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Veja íntegra da entrevista com Julio Casares, presidente do São Paulo

Presidente do São Paulo, Julio Casares, deu entrevista exclusiva para o Metrópoles nessa segunda-feira (26/2); leia

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1 de 1 Imagem colorida de Julio Casares com medalha - Metrópoles - Foto: Gledston Tavares/Eurasia Sport Images/Getty Images

O presidente do São Paulo, Julio Casares, deu uma entrevista exclusiva para o Metrópoles nessa segunda-feira (26/2).

Na conversa, Casares comentou um pouco de sua trajetória, sobre os desafios de sua gestão, o desafio de montar equipes competitivas enquanto equilibra as questões financeiras e também sobre a partida contra a Inter de Limeira, nesta quarta-feira (28/2), pela 5ª rodada do Campeonato Paulista, uma realização Metrópoles Sports.

Nascido da capital paulista, Casares assumiu o São Paulo em 2021. De lá para cá viu o clube ser campeão do Campeonato Paulista daquele ano, da Copa do Brasil no ano passado e da Supercopa Rei em 2024.

Confira a conversa com o dirigente tricolor na íntegra:

 

Metrópoles: Vou começar a entrevista falando um pouco sobre a sua trajetória. Você, um homem da comunicação, com uma trajetória bem sucedida no mundo do marketing, como torcedor também, largou essa função para assumir um desafio de gestão tão grande que foi a presidência do São Paulo em 2021 com a missão de colocar o clube novamente em um cenário competitivo, ganhando títulos. Conseguiu retornar as finais, ganhando três títulos, qual foi o segredo para este sucesso?

Júlio Casares: Eu sempre fui um são-paulino de arquibancada, torcedor mesmo vim da televisão, mesma área que vocês, da comunicação. Fiquei muitos anos, 13 anos no SBT e 17 anos na Record, mas nunca deixei de estar aqui no São Paulo. Acho que a grande combinação para isso foram degraus de reconstrução. O São Paulo vivia um momento muito difícil até então, ainda com dificuldades, é normal, mas o São Paulo tinha que sofrer um choque de gestão.

Nós conseguimos através de um programa trazer o torcedor para ser cúmplice disso. Trazer os admiradores e fãs com uma diretoria muito eficiente e um programa de gestão. Então, nós conseguimos. Em três anos de gestão conquistamos três títulos importantíssimos para a história do São Paulo. Chegamos em duas finais em 2022, do Paulista e da Sul-Americana, então o São Paulo voltou a ser protagonista. Voltou a encher o próprio estádio como não acontecia há muitos anos.

Então essa cumplicidade está fazendo a diferença, junto com o torcedor, neste processo de recontratação.

Metrópoles: É um grande desafio hoje no Brasil você ter um clube sustentável financeiramente e vitorioso. Qual é o tamanho dessa dificuldade? Como vocês estão enfrentando isso aí no São Paulo?

Júlio Casares: É um desafio. Temos que fazer um time competitivo para uma competição como o Campeonato Brasileiro, uma competição de clubes brasileiros que tem um nível muito forte. Clubes que passaram por um processo de organização, ou de capitalização de investidores como SAF’s, e isso faz com que as nossas ações passem a ser muito mais competitivas.

Eu acredito que isso tudo faz com que a gente tenha uma dedicação muito grande na proximidade do futebol. Estar presente no futebol. Olhando para o lado financeiro, para o lado do marketing, está sendo muito eficiente. Reenquadrar essa dívida, reestruturar essa dívida, realocar todas as pessoas que precisam e querem entrar em uma missão de dirigir um clube.

