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Papo Espresso: 4 mulheres baristas que movimentam a cena do café no DF

O Metrópoles conversou com quatro mulheres que fazem o cenário do café no DF se expandir e ganhar destaque nacional

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Na foto, uma mulher fazendo um café - Metrópoles
1 de 1 Na foto, uma mulher fazendo um café - Metrópoles - Foto: Reprodução/ Pexels

No plantio do café, a florada é época de celebrar não apenas a beleza e o perfume da planta, mas também o prelúdio de uma safra farta. Afinal, a produtividade de cada pé do grão é medida de acordo com o número de flores em cada galho. Quanto mais flores, mais café! De forma semelhante, a presença feminina no mercado cafeeiro floresce cada vez mais nos quatro cantos do mundo.

Nos últimos anos, o número de mulheres baristas no Brasil cresceu significativamente. Segundo dados da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), em 2021, cerca de 40% dos profissionais registrados no país eram mulheres, um aumento significativo em relação a décadas anteriores.

Com mais visibilidade e apoio, elas estão conquistando lugar na cena do café brasileiro e mostrando todo o talento e habilidade. Em Brasília, não é diferente! Há nomes de peso representando a capital por aqui e em âmbito nacional. O Metrópoles te apresenta algumas das mais relevantes.

Confira:

Juliana Morgado

Barista desde 2018, a Juliana Morgado é referência absoluta no que faz. Formada em jornalismo, ela entrou no meio cafeeiro após pedir demissão de um emprego abusivo. “Saí de lá para não acabar com a minha saúde mental e decidi trabalhar como barista”, contou.

Há pouco mais de dois anos trabalhando como professora, barista e consultora no Studio Grão, a jovem explica os ônus e bônus da área. “A melhor parte é servir as pessoas e encantá-las com café. Ironicamente, a bênção que é trabalhar com o público também é a pior parte, já que nem sempre o cliente nos trata bem”, desabafa.

Na foto, uma mulher servindo um café - Metrópoles
A barista Juliana Morgado

De personalidade forte e gênio aflorado, Juliana afirma que já presenciou várias situações de machismo, “principalmente por comensais que não nos enxergam como profissionais e não valorizam nossa capacitação”, afirmou. Ela, no entanto, não se abala.

Questionada sobre o mercado, a profissional comentou que a cena ainda é muito masculina. “Sempre foi e continua sendo um segmento tomado por homens. São gerações de famílias chefiadas pelo patriarcado que tomaram conta de boa parte do mercado cafeeiro. Contudo, estamos mudando isso”, aponta.

Tendo a própria mãe como referência pessoal e profissional, a barista está competindo no Campeonato Nacional de Baristas, que acaba neste domingo (12/3) e ocorre em São Paulo. Ela já tem planos para a volta a Brasília. “Quero fazer ainda mais cursos no Studio Grão e ensinar sobre o café especial”, adianta.

Mari Mesquita

Barista, bartender e cientista política, Mari Mesquita não gostava de café, mas teve a oportunidade de conhecer o ramo quando começou a fazer o famoso “coffice”. “Virei consumidora assídua e frequentadora de um café de Brasília. Lá, eu até experimentava alguns cafés, mas demorou meses para me render e começar a provar de cabeça aberta”.

Após uma boa experiência sensorial, ela começou a estudar e se especializou em consultoria e drinques com o grão. “Fui aprendendo, aos poucos, que o café não te traz um conhecimento estático. É um aprendizado constante e essa é, definitivamente, a melhor parte de ser barista”, comentou.

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A barista Mari Mesquita

Mari comenta que a presença feminina em questão de números é equilibrada dentro do mercado. A notoriedade, por sua vez, é maior entre nomes masculinos. “Mesmo capacitadas, vejo que ainda há uma falta de confiança em crescer e aparecer no mercado. A estrutura dos campeonatos, por exemplo, não incentivam muito as mulheres a competir e acabam tendo mais homens”, explicou.

Nas cafeterias, a história é outra. Mesquita pontuou que há uma situação específica que já observou e percebeu em outras baristas mulheres. “Eu tenho a sensação de que a presença de homens mais velhos que vão diariamente em cafeterias sozinhos e conversam mais com as baristas traz um certo peso. Existe essa expectativa social da sociedade e dos clientes de que nós devemos ser mais abertas ao diálogo, mais disponíveis para o comensal, só por ser mulher”, indagou.

