Bravos cervejeiros: conheça quem aposta no cultivo de lúpulo no Brasil
A riqueza de biomas no país exige manejo específico da espécie, que atualmente é importada pelos fabricantes de cerveja
atualizado
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Um dos elementos mais importantes da cerveja, o lúpulo, ainda é produzido de forma bastante artesanal no Brasil: a maior parte das cervejarias importa o ingrediente da Europa ou dos Estados Unidos, processado em formato de pequenos cilindros, conhecidos como pellets. Em seu estado mais fresco, a flor em formato de cone pode ser usada diretamente nos tanques de fermentação. É ela que confere à bebida sabor e, a depender do estilo, amargor e aroma.
“O lúpulo que chega do exterior é de safras passadas. As fazendas têm contratos a honrar e, quando colhem as flores, esses clientes são a prioridade. O que sobra disso vai para o mercado interno deles, e o que sobra depois disso tudo vem, por exemplo, ao Brasil. Hoje, em julho de 2019, você acha lotes da safra de 2017, alguns de 2018. É um pellet que já perdeu toda a parte aromática da flor, devido ao tempo que levou até ser exportado”, comenta Alexander Creuz, presidente da Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo (Aprolúpulo).
A planta é uma trepadeira original do Hemisfério Norte e depende de longos períodos de incidência solar para crescer bem – na Alemanha, por exemplo, os dias de verão podem durar até 16 horas. Se as terras tupiniquins não apresentam períodos tão longos de luz, sol é o que não falta. Não seria, então, uma questão de manejo da cultura? A resposta, segundo os 103 associados da Aprolúpulo, é positiva.
“É possível fazer uma analogia com o vinho: a uva só era plantada no frio, e dizem o mesmo sobre o lúpulo. Não é bem assim, tanto que as uvas irrigadas do vale do rio São Francisco têm safra duas vezes por ano. O segredo é descobrir o manejo específico de cada cultivar, conhecer bem a composição do solo, encontrar a adubação perfeita”, descreve Pablo Tamayo, produtor de lúpulo do Lago Norte, em Brasília.
Cultivo do lúpulo
O brasiliense encontrou no cultivo da flor uma maneira de acompanhar de perto o crescimento dos filhos e abandonou seu emprego formal em 2017 para se dedicar às flores verdes. Hoje, a Tamayo Hops conta com 60 pés da planta: uma escala modesta, mas de alta produtividade, visto que ele consegue realizar três colheitas por ano. “Meu negócio era, a princípio, cultivar algum produto orgânico, eu não era cervejeiro. Comecei a fazer cerveja em casa e decidi ver como meu lúpulo se saía”, lembra.
Segundo Alexander, não é possível, ainda, dizer qual região brasileira teria clima ideal para o cultivo. “Os nossos plantios, de maneira geral, são muito recentes. As plantas ainda estão se estabelecendo no solo, a grande maioria ainda não atingiu a maturidade produtiva. Ainda é difícil falar se um estado tem bom terroir, mas com certeza cada região brasileira vai ter uma característica diferenciada que vamos descobrir com o tempo”, avalia Alexander, defensor do lúpulo nacional como vantagem competitiva aos cervejeiros nacionais.
Produção artesanal
Para Heide Seidler e Andreas Nagl, proprietários da loja de insumos para cerveja Candango Bräu, usar lúpulo próprio – mesmo que para parte da receita – atingiu status de exclusividade entre os cervejeiros brasileiros. “Tem gente fabricando e usando as próprias flores na cerveja, virou marketing”, brinca Heide. “Acredito que também existe uma questão sentimental de usar o próprio lúpulo”, pondera Andreas.
A dupla discorda em relação à possibilidade de produção das flores no país: a brasileira vê muito potencial, enquanto o alemão acredita que o lúpulo produzido no mundo deve atender bem o mercado interno. “O povo planta de brincadeira e vai bem. Em Brasília temos um bom solo, boa altitude, só falta água. Eu tenho muita esperança de um dia termos uma cultivar nacional, como já acontece nos Estados Unidos”, defende Heide.