Dia Internacional da Cerveja: veja como a bebida é produzida no DF
O Metrópoles visitou fábrica de cerveja e te mostra o passo a passo da produção da bebida, da cevada à rotulagem
atualizado
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Todo poder à água, ao malte, ao lúpulo e à levedura. A cerveja é tida como algo divino antes mesmo de Cristo, quando a humanidade já havia estabelecido uma forma de vida agrícola e descobriu as tais “bebidas sagradas”. Os líquidos especiais eram, basicamente, resultantes da fermentação espontânea de frutas e cereais, cujo efeito entorpecente era vinculado aos deuses.
Na antiguidade, os drinques impactava até as leis. O Código de Hamurabi da Babilônia, datado de 1.770 a.C., por exemplo, declarava pena de morte aos que diluíssem a cerveja que vendiam.
A bebida milenar ganhou diversos amantes ao decorrer dos anos e foi aprimorada. Hoje, ela contém processos cuidadosos e artesanais, que visam a criação de rótulos perfeitos. O líquido é produzido a partir da fermentação de cereais, especialmente do tipo maltado, como a cevada, o trigo, o centeio e o milho. Mas para fazer cerveja, além dos cereais citados acima, é preciso incluir outro elemento essencial: a água, bem como as leveduras e o lúpulo.
Como existem diversos tipos de cerveja, algumas delas também podem levar outros ingredientes, como ervas e frutas, que dão um toque diferenciado.
Na cervejaria brasiliense Quatro Poderes, localizada em São Sebastião, é de praxe: os ingredientes tem que ser de qualidade. O processo é minucioso para conseguir uma boa bebida. A marca, visitada pelo Metrópoles neste Dia Internacional da Cerveja (5/8), é uma criação de Marcelo Naves, engenheiro eletricista de formação com atuação na área de TI e cervejeiro artesanal desde 2015. O nome Quatro Poderes é uma homenagem à cidade de Brasília e faz alusão aos quatro ingredientes da cerveja, bem como aos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) somado à força do povo na política.
Por lá, engana-se quem associa a bebida a algo mais rústico. O processo é lento e delicado. “A cerveja precisa de muita gentileza para ser produzida. Não é algo bruto, mas sim um passo a passo que exige cuidado e dedicação de quem faz”, contou Marcelo em entrevista exclusiva. O portal entrou na fábrica da cervejaria e acompanhou todo o processo de elaboração dos rótulos da casa.
O primeiro passo começa no líquido básico para o ser vivente: a água. “Precisamos manipular a água para que ela tenha os minerais exatos que precisamos para cada tipo de cerveja”, conta o expert.
Segundo ele, cada bebida precisa de compostos diferentes na água, uma vez que o grau de dureza e a alcalinidade dela podem interferir na cor, na turbidez, no sabor, no aroma e na durabilidade do produto final.
A alma da cerveja
Passado isso, vamos ao malte. Ele é um dos ingredientes mais importantes da cerveja e não nasce pronto. Comumente originário da cevada, ele precisa passar por um processo industrial que provoca a germinação que aconteceria normalmente na natureza até chegar à cervejaria. “Ele é a alma da cerveja”, destaca Naves.
No Brasil, de acordo com o decreto nº 871, a bebida precisa ter, no mínimo, 55% de malte de cevada para ser caracterizada como cerveja. Esse mesmo decreto caracteriza como puro malte apenas as que contêm 100% da substância.
Vindos de dentro e de fora do país, os tipos de malte e a intensidade de torrefação determinam algumas características importantes das cervejas, como a cor, o sabor e o aroma. “As cervejas claras com notas de cereais e pão são derivadas de maltes menos torrados. Já os mais torrados produzem cervejas mais escuras, com notas de café e caramelo”, elucida o profissional.
A cevada é cuidadosamente moída e, depois, vai para o processo de mostura, que consiste em misturar o malte moído à água aquecida em temperatura controlada. “Nesse momento, o malte é hidratado. As enzimas, ativadas, permitindo a conversão de amido em açúcares fermentáveis e proteínas em nutrientes”, destrincha o cervejeiro. O tempo de mosturação geralmente varia de 60 e 90 minutos em temperaturas que variam de 62 a 72 graus.
Feito isso, o processo é de clarificação. Nele, tudo o que passou pela mosturização é filtrado. “Essa parte é importante para tornar a cerveja mais límpida e com menos impurezas. Logo após, inicia-se o processo de lavagem, em que os açúcares residuais do malte são extraídos a uma temperatura de mais ou menos 80 graus.
Tina de fervura
Após a lavagem do malte, todo o mosto é transferido para a tina de fervura. Nessa etapa, ocorre a caramelização de açúcares e a esterilização do mosto. “Aqui, são adicionados os lúpulos de amargore, alguns aromáticos. É daqui que vem o amargor da cerveja e o aroma”, explica Neves, mostrando o equipamento
O resfriamento ocorre o mais rápido possível, diminuindo, assim, a possibilidade de contaminação. O mosto é transferido a uma temperatura adequada ao tipo de fermentação desejada, para que a levedura possa ser acrescida sem causar variações extremas de temperatura.
As fermentações demoram vários dias e ocorrem em temperatura controlada. “O controle de temperatura é essencial para a cerveja. Temperaturas elevadas podem gerar sabores desagradáveis na bebida. As muito baixas, por outro lado, podem comprometer os ciclos da fermentação, adaptação, atenuação e acondicionamento”, complementa.
Passado o tempo necessário, a cerveja está pronta e vai para barris maiores, com 50 litros. De lá, elas podem ser vendidas diretamente para comerciantes ou rotuladas e envasadas em garrafas para o consumidor final. “Todo o trabalho é nosso. Vocês podem apenas degustar”, finaliza o cervejeiro artesanal.
Cervejaria Quatro Poderes
ADE, conjunto 10, lote 26, Bonsucesso – São Sebastião (DF). De segunda a sexta, das 9h às 18h. Sábado, das 9h às 12h. Telefone: (61) 99267-2003