Festival de Brasília: leia crítica do filme Los Silencios
Longa de Beatriz Seigner fechou neste sábado (15/9) a primeira noite de mostra competitiva
atualizado
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Filmes produzidos por cineastas de São Paulo fecharam a segunda sessão da mostra competitiva do 51º Festival de Brasília, na noite deste sábado (15/9).
Ambos os filmes mostraram temáticas sociais distintas envolvendo núcleos familiares. O longa Los Silencios, de Beatriz Seigner, acompanha mãe e filhos que se refugiam na fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. Já o curta Kairo, de Fabio Rodrigo, narra os dramas de uma assistente social diante de um garotinho que acaba de perder a família numa operação policial.
Leia críticas dos filmes exibidos na segunda sessão da noite de sábado (15/9) no Festival de Brasília:
Los Silencios (SP), de Beatriz Seigner: sobre fantasmas refugiados
A fuga de uma família do conflito armado na Colômbia aos poucos ganha tons de uma história de fantasia. Amparo (Marleyda Soto, em grande atuação) acaba de perder o marido, Adão (Enrique Diaz), e a filha, Nuria (María Paula Tabares Peña). O marido supostamente morreu num deslizamento de terra de uma mineradora.
Mãe e Fabio (Adolfo Savinvino), seu caçula, encontram refúgio na chamada Ilha da Fantasia, lugar fincado na fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. Amparo espera ganhar uma indenização em breve. Mas, para isso, o corpo deverá ser encontrado.
Los Silencios evoca um clima espiritual à la Cemitério de Esplendor (2015), um dos longas mais recentes do tailandês Apichatpong Weerasethakul. Os fantasmas caminham livremente entre os vivos e com eles trocam breves mas marcantes interações. Há até uma reunião em que os dois grupos se encontram. É quando os mortos podem fazer seus pedidos, confessar suas dores e saudades.
Seigner exibe um bom controle do espaço e do tempo, mas o filme nem sempre articula com contundência essa sinergia entre docudrama e conto de fantasmas. Toda a trama envolvendo a indenização esperada por Amparo, por exemplo, soa protocolar diante das dinâmicas simbólicas em jogo. A inércia dramática da primeira metade é compensada por vinte minutos finais delicados e intensamente ritualísticos.
Avaliação: Regular
Kairo (SP), de Fabio Rodrigo: periferia segue sangrando
O garotinho Kairo, de uma escola na periferia de São Paulo, acaba de perder a família em uma destrutiva operação policial. Sônia, assistente social, é destacada para ajudá-lo e, em algum momento nas próximas horas, informá-lo do que aconteceu.
Um curta de estrutura simples e direto sobre mais um dia na vida de personagens marginalizados das grandes cidades brasileiras, constantemente afetados por uma política de segurança pública que só parece vitimizar os mais pobres.
A ideia de Fabio Rodrigo obtém seu melhor momento no minutos finais, com uma ótima cena de fuga — personagens olham para o alto como se estivessem vendo um óvni; era, na verdade, o balão do menino flutuando — e o personagem principal sozinho, prestes a enfrentar o abandono nas ruas da metrópole.
Avaliação: Regular