Elas precisam ter um processo de dedicação exclusiva. O São Paulo tem quatro unidades. Temos o Morumbi, que também tem sua área social, temos o Centro de Formação de Cotia, da base, e o Centro de Formação da Barra Funda, onde estão os profissionais. Então eu viajo com o time, acompanho o clube de futebol. É uma dedicação onde você não tem final de semana, você sacrifica o lado pessoal, o lado familiar, os cabelos brancos se multiplicam, mas eu acho que vale a pena porque temos amor nisso tudo. É claro que existem erros e acertos, mas quando temos um projeto determinado, conseguimos equilibrar a situação. É como aquele quadro que tinha em circos onde vários pratos giram ao mesmo tempo e você não pode deixar nenhum cair.

É muito difícil, assumimos uma dívida de herança, mas estamos organizando. Temos muito a percorrer ainda, mas o saldo é muito positivo.

Metrópoles: Como o São Paulo tem feito para equilibrar as contas, as dívidas, para contratar jogadores. Eu vi que o senhor tem falado de um plano alternativo à uma SAF, tem alguma pista do que está vindo por aí, que você pode revelar?

Júlio Casares: A SAF ainda é algo muito novo, uma legislação nova. Então em um primeiro momento ela atendeu clubes que estavam agonizando, essa é a grande verdade. Então tiveram que transferir as ações e o clube deixou de ser majoritário e os investidores passaram a ser proprietários do clube.

Eu não vejo isso como mal, mas no caso do São Paulo particularmente, é por onde eu tenho que falar, ele cresceu esse patrimônio como clube fundado em 1930 dentro do quadro associativo. O São Paulo é o maior campeão Mundial de Clubes dentro do quadro associativo. O São Paulo há muito tempo possui um estádio particular quitado dentro do quadro associativo. Constituiu uma riqueza de títulos, sendo o maior detentor de títulos internacionais do Brasil dentro desse quadro.

Então, não há como demonizar esse quadro, assim como não há de deixar de reconhecer a SAF. O que nós imaginamos é que talvez tenhamos um projeto em que nós vamos alinhavar, com formato de investidores dentro do nosso futebol de base, ou no profissional, para que a gente possa capacitar o São Paulo ainda mais. Eu dizia na campanha que o São Paulo na questão da SAF não seria nem o primeiro e , talvez, nem o último. Nós precisamos que esse quadro seja maturado. Que os problemas de adaptação comerciais, econômicos e legais sejam superados para, aí sim, uma instituição como o São Paulo, que é sempre de vanguardista, vai pensar em um processo que pode ser similar. Sem perder a sua autonomia de gestão e o seu poder de decisão sobre a nossa marca.

Metrópoles: Existe uma especulação agora de que o Casemiro, que agora está sendo dispensado pelo Manchester United, possa vir para o São Paulo. São jogadores caros esses que vêm de fora. Essa especulação possui um fundo de realidade? Vocês estão tentando trazê-lo mesmo? Quais são os planos?

Júlio Casares: O São Paulo sempre acompanha todo grande jogador dentro das nossa condições. Mas no caso do Casemiro não existe nada. Ele é um grande jogador formado aqui, um cara extraordinário, um líder, bom jogador, mas não existe nada.

O que existiu no São Paulo são performances de jogadores que voltam e, no último caso recente, o sucesso que foi a vinda do Lucas, que era algo que estávamos trabalhando há muito tempo. O Lucas não chegou de um dia para o outro. Nós conversávamos com ele quando ele estava de férias no Brasil. Quando eu fui para a Europa tive a oportunidade de estar duas vezes com ele, com os agentes dele, a família dele.

E aí aconteceu do Lucas vir num período curto de três meses, foi campeão, voltou a vibrar com o seu time do coração e nós com ele, e começamos a trabalhar em uma continuidade. É claro que o Casemiro é um grande jogador, mas não tem absolutamente nada. O São Paulo também tem um rigor do tamanho dos investimentos que a gente faz, e claro que vamos sempre observar possibilidades, olhar situações, mas dentro de uma responsabilidade financeira e de orçamento.

