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Artigo: precisamos entender os alimentos que chegam à nossa mesa

Escancaro aqui alguns processos que levam alguns insumos aos supermercados. Resta a nós avaliarmos se valem seu consumo

atualizado

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bezerro com pais
1 de 1 bezerro com pais - Foto: Pixabay

Toda vez que alguém mostra o — aparentemente — óbvio para a população surge um movimento de revolta e repulsa. Pois bem, vou me arriscar: a carne animal vem, oras, de animais, Isso ocorreu quando Rodrigo Hilbert abateu uma ovelha em seu programa e ou quando Fogaça postou um porco morto em seu Instagram. Pode parecer loucura, mas até mesmo cozinheiros perderam contato com a realidade. Carne e produtos animais foram completamente separados em nosso subconsciente de suas reais origens.

Paola Carosella sempre ressalta a necessidade do respeito com a carne e o animal, utilizando o máximo de suas partes e tratando cada preparo com o devido respeito – afinal, foi necessária uma vida para gerar aquilo. Outro defensor dessa tese é Jefferson Rueda, da Casa do Porco, que faz questão de usar todas as partes do suíno, além de propor seu cultivo. Concordo com ambos, e pode parecer ridículo, mas uma coisa que faço sempre questão de não deixar no prato, independentemente de mal preparo ou quão satisfeito esteja, é a proteína animal, justamente por respeito.

A crueldade mais divulgada

O mais latente caso de crueldade será o primeiro a ser citado: o foie gras, ou fígado gordo, em francês. O ganso ou pato é engordado a força por um tubo em sua garganta com uma ração extremamente gordurosa, fazendo seu fígado aumentar de tamanho e tornar-se amanteigado. Essa iguaria francesa é contestada em vários lugares do mundo, entretanto, atualmente, já há produtores capazes de produzi-lo naturalmente, engordando as aves selvagens e sem alimentação forçada. Resulta em um produto menor, de melhor qualidade e preço mais elevado (acima dos usuais R$ 400 por quilo do tradicional).

O sofrimento não percebido

Uma das maiores crueldades não costuma ser divulgada ou percebida, que é de animais marinhos, sejam peixes, crustáceos ou cefalópodes (polvos e lulas). Caso sejam de pesca, sua morte normalmente se dá por asfixia, desidratação ou congelamento. Crustáceos por muitas vezes são jogados vivos em água fervente, como é o caso da lagosta. Se forem de criadouro, a situação piora, os animais são mantidos em tanques pequenos e, na hora do abate, entorpecidos em tanques gelados (leia-se processo de congelamento, pois chegam a 0ºC).

Os conhecidos

Vitelo é outro caso clássico: normalmente bezerros machos oriundos de raças leiteiras são destinados a esse mercado por não produzirem leite. Ele é mantido em um ambiente pequeno o suficiente para não conseguir virar-se, evitando que se exercite, e recebe apenas leite ou fórmula até atingir os cinco meses, idade do abate. Sua alimentação é carente em ferro, para gerar uma carne rosa: essa deficiência leva o filhote a, por necessidade do nutriente, procurar materiais ferrosos para roer, então até as baias são feitas de madeira. Única forma de evitar essa crueldade é, caso o fato de ser apenas um bezerro não o incomode, comprar vitelos de carne vermelha, isso garante que o animal foi alimentado adequadamente e com pouco confinamento.

Porcos são outros que costumam ser mantidos em espaços extremamente restritos e sem preocupação com higiene, única solução é comprar animais de produtores que divulguem suas formas de criação e permitam visitação no criadouro.

Frangos e ovos são uma questão já conhecida e amplamente divulgada. Primeiramente, esqueça o terrorismo dos hormônios, esses animais não os recebem, são amplamente testados, porém ficam em galpões minúsculos e tem o dia e noite controlados artificialmente por iluminação interna dos balcões, fazendo com que “naturalmente” eles cresçam mais rapidamente (o organismo da ave é enganado com dias e noites mais curtos, desenvolvendo-as em menos tempo).

Para ovos, então, a nível de comparação, em granja cada animal bota 300 ovos por ano, enquanto o natural é cerca de 80. A solução para isso é comprar apenas aqueles oriundos de galinhas de criação livre. São normalmente identificadas na embalagem. Para saber se o abate é humanizado, é necessário consultar o produtor.

Gado

A carne de gado hoje em dia é a mais fácil de se evitar crueldade, na verdade. E não digo isso porque o agro ficou bonzinho, mas sim porque gado maltratado resulta em carne de pior qualidade. Bovinos que sofram stress durante a vida e até mesmo percebam estar indo para o abate, geram um produto mais rígido e de sabor desagradável. Solução é comprar apenas de frigoríficos premium, muitos até deixam disponíveis câmeras de seus rebanhos.

Por fim, não estou dizendo que qualquer um deva mudar sua alimentação, apenas expus aqui a realidade de muito do que chega às nossas mesas através de belas embalagens nas gôndolas dos supermercados. Cabe a nós termos a consciência da origem e nível de crueldade (se consideramos aceitável ou não) e avaliarmos se vale a pena seu consumo. É necessário esse contato com o alimento.

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