No top 3 do Brasil, café do DF é finalista de prêmio internacional
O produtor Carlos Coutinho começou a plantar café para ter alguma atividade após a aposentadoria e acabou fazendo história no Centro-Oeste
atualizado
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O primeiro café do Centro-Oeste a figurar na final do Prêmio Ernesto Illy de Qualidade Sustentável do Café para Espresso é cultivado aqui mesmo, no Distrito Federal. A fazenda Novo Horizonte fica no setor Lago Oeste e conta com 300 hectares plantados, a uma altitude de 1.170 metros. O dono desse grão premiado é o paraibano Carlos Coutinho, que entrou na cultura por acaso – e jamais imaginou que chegaria tão longe.
“Comprei essa terra em 1988. A ideia era transformar isso aqui em uma terapia ocupacional para quando eu me aposentasse. Tinha medo de ficar sem o que fazer, vi amigos aposentados tendo problemas com isso. Mas rendeu mais do que eu esperava”, lembra o produtor que, aos 73 anos, trabalha em um ramo que jamais pensou em desbravar durante a juventude. “Eu tinha vínculos com a terra, gostava. Mas café nunca me passou pela cabeça”, conta.
A conquista da honraria do prêmio não veio, no entanto, do dia para a noite: ele começou o cultivo de café especial em 2003 e, em 16 anos, aumentou a área plantada em 300%. O contato com a Illy – participam da premiação os produtores que fornecem os grãos para a empresa italiana – se iniciou em 2010 com um senhor elogio, quando o corretor da multinacional telefonou para oferecer um valor acima do preço de mercado nas sacas de café de Carlos. “Ele me disse que o meu grão era um dos melhores que já havia bebido”, lembra.
Em 2013 e em 2014, o paraibano venceu as etapas regionais do prêmio, mas os cafés produzidos no cerrado goiano nunca haviam chegado ao pódio nacional – em 2017, Cristiane Zancanaro, de Cristalina (GO), atingiu o sexto lugar no concurso. Tradicionalmente, a Illy faz uma festa no início do ano para os produtores dos 40 melhores cafés do país: ali, anunciam quem ficou em sexto, quinto e quarto lugar. Os três primeiros são simplesmente citados, sem a menção da colocação de cada um, que é anunciada em uma festa em outubro, em Nova York, para os melhores produtores do mundo.
“Eu sabia que tinha atingido o primeiro lugar regional, mas não tinha a menor expectativa de ficar entre os três primeiros. Só de estar entre os 40 melhores do Brasil já era uma vitória. Anunciaram o sexto, o quinto, o quarto… Quando vi que estava no pódio, aí me deu um frio na barriga. Mas desconfio que não vou ficar em primeiro”, conta Carlos, que divide o pódio com os mineiros Elmiro Alves do Nascimento, de Presidente Olegário (Cerrado Mineiro), e José Pedro Marques de Araujo, de Manhuaçu (Matas de Minas).
Cafeicultor por acaso
Carlos veio a Brasília em 1983, ao lado da esposa, Laíze: o casal de servidores públicos foi transferido de Recife (PE) para a capital federal. No ano seguinte, passou a trabalhar na Secretaria do Tesouro do Ministério da Fazenda, quando teve mais contato com produtores rurais até enfim se aposentar.
Filho de boiadeiro, Carlos começou usando sua propriedade para criação de gado de leite, mas o prejuízo que a atividade gerou o obrigou a parar. A propriedade tinha alguns pés de café que um funcionário insistia em cuidar e o paraibano encontrou ali a cultura perene que almejava. Ganhou as primeiras 3 mil mudas do atual presidente do Conselho Nacional do Café, Silas Brasileiro, e começou seu cultivo.
Quase duas décadas depois, Carlos vê o pódio no Prêmio Illy como uma experiência única. “Não se ganha todo ano. Café é como vinho, não é possível ter duas safras iguais”, explica. Isso não quer dizer que ele não vá tentar a sorte no próximo prêmio. “Eu mandei um café bom, mas era de um lote grande, não tinha expectativa de ficar tão bem colocado. Agora, estou tomando maior cuidado para participar de novo”, planeja o paraibano.