Por ora, a resposta é não. Não tem nenhuma conversa. O São Paulo tem quase um elenco concluído para o exercício da temporada de 2024 e temos que salientar os grandes reforços: Lucas, Calleri e outros jogadores que vamos manter nesse elenco vitorioso que foi o São Paulo de 2023, e no comecinho de 2024 com a Supercopa Rei.

Metrópoles: Aproveitando o gancho, gostaria de saber como foi essa negociação para o James continuar no clube. Ele aparentemente está animado para voltar. Existe a chance dos torcedores de Brasília verem ele jogar? Ele e o Lucas?

Júlio Casares: Nós estamos felizes. Quando contratamos o James, foi muito próxima as negociações com ele e com o Lucas, o São Paulo naquele momento mostrou que mudou bastante de patamar, de poder trazer astros como é o Lucas. O próprio processo de adaptação, o jogador querendo jogar uma Eliminatórias pela seleção da Colômbia, que é direito do atleta, assim como é direito do técnico escalar aqueles que ele sente que estão em melhores condições.

Houve um movimento que partiu do próprio James de conversar com todos. Envolvendo diretoria, técnico, atletas, pedindo desculpas pela questão de não ter ido para Belo Horizonte, pois ele preferiu ficar se condicionando aqui. Acho que esse é um episódio importante, pois mostra o grande profissional que ele é. Ele não tem deixado nada a desejar em treinos, é um cara que se aplica, muito profissional. Quem sabe agora conseguimos fazer a inscrição dele no Paulista, com a lesão do Luiz Gustavo, que é uma lesão de tendão de Aquiles muito difícil de recuperar em um curto prazo, então no Paulista conseguimos fazer a substituição. Aí é uma decisão do Carpini, porque é extremamente técnica.

Você olhar para o banco e ter Lucas e o James, ou ter os dois relacionados em uma viagem como essa e poder jogar, realmente é um colírio para o torcedor que vai lotar o estádio em Brasília. A Arena Mané Garrfincha vai ser uma força grande para o São Paulo, pois o São Paulo atrai torcedores. Em Brasília não é diferente. O Centro-Oeste, com Brasília e Goiânia, grandes centros e amanhã teremos um grande público para esse jogo com a Inter de Limeira.

Metrópoles: Os torcedores por aqui estão ansiosos, afinal, tem 8 anos que o São Paulo não joga em terras brasilienses. Aproveitando o assunto, gostaria de saber o que você acha presidente, sobre a importância dessas viagens do time para jogar em outros estados do Brasil. Você acredita que essa é uma importante estratégia para formar torcida, manter e alimentar essa torcida que não pode ir até São Paulo assistir um jogo dentro do Morumbi?

Júlio Casares: Sim, desde que o calendário permita. O que é muito difícil, porque o calendário do futebol brasileiro é muito apertado, mas nós gostamos de fazer isso. Hoje o São Paulo possui contrato com a Sideral, de linhas aéreas, que nos possibilidade ir e voltar com voos fretados. Então a logística é muito mais tranquila que em um voo de carreira.

O jogo de quarta-feira é mando da Inter de Limeira. Quando a Inter desejou levar esse jogo para Brasília nós ficamos muito felizes pela praça que significa, pelos torcedores que temos aí, pelas condições dos estádio, que é moderno torcemos para que o gramado esteja em boas condições, para a boa prática do jogo. Nós conclamamos a torcida do São Paulo, não só que mora em Brasília, mas a que mora no Entorno. São torcedores apaixonados, jogamos em ganhamos o título no Gama, em 2008, nunca vou esquecer daquele momento memorável. Temos um carinho especial, temos uma embaixada de torcedores em Brasília.

Fiquei muito feliz quando a Inter nos consultou, nós conversamos com a Federação Paulista, fizemos alguns ajustes e decidimos que estaríamos ao lado de todos vocês em uma grande festa. Festa que terá a transmissão em TV aberta, com a presença de grande público e que o São Paulo possa ser feliz. Nós precisamos da vitória e vamos lutar com muita seriedade.

