Veja o que muda no seu bolso com a nova regulamentação do café torrado
Após divulgação de um documento oficial do Ministério da Agricultura, o café tradicional deve sofrer alta no preço, mas aumentar a qualidade
atualizado
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O Ministério da Agricultura publicou um documento oficial que estabelece os regulamentos técnicos do café torrado. A nova regra, criada em maio, define o padrão oficial de classificação do produto, com requisitos como qualidade, modo de apresentação e rotulagem. Mas a pergunta que fica é: e agora, o que muda para o consumidor final?
Esses novos padrões podem impactar diretamente os cafés vendidos em gôndolas de supermercados espalhados pelo país.
De acordo com Juliana Morgado, barista e especialista em cafés especiais, a medida chegou para o bem do consumidor. “Com uma legislação mais estabelecida e forte, os fiscais tem poder de conferir se o que está sendo entregue nas gôndolas realmente condiz com a qualidade esperada do produto”, contou em entrevista ao Metrópoles.
O órgão fiscalizador poderá verificar e controlar a qualidade, as condições sanitárias e a identidade do café torrado oferecido aos consumidores brasileiros. Apesar de o Brasil ser o maior produtor mundial de café e de contarmos com iniciativas de controle por parte do setor privado, não havia ainda uma ferramenta legal para o controle do grão.
Com essas mudanças, a especialista explica que é possível que algumas marcas tenham dificuldade de se manter no mercado, agora que serão melhor e mais vigiadas. “O produtor de café continua fazendo o seu melhor na fazenda pra entregar um produto de qualidade, no caso, o café cru em si. Apenas os que trabalham também com a torra dos próprios cafés precisam conferir a portaria para checar se estão de acordo com o que foi estabelecido”, afirma.
O regulamento garante, ainda, a atuação do Mapa e tem exigências plenamente exequíveis pelas indústrias de torrefação e não oferece custos descabidos a pequenos produtores, indústrias ou cafeterias além de estabelecer um período de transição para que o setor se adeque ao novo regulamento.
Vai pesar no bolso
Já no bolso do cliente, é possível que o café tradicional possa aumentar ainda mais. “Talvez com maior fiscalização, as marcas que estão realizando misturas inadequadas para ter rendimento maior e, consequentemente, mais lucro, comecem a aumentar o preço pois vão precisar ‘fazer direito'”, analisa a expert.
No último ano, o preço do grão aumentou cerca de 50,24% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado em janeiro de 2022 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o jornal Nexo, o preço da saca (60kg) do tipo arábica negociada pelo produtor no país se aproximou de R$ 1.500 em janeiro de 2022, o que representa um aumento de 109,3% em relação ao mesmo período de 2021. Um dos principais fatores para esse aumento é a cotação do dólar frente ao real, que disparou durante a pandemia.
Juliana aponta que, com a regularização, a qualidade seguirá os preços e também irá se fazer mais presente nos cafezinhos. “Isso é algo mto positivo pro consumidor final, pois ele não tem condições tecnológicas e científicas de fazer essa checagem de qualidade do café torrado, e pode apenas confiar no que lhe é oferecido nas prateleiras. Ele leva o pacotinho embalado e lacrado pra casa, geralmente um café já moído o que mascara bastante o que está sendo entregue”, frisa.
Café especial pode ser uma opção
Conhecido pelo preço mais elevado, o café especial é um produto de alta qualidade, feito dos melhores grãos colhidos manualmente por produtores que se esforçam com árduo trabalho na fazenda o ano todo. “A bebida é doce, com acidez saborosa, complexa, com notas sensoriais que podem lembrar uma infinidade de sabores como chocolate, castanhas, frutas, florais…”, comenta a barista.
Já o tradicional é de baixa qualidade. “São classificados assim por causa de defeitos encontrados no produto cru, como pedaços de pau, outros grãos, grãos defeituosos, grãos mofados, até mesmo resto de insetos”, explica ela. Ju indica que, mesmo com a publicação da portaria, o café nem sempre atingirá uma qualidade realmente própria para consumo.
“A portaria dita regras para o café torrado. Ou seja, para o produto após já ter sofrido todos esses problemas no grão que geralmente ocorrem na plantação”, comenta.
Mesmo com alta dos preços, o consumo segue recorde
Segundo informações divulgadas pela Agricultura, entre 1997 e 2021, o consumo do café no Brasil quase dobrou, passando de 11,5 milhões de sacas para 21,5 milhões de sacas. Em 2021, o brasileiro consumiu em média 4,84 kg de café torrado. O alto consumo é acompanhado pelo destaque na fabricação. O país vem se mantendo no topo da lista de produtores por mais de 150 anos. Segundo o Mapa, há 300 mil estabelecimentos que produzem café no país, em 17 estados. As unidades da Federação que lideram esse processo são Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, São Paulo e Rondônia.