Artigo: vivemos a era das refeições “instagramáveis”
A importância que as redes sociais tomaram na escolha da comida está mudando os rumos desta indústria
atualizado
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Refeições sempre foram associadas a eventos sociais, principalmente fora de casa. O diferencial contemporâneo são as redes sociais. As pessoas passaram a escolher lugares e refeições que saem bem na foto e levam isso tanto em conta quanto à qualidade do produto. O movimento é tão forte que, atualmente, esses locais ganharam o adjetivo “instagramável”.
Antigamente, a forma de divulgação orgânica dos estabelecimentos era o boca-a-boca e, a única forma de conhecer a aparência de seus pratos, era pelo cardápio ou indo ao local. Agora, isso mudou, em havendo produtos interessantes visualmente, os próprios clientes passam a compartilhá-los e chamar atenção de novos, bem como anunciar hashtags que remetam a locais específicos.
Os ambientes são levados em conta para que suas características possam ser percebidas em qualquer clique, mesmo aqueles focados em comida. Isso é perceptível em alguns ambientes como o Paprica Burger e seus avisos nas paredes, e as texturas do conteiner que comporta a lanchonete; ou na iluminação e material característicos das mesas do Outback; bem como as paredes industriais com a pegada inacabada do Ricco Burger. São inconfundíveis em fotos. Alguns locais, como o Lah, também criam ambientes únicos, estimulando frequentadores a bater fotos em pontos únicos e estratégicos.
As refeições também tomaram um caminho diferente, passaram a ter formatos interessantes, apresentações que chamam atenção e abusam de cores. Um local onde esse movimento é claro é o Jacket Café, com seus cafés acompanhados de algodão-doce, torta de arco-íris e smore’s chamativos. Alguns investem em taças com decoração exagerada (que confesso não fazerem muito meu estilo) com o exterior coberto por calda e confeito, a exemplo da Stonia e do Genuína Burger.
Isso traz também um novo desafio aos chefs e cozinheiros, a combinação de sabores tem que combinar com as apresentações chamativas, principalmente para estabelecimentos mais sofisticados. Outro problema é a demora no consumo dos pratos, quando chefiava no Rio de Janeiro, presenciei uma mesa. Os clientes tomaram, no relógio, seis minutos para começar a iniciar seu jantar porque tiravam fotos de seus pratos, trocavam os pratos de lugar, mudavam a luz. Essa prática acaba prejudicando o ponto, pois nenhum prato é feito para esperar tanto tempo antes de ser consumido.
Fato é que aparentemente esse movimento veio para ficar e o mercado gastronômico precisa se adaptar a essa nova demanda. Quem não correr atrás acabará perdendo espaço.