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Festival de Brasília: leia crítica do documentário Bixa Travesty

Em noite que celebrou a diversidade de gênero, também foram mostrados os curtas Reforma e BR3

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1 de 1 1533586543-Bixa travesty_still003 – (crédito_ Nu Abe) - Foto: Nu Abe/Divulgação

A última sessão da mostra competitiva no 51º Festival de Brasília representou um grito pela diversidade de gênero e uma celebração do corpo em todas as suas formas. Na noite deste sábado (22/9), passaram na tela do Cine Brasília os curtas Reforma (PE), de Fábio Leal, e BR3 (RJ), de Bruno Ribeiro, e o longa Bixa Travesty (SP), documentário sobre a cantora Linn da Quebrada dirigido por Claudia Priscilla e Kiko Goifman.

Leal se coloca como personagem de seu próprio filme na pele de um jovem que se sente pressionado a emagrecer. Ao mesmo tempo, defende seus prazeres e relacionamentos. BR3 envolve três histórias sobre a experiência trans filmadas no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro.

Leia críticas dos filmes exibidos na noite de sábado (22/9) no Festival de Brasília:

Bixa Travesty (SP), de Claudia Priscilla e Kiko Goifman: o corpo como arma revolucionária
Transgressora, desbocada, performática. Esta é a Linn da Quebrada, personagem principal de um documentário essencialmente político.

Buscando um registro a meio caminho entre o desbunde roteirizado e o não ficcional espontâneo, o filme acompanha a funkeira de perto em shows, interações com amigas do meio artístico, como Liniker e Jup do Bairro, e breves encontros com sua mãe, performances que mostram sua intimidade e depoimentos disfarçados como uma espécie de talk-show radiofônico.

Linn é articulada o suficiente para tomar o filme para si — ela divide o roteiro com Priscilla e Goifman — e estabelecer uma comunicação imediata com o público. A artista fala abertamente sobre como rejeita rótulos fáceis e criou um lugar próprio para se sentir autêntica — é o território que ela chama de bixa travesty.

Mas Linn também abre o jogo sobre solidão, suas vontades pessoais e a necessidade de tornar seu corpo uma arma de resistência como forma de buscar seu espaço na vida, na sociedade e na arte. Em momento particularmente tocante, ela conversa com sua fotógrafa sobre o período em que enfrentou um câncer nos testículos, uma fase difícil que a fez se redescobrir.

O problema de Bixa Travesty é o quanto o filme não parece dar conta das revoluções propostas por sua protagonista. Trata-se de um trabalho confortável demais em uma montagem circular — shows, depoimentos e performances — e contente em explorar a energia criativa da cantora sem correr tantos riscos estéticos. Esse formato denuncia um esgotamento narrativo bem antes dos créditos finais.

Uma obra inegavelmente importante como instrumento de combate ao preconceito e ao status quo normativo e intolerante. Artista febril, inquieta e subversiva em um documentário tradicional.

Avaliação: Regular

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Reforma (PE), de Fábio Leal: celebração da autoestima
Um raro filme que ousa discutir a relação do homem com seu próprio corpo. Mais especificamente, a de um jovem gay de Recife que anda se achando acima do peso. Ele só quer ser feliz sem se sentir pressionado pelos outros.

Bem montado e filmado, sempre com planos fixos, o curta articula encontros de Francisco (Fábio Leal) com sua amiga Flávia (Mariah Teixeira), em plena reforma de seu apartamento, e cenas íntimas do personagem — na companhia de outros homens ou sozinho, tomando banho enquanto canta A Cor Amarela, de Caetano Veloso, por exemplo. Flávia custa a entender os dramas dele.

No fim das contas, Francisco decide se aceitar como ele é, numa narrativa que vai e vem em seus relacionamentos. Em potentes momentos finais, o vemos em uma vigorosa cena de sexo. Depois, ele devora um pote de sorvete inteiro na cama enquanto revê a comédia romântica O Casamento do Meu Melhor Amigo (1997) no notebook. Agradecimentos a Julia Roberts e Dilma Rousseff nos créditos.

Avaliação: Bom

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BR3 (RJ), de Bruno Ribeiro: vivência trans em três esquetes
Com estrutura episódica, o curta narra histórias de pessoas trans ambientadas e filmadas no Complexo da Maré. A primeira acompanha a interação entre duas personagens. Uma provoca a outra. No meio de uma praça, a novata se levanta a encena um clipe de Crazy in Love, de Beyoncé.

No segundo capítulo, uma jovem se arruma para sair com um grupo de amigas. Lá pelas tantas, fala sobre relacionamentos para a câmera como se estivesse em seu canal no YouTube. Por fim, um homem e uma mulher trans transam pela primeira vez. Ribeiro opta por planos expressivos, mas parece refém do formato e de clichês de encenação. Realização aquém da ideia projetada.

Avaliação: Ruim

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