Como profissional, ela pontua que admira, dentro e fora do mercado do café, a Petra Moreira, uma mulher trans que é barista no Objeto Encontrado. “Ela olha para o café com um olhar mais técnico e detalhista. É alguém que me ensina mais sobre o que é ser mulher e eu me sinto privilegiada por isso”, contou. “A existência de uma mulher trans é uma resistência”, conclui.

Sulayne Shiratori

“O café me escolheu”, afirma Sulayne Shiratori. Barista especializada na área de capacitação e ensino, ela começou a atuar no mercado em 2003. “Estava pesquisando sobre empreendedorismo e, nessa busca, o café me surpreendeu. Comecei a estudar e me encantei”, contou ao Metrópoles.

“Esse universo da cafeicultura é lindo e o meu lugar nele é qualificar pessoas”, explica. Criadora do curso Do pé ao paladar, que leva baristas e amantes da bebida ao cafezal para acompanhar o grão desde o plantio, ela sempre prezou pela experiência, qualificação e experiência de campo quando o assunto é formar pessoas para servir bebidas afetivas.

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A barista e professora Sulayne Shiratori

“Na hora de dar cursos para baristas, é importante mostrar que a melhor parte é conhecer o universo sensorial e ter uma boa bagagem, unir o café com todas as possibilidades da gastronomia”, comenta. Porém, apesar de ser apaixonada pela área, Sulayne destaca que a profissão é mau remunerada, sobretudo para elas.

Na visão de Shiratori, a cafeicutura é mais dominada pelos homens. “Na vinda do café especial, tem muitas mulheres atuando em todos os elos da cadeia. Isso está trazendo à profissão uma sensibilidade e detalhismo que só um profissional feminino possui. A mulher agrega muito, do pé até a xícara”, destaca.

Mas nem tudo são flores: mesmo com a crescente atuação no ramo, a barista comenta que, infelizmente, as mulheres passam por dificuldades na área. “Precisamos nos esforçar mais e fazer muito mais pra ter reconhecimento. Já avançamos muito, mas ainda é um meio machista.”

Para o futuro, a profissional adianta que vai encerrar os cursos sob seu comando, mas focará em consultorias, trabalhos personalizados e novos projetos. “Nesta nova fase, vou me inspirar na minha avó, uma mulher com muita resiliência e que sempre se reergueu nas lutas diárias e está, aos 94 anos, lúcida, sábia e empoderada.”

Tete Moulaz

Com uma família envolvida intimamente na cadeia produtiva do café, Tete Moulaz, filha e neta de produtores, sempre teve um contato muito direto com o grão. “Comecei a trabalhar na área em 2012, quando comprei minha primeira cafeteira. Depois de muito estudo e especializações, abri o Mercado do Café em 2018″, contou a empresária.

Na foto, o ambiente do Mercado do Café - Metrópoles
O Mercado do Café, chefiado por Tete, ocupou o antigo Mercado Municipal

Atuando tanto na parte organizacional quanto na prática de barista, ela também defende que o mercado segue reproduzindo lógicas patriarcais. “No geral, o mercado é bem equilibrado em termos de atuação, mas o destaque é maior quando se trata de referências masculinas”, conta.

Essa perspectiva, acredita a expert em café, está mudando. Moulaz comenta que vê mulheres tentando crescer e aparecer mais. “Elas então buscando mais reconhecimento e isso faz com que outras mulheres também queiram isso. Encorajamos umas as outras”, explica.

Outro ponto destacado pela profissional é da multifuncionalidade feminina. “Hoje vemos baristas grávidas, com filhos, com outros empregos, se virando nos trinta e dando conta de tudo.  Somos mulheres e conseguimos isso.”

Seguindo o exemplo e a inspiração da mãe, avós e tias, Tete também destaca Cristiane Zancanaro, uma produtora de cafés no Centro-Oeste, como uma mulher de força. “Aprendo muito com ela e a admiro”.

A expert pontua que a melhor coisa em ser barista é ser a ponte que comunica sobre o restante da cadeia para o mercado consumidor. “Você tem a oportunidade de falar do produtor e da cadeia produtiva para o cliente”. Já a pior coisa, para ela, é o fato de a profissão ser cara para se capacitar, mas não remunerar bem. “Não é uma balança equilibrada”, conclui.

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