anos de idade. “Agradeço de coração o seu gesto. Que Deus ilumine vocês todos”, escreveu pelo WhatsApp uma das pessoas ajudadas.
Por enquanto, Talal e Ghazal entregaram cerca de 300 marmitas em São Paulo. A iniciativa se popularizou nas redes sociais e o casal passou a receber ajuda financeira de internautas que se comoveram com a ação dos sírios. “O idoso não precisa pagar nada, basta receber a marmita. O nosso plano é continuar enquanto recebermos as doações. Ainda tem quem quer colaborar”, conta.
Quem quiser contribuir com a produção do casal de refugiados pode depositar qualquer valor na conta de Talal. Banco Itaú: agência 0772, conta 20928-4. Em caso de contato, enviar um WhatsApp para o número (11) 96622-1305.
Esfirra e coalhada
Engenheiro mecânico, Talal chegou ao Brasil em 2013 acompanhado da esposa e dos dois filhos. Por aqui, refizeram a vida e tiveram mais uma menina. Desde 2015, atuam no ramo de comida árabe. “Eu cozinhava em casa, com meus filhos. Era um hobby familiar, de sexta-feira. Só comecei a trabalhar com gastronomia depois que vim para cá”, lembra.
“Trabalho com encomendas de pratos sírios. Não existe fazer outra gastronomia, as pessoas querem cozinha árabe. Comida brasileira tem em qualquer outro restaurante”, comenta Talal. A paixão do brasileiro por pratos típicos do Oriente Médio é um trunfo para a família, que fazem delícias muito conhecidas por aqui, como esfirra e quibe cru.
Refletindo sobre o paladar dos clientes, Talal faz algumas ressalvas: “O brasileiro gosta da massa da esfirra mais grossa do que a nossa. Por aqui, é quase sempre certo: o brasileiro não vê a coalhada de outra forma que não seja doce. Nós comemos com quibe, com tudo, mas os clientes não aceitam”.