Mostra Brasília nega censura a filme não selecionado

A direção da Mostra Brasília 2018, segmento de produções locais do 51º Festival de Brasília, nega as acusações de censura feitas pela diretora Maria Maia ao filme 3 Refeições. A cineasta publicou texto nas redes sociais no qual diz que seu longa não foi selecionado por razões políticas.

Na página da produção no Facebook, 3 Refeições é descrito como um documentário sobre a fome feito em torno de Antônio Conselheiro e do ex-presidente Lula. “Um registro da ruptura de fronteiras sociais e econômicas dos antigos 36 milhões de miseráveis brasileiros. Gente que saiu da extrema pobreza e ascendeu a um inédito cotidiano de dignidade cidadã”, diz a sinopse.

“O documentário parte da Caravana da Cidadania Contra a Fome – Viagem ao Brasil Real, realizada em 1993, quando Lula refez a trajetória da viagem feita na infância, saindo de Garanhuns e chegando a São Paulo. Percorre, ainda, a década de políticas públicas contra a fome, através de entrevistas com personalidades que se sobressaíram na luta pelo fim da extrema miséria no Brasil”, completa a descrição do longa.

Maia, diretora de documentários para a TV Senado durante anos, diz no texto compartilhado na internet: “O argumento obtuso usado pela comissão censora foi de que o 3 Refeições é um filme político”. Procurada pela reportagem do Metrópoles, ela disse que ouviu essa alegação para a rejeição do longa de uma pessoa “que viu de perto” o trabalho da comissão de seleção da mostra. A realizadora não quis divulgar o nome de sua fonte.

Apesar de acontecer durante o Festival de Brasília, a Mostra Brasília é realizada pela Câmara Legislativa do Distrito Federal. Cleide Soares, servidora concursada da CLDF e coordenadora do comitê-gestor da mostra e do prêmio (batizado com o nome da instituição), classifica as acusações de “fake news”.

“Não tem como ter censura. A Câmara não faz nenhuma recomendação ou orientação em relação ao conteúdo das obras. A seleção é feita por critérios técnicos e estéticos do ponto de vista cinematográfico. A comissão de seleção tem total liberdade para trabalhar. Nessa própria edição, há filmes políticos”, diz Soares, dando o exemplo de Riscados pela Memória e Terras Brasileiras.

O secretário de Cultura do DF, Guilherme Reis, também se manifestou na postagem publicada pela diretora no Facebook. “Creio que a própria programação do festival não deixa dúvidas quanto a isso: não há qualquer chance de qualquer tipo de censura no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro não tem participação na seleção dos filmes da Mostra Brasília, que é de inteira responsabilidade de comissão montada pela Câmara Legislativa do DF”, escreveu.

Em 2018, ano da 23ª edição da mostra, 101 filmes foram inscritos por cineastas da capital federal para participar da peneira. Dos 98 títulos habilitados para concorrer ao Troféu Câmara, 21 (3 longas, 18 curtas) entraram na seleção oficial. A Mostra Brasília acontece de segunda (17/9) a sexta (21/9), às 18h, com entrada franca, no Cine Brasília.

A comissão de seleção da Mostra Brasília publicou nota na noite desta segunda (17/9) esclarecendo o caso:

Foi divulgado ontem nas redes sociais que a Mostra Brasília teria excluído um longa-metragem por motivo de censura política.

A Comissão de Seleção da Mostra Brasília considera esta uma acusação grave e repudia essa atitude. Informa que escolheu, com base em critérios artísticos e técnicos, 21 filmes entre 98 habilitados. Ou seja, no total 77 filmes (entre longas e curtas) não foram selecionados e a grade de programação teve o parâmetro máximo de 120 minutos por dia. Importante salientar que a Comissão teve total autonomia na seleção dos filmes, não havendo qualquer interferência da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou do Festival de Brasília.

Vale ressaltar ainda que a Comissão não se pronunciou com relação a qualquer dos filmes, considerando caluniosa a afirmação divulgada.