Papo espresso: você sabe de onde vem o café que você toma?
O Metrópoles conversou com o produtor Luiz Paulo Pereira, da Fazenda Sertão, sobre o processo de plantio e colheita do café
atualizado
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Muito mais do que o líquido que toma conta da xícara dos brasileiros todas as manhãs, o café é uma fruta que passa por um processo detalhado até chegar ao consumidor final. A origem de tudo começa na terra: o plantio.
O Brasil é um antigo produtor do grão. Esse relacionamento começou há muitos anos, em 1921, no estado do Pará. A adaptação ao clima do país foi rápida e o plantio do grão foi realizado em praticamente todo o território nacional. Entre as regiões brasileiras, Minas Gerais ocupa o primeiro lugar em volume de plantação de café.
Grão arábica
E haja grão para ser plantado! Só da variação arábica existem mais de 50 variedades e subvariedades. A planta, nesse caso, é proveniente das montanhas da Etiópia. A altitude está amplamente relacionada à qualidade do grão produzido. Quanto mais alta for a lavoura, maior será a qualidade do grão.
Esse grão possui 50% menos cafeína, mas possui um teor maior de açúcares, responsáveis pela complexidade de sabores dessa variedade. Os cafés finos produzidos no mundo são das variedades dessa espécie (mundo novo, catuaí amarelo e vermelho e bourbon, por exemplo).
Grão robusta
Há também o robusta, também conhecido por conilon. Ele tem uma concentração de cafeína bem maior e, na hora do plantio, se desenvolve com bastante facilidade em regiões com clima quente e úmido e em altitudes mais baixas.
Além eles, tem também o bourbon (derivado do arábica e tem notas mais achocolatadas, o aroma bem forte e marcante e a acidez moderada); e o kona (cultivado exclusivamente na cidade de Kona, no Havaí, em solo vulcânico).
Como é feito o plantio do café?
O Brasil é o maior produtor do mundo. Isso não significa, porém, que realizar o cultivo dessa iguaria é uma tarefa simples. A cafeicultura tem uma grande contribuição histórica e social, mas tudo precisa ser feito com muito critério.
“As especificidades ocorrem em todo o processo e se iniciam na seleção de sementes a serem plantadas na fazenda já que cada variedade conta processo, manejo e colheita próprios”, conta Francisco Isidro Dias Pereira, produtor da Fazenda Sertão, localizada em Minas.
Segundo ele, a diversidade dos grãos mostra o quão trabalhoso é plantar café. “Cada etapa exige conhecimentos amplos, como a origem e os fatores gerais da planta, o crescimento da árvore, a dimensão do tronco e o volume de folhagem. Por isso, conhecimento faz parte do processo”, comenta Pereira.
Para entender o processo da lavoura, ele explica que existem alguns pontos que devem ser priorizados no mundo do café: plantação, terroir, variedade, manejo, processo de colheita, pós-colheita, além do critério humanizado em cada etapa.
As sementes são criteriosamente selecionadas e mantidas em viveiros especiais até que estejam prontas para serem plantadas. Não muito raro, é necessário corrigir o solo para que as mudas recebam todos os nutrientes fundamentais, resultando em uma boa produção e excelente qualidade nos grãos de café.
“Independentemente da espécie do grão mais brasileiro, a planta precisa de cuidados típicos, como irrigação, adubação e proteção contra pragas e ervas daninhas”, comenta.
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As particularidades
Após as mudas ficarem cerca de nove meses em um viveiro próprio, são plantadas no solo, idealmente em covas de 40 cm de profundidade. “Além disso, no plantio, o espaçamento deve ser respeitado e o aconselhável é que haja aproximadamente 2,5 a 3 metros entre as ‘ruas de café’ e cerca 1 metro nas proximidades das plantas”, ensina Francisco.
Em seguida, depois de 30 dias do plantio das mudas selecionadas, inicia-se a adubagem, o estudo da terra e “oração forte” por chuva. Assim, a planta começa todo o crescimento. Por fim, o produtor espera cerca de 36 meses até o momento da colheita boa dos frutos.
Chegou a hora de colher
Na produção do café, a colheita normalmente é realizada nos meses de maio a agosto, quando os frutos estão maduros. “No Brasil, os três tipos de coleta mais comuns são de derriça, manual e a chamada colheita mecanizada de café. No primeiro modelo, são colocados plásticos embaixo das plantas para que, quando o grão for apanhado, ele não caia diretamente no chão”, explica o produtor.
Já a colheita manual do café requer uma grande mão de obra, sendo um método caro e demorado. “Os coletores precisam selecionar os grãos maduros, caracterizados pela cor avermelhada. Já na forma mecanizada, esse trabalho é realizado por máquinas que reúnem os grãos em sacas de café”, afirma.
“Durante os processos de colheita e pós-colheita, o olhar do produtor é indispensável para o resultado das bebidas. A diversidade de variedades proporciona experiências sensoriais distintas”, finaliza Pereira.
Os números impressionam!
De acordo com a Embrapa, a safra total estimada dos cafés do Brasil de 2022 equivale a 50,38 milhões de sacas de 60 kg.
Desse total, 32,41 milhões de sacas são da espécie arábica, a qual representa em torno de 64% da safra brasileira e, adicionalmente, 17,97 milhões de sacas da espécie robusta, que corresponde a 36% do volume total a ser colhido em 2022.
Nesse caso, o total das sacas colhidas na safra corrente de 2022 representará um aumento de 5,6% em relação à safra de 2021.