Chefs estrangeiros revelam motivo para morar em Brasília: “Liberdade”
Brasília celebra 63 anos nesta sexta-feira (21/4) e faz parte da história de estrangeiros que elegeram a capital como lar
atualizado
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Comemorando 63 anos, Brasília foi projetada para ser a capital do Brasil. O projeto encabeçado por Juscelino Kubitschek teve início em 1956 e, desde a inauguração, quatro mais tarde, a capital conquistou o coração não apenas dos brasileiros, mas de estrangeiros que procuraram exílio ou uma nova vida em solo tupiniquim.
“Brasília é meu tudo. É minha casa, é meu lar. Eu criei raízes aqui”, elucida David Lechtig, chef e empresário à frente do El Paso Cocina Mexicana. O sotaque entrega que ele é um dos milhares de imigrantes vivendo no quadradinho. Segundo dados do Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), 17.260 pessoas migraram para o Distrito Federal entre 2015 e 2020.
Em celebração ao aniversário da capital do país, o Metrópoles conta a história de dois chefs que escolheram Brasília para criar raízes.
Da Guatemala à Brasília
De nacionalidade peruana, David morou parte de sua infância e adolescência na Guatemala, mas foi em Brasília que encontrou um local para chamar de casa. Sua história com o Distrito Federal teve início na década de 1990, quando ele e sua família precisaram fugir da guerra guatemalense.
À época, seu pai, que era funcionário da Unicef, foi sequestrado por guerrilheiros durante o conflito civil enfrentado no país e eles precisaram encontrar um lugar seguro para ficar. “Viemos para Brasília, foi uma mudança completamente diferente”, conta o peruano.
“Brasília me acolheu muito bem. Eu vim de um país com guerra. Quando cheguei aqui, tive essa liberdade de poder sair e brincar na rua, jogar bola…”, rememora.
Conhecido por ter uma população “fria” perto dos demais estados brasileiros, David elucida que esse não é o adjetivo que ele usaria para definir os candangos. “Na Guatemala, tínhamos medo de falar com as pessoas na rua e quando chegamos aqui, os vizinhos tocaram a campainha de casa pois queriam conhecer os novos moradores do bairro”, relembra.
“Brasília me deu tudo”
Instalado no Distrito Federal, David não deixou mais a cidade. Por aqui, fez faculdade e descobriu o seu amor pela gastronomia. Apesar de ter passado por diversos lugares do mundo para se especializar e realizar seu mestrado, nunca passou pela cabeça de David se estabelecer em outro lugar.
“Sempre digo que Brasília me deu tudo. Liberdade, motivação para continuar vivendo e me deu a oportunidade de criar coisas novas. Principalmente porque foi na cozinha que eu descobri que poderia ser a pessoa que me tornei”, conta ao Metrópoles.
Foi na capital federal que David se consagrou como um renomado chef da culinária mexicana. À frente do El Paso, inaugurado em novembro de 1995, o peruano canalizou sua extensa bagagem cultural em pratos de dar água na boca.
O chef conta que foi criado com a culinária mexicana que é bastante disseminada na Guatemala, que faz fronteira com o México e, por isso, compartilham dos gostos culinários. “Sempre gostei e voltei para me especializar na culinária mexicana quando abri o El Paso”, conta.
A casa foi a primeira cevicheria de Brasília e já possui três unidades na cidade. As três são comandadas por David e seu marido — que ele trouxe do Rio de Janeiro para morar com ele no Distrito Federal — e já são consolidadas no quadradinho com a marca da comida mexicana, tradição que pretendem manter.
Luso-brasiliense
Além de David, outro imigrante que criou extensas raízes em Brasília foi o chef português Antônio Barrigana. Apesar do forte sotaque que entrega sua nacionalidade, o coração de Antônio é essencialmente brasiliense.
Morando há 30 anos no Brasil, o empresário já tem 57 anos e começou sua trajetória longe de Portugal, aos 17 anos. “Buscava por novas oportunidades, coisas maiores, que eu via que não ia conseguir morando lá. Então fui trabalhar na África do Sul”, conta.
No país africano, Barrigana começou a trabalhar como instalador de ar condicionado — profissão que o trouxe a Brasília. “Surgiu oportunidade e eu vim para cá e foi ótimo. Me encontrei nessa cidade e fiz daqui minha casa”, comenta.
“Brasília é fantástica, é uma cidade muito boa. Já tive passagem por outras cidades, São Paulo e Rio de Janeiro… Mas eu gosto de Brasília”, pontua.
Apesar do amor pela capital do país, o chef à frente do O Tuga Restaurante não esconde o orgulho de ter sangue português. Sentimento esse que o fez apostar na culinária portuguesa para abrir seu restaurante — empreitada que começou de forma despretensiosa.
Antes da pandemia, quando tinha um container para vender cerveja artesanal, Antônio percebeu que o público consumidor da bebida precisava de algo mais: pratos para acompanhar a cevada. Foi então que ele decidiu cozinhar as delícias que comia em Portugal. A memória afetiva o conduz no comando das caçarolas.
“Sempre gostei de cozinhar e principalmente de comer. Eu já cozinhava esporadicamente para meus vizinhos um bacalhau, que fazia sucesso, e decidi levar para vender com a cerveja. Fez um sucesso tremendo”, conta.
A partir de então, ele decidiu apostar em um novo prato: o polvo. “Queria algo diferente e pensei no polvo. Comprei, testei e deu supercerto, ficou uma delícia. Quando levei para vender no container… Nossa Senhora, eram filas quilométricas de pedidas”, relembra.
Tradição portuguesa na capital
Do sucesso, veio a abertura do restaurante O Tuga, no CasaPark. Por lá, Barrigana preserva o melhor da cultura lusitana. “Prezamos pela qualidade dos nossos produtos, como a gastronomia portuguesa pede”, conta.
Além dos pratos que já caíram no gosto de quem conhece, o chef também procura preservar e impulsionar a cultura portuguesa na sua casa. “Todo mês, um grupo vem aqui para dançar Chula e eu busco interagir portugueses com brasileiros aqui no restaurante”, conta.
“Brasília é uma cidade maravilhosa e está bem servida de culinária portuguesa”, pontua.