Com 56 anos de história, Pizzaria Dom Bosco escreve um novo capítulo
A marca, símbolo de Brasília, conquista clientes desde 1960 com a pizza de muçarela e molho de tomate acompanhada de chá mate gelado. Agora, já possui seis lojas na cidade. A mais nova, em um posto de gasolina
atualizado
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Há pouco mais de um mês, o posto de gasolina na altura da quadra 214, no Eixinho Sul, ganhou um agradável aroma, diferente do cheiro que vem das bombas de combustível. No gramado, próximo ao lava-jato, há mesinhas de madeira embaixo de um pergolado com plantas. Em um pequeno quiosque, o forno denuncia a origem do perfume: massa, muçarela, molho de tomate e orégano. A Dom Bosco, pizzaria símbolo de Brasília, tem nova loja funcionando a todo vapor.
Propriedade de Romero Veríssimo, o ponto dá continuidade à tradição desenvolvida ao longo de 56 anos pelo pai de Romero, Enildo Veríssimo Gomes. A pizza da Dom Bosco é famosa por ter um único sabor e ser acompanhada de chá mate gelado. No primeiro mês de funcionamento, com as 100 pizzas vendidas por dia, a loja já quitou todas as dívidas com investimento.
“Por ser um posto de gasolina, o público aqui é muito rotativo. Então, sempre tem muita gente consumindo”, diz Romero. O local foi adquirido por meio de uma parceria com amigos e veio como alternativa à outra pizzaria montada na 103 Sul. “O aluguel na 103 ficou muito caro, então uma amiga me ofereceu este ponto, onde antes era uma franquia de açaí. Superou as nossas expectativas”.
Assando pizza desde os 12 anos
Nascida com a capital, a pizzaria Dom Bosco se mantém firme e se espalha na cidade pelas mãos dos filhos e sobrinhos de Enildo. Mineiro e descendente de portugueses e italianos, ele começou a trabalhar com pizzas aos 12 anos de idade, na cidade de Araxá (MG). “Eu era balconista, trabalhei na única pizzaria da cidade até os 20 anos de idade, quando vim para Brasília”, conta o patriarca.
Ele viu Brasília ser construída e se estruturar enquanto metrópole. O primeiro emprego foi na cantina do Congresso Nacional. Depois, teve um trailer de lanches no Setor Bancário Sul. Em 1960, comprou a loja na 107 Sul onde montou a Dom Bosco.
Naquela época tudo se chamava Dom Bosco. Tinha mercearia Dom Bosco, sapataria Dom Bosco, lanchonete Dom Bosco e a nossa pizzaria, que era a única da cidade.
Inspirado pelo sonho do sacerdote, que anunciava Brasília como o Eldorado brasileiro, Enildo veio com o irmão para tentar construir uma nova vida. Às 5h, o jovem empresário saía de Ceilândia para abrir a loja e preparar a massa e o molho que seriam servidos ao longo do dia.
A loja abria às 7h — como faz até hoje. Oito funcionários, todos homens vindos de vários locais do DF, se revezavam entre caixa, forno e balcão. Ali se vendia de tudo: fumo, gilete, cigarros, rapé, pilha e pizza.
Na cidade em construção, onde os canteiros de obra dominavam a paisagem, era essencial se alimentar rápido para não perder tempo de serviço.
Quanto mais se trabalhava, mais ganhava dinheiro. Então as pessoas não sentavam, não tinha cadeiras, comiam de pé mesmo para voltar ao trabalho
Enildo Veríssimo Gomes
A receita da pizza, herança dos tempos em que trabalhava em Araxá, também veio da necessidade e da praticidade de ser executada. “É só queijo e molho de tomate. Essa receita é fácil de fazer e de ser guardada também, não resseca como calabresa, frango”. Com um forno industrial, em três minutos sai uma redonda suculenta e quentinha.
“Uma dupla e um mate”
Depois de 56 anos, o estabelecimento e a receita permanecem os mesmos, com a mesma variedade de mercadorias nas prateleiras disputando lugar com a imagem de Dom Bosco. As pessoas matam a fome em pé. “Uma dupla e um mate”, grita um cliente. Um funcionário dobra um pedaço de pizza em cima do outro enquanto outro homem enche um copo com chá gelado.
A rotina se repete de segunda a segunda, das 7h às 23h. Além da clientela fiel e do povo, por ali já passaram personalidades como Paula Toller, Nelson Piquet, Cássia Eller, Renato Russo e Maria Paula.
“Já estamos na quarta geração de clientes. Tem freguês que já tem bisneto”, diz Enildo orgulhoso da marca consagrada. Aos 70 anos, ele faz questão de continuar abrindo a loja e preparando a receita com a mesma disposição.
Franquia, não
Hoje, são seis lojas espalhadas pela Asa Sul, Asa Norte, Sudoeste e Águas Claras, todas sob responsabilidade da família, mas cada uma utiliza um CNPJ próprio para se desenvolver independentemente.
Já receberam propostas para abrir franquia ou levar a marca para outros estados do Brasil e até para o exterior, mas não aceitaram. “A gente preza pela tradição e pela qualidade, por isso a loja deu certo até hoje e preferimos manter com a família. A gente não sabe como terceiros trabalhariam”, ressalta Romero Veríssimo, na sua pizzaria do Posto 214 Sul.
Embora fiel à herança paterna, Romero adotou duas novidades no novo estabelecimento. Além da área externa, tem serviço de delivery, que atende Asa Norte e Sul, Lago Norte e Sul. A fatia de pizza sai a R$ 3, com uma taxa de entrega que vai de R$ 7 a R$ 15. Mesmo a mais sólida tradição vez em quando tem que ceder às necessidades dos novos tempos.