Metrópoles: Falando em torcida, presidente, na Supercopa Rei, pudemos ver um espetáculo muito bonito entre a torcida do Palmeiras e do São Paulo, protagonizando apenas com cantos, sem confusão, sem nenhum incidente, e isso permitiu que algumas pessoas até sonhassem com a volta das torcidas mistas nos clássicos paulistas. Como o senhor vê isso? O que o senhor acha que precisa ser feito entre diretorias, torcidas e segurança pública para que esse sonho se tornasse uma realidade?

Júlio Casares: Eu acho que o piloto em Belo Horizonte foi muito eficiente. Acho que nós precisamos sonhar em exercer algo para retornar esse convívio. É um tema difícil. Eu sei que tem questões de segurança. Agora tivemos um fato acontecendo no jogo do Sport Recife com o Fortaleza, mas eu acredito que nós deveríamos fazer um conjunto de ações. A questão do acesso com reconhecimento facial, uma legislação específica… Porque também há casos de baderna que acontecem foram do estádio, e eles acontecem por uma questão de impunidade que vai além da praça de esportes.

Eu acho que nós precisamos pensar em um grande pacote que consiga trazer de volta o convívio das torcida. Veja, o projeto das duas torcidas como ocorreu em BH teve ação eficiente da Polícia Civil, Polícia Militar, das polícias de São Paulo e BH, do Ministério Público e de todos os agentes envolvidos. Foram feitas reuniões e um plano de jogo. O resultado foi bom, salvo um torcedor isolado que jogou uma garrafa no ônibus. Mas ele foi preso, foi detido exemplarmente. É isso que nós esperamos. Agora, é um trabalho que precisa unir todos. Vocês da mídia, nós do futebol e as autoridades para caminharmos para um entendimento.

Eu sou do tempo em que uma família estava junto compartilhando o mesmo espetáculo. Por que não conseguirmos isso? Nós temos estádios bons, outros que precisam de reparo, mas se tiver um plano de jogo e uma filosofia de apoio de todos os agentes que promovem o espetáculo, nós teremos sucesso.

Nós temos que dar o primeiro passo. O duro é dizer que não dá, que é torcida única. Isso decreta a nossa total incapacidade, ou como entidades privadas, ou como entidades públicas, de não exercer uma organização e ter a lei em nosso lado para punir baderneiros, pessoas que ofendem e agridem as família. Eu acho que vale a penas sonhar sim, e vamos trabalhar nesse sentido.

Metrópoles: Outro dia o senhor cedeu o Morumbi para o Palmeiras jogar, o Santos também. Esse tipo de cumplicidade, de cortesia até entre as diretorias, acaba sendo mais um passo nesse sentido de amenizar certos atritos ou rivalidades além do permitido?

Júlio Casares: Eu não tenho dúvida. Isso distensiona. Os dirigentes devem dar exemplo. Eu quero sempre ganhar dos meus adversários e eles de mim. A briga é dentro de campo. Agora, fora de campo nós devemos ter um bom relacionamento. O Palmeiras jogou duas vezes no Morumbi, nós jogamos no Allianz Parque uma vez. Jogamos na Vila Belmiro e na contrapartida o Santos jogou agora contra o São Bernardo. O futebol vive desse entendimento, como um grande produto que é.

Se você se relaciona bem com o dirigente adversário, você também mostra para o torcedor que ele pode conviver bem com o torcedor adversário, com todas as brincadeiras pertinentes, faz parte do futebol, mas nós precisamos entender que a briga é dentro das quatro linhas. Fora, é trazer conforto, entendimento, e fico muito honrado de ter proporcionado isso ao Palmeiras e ao Santos. Enquanto for possível, vamos tentar estender. Acho que esse é o exemplo que o futebol tem que dar, inclusive para a questão da violência. Pois a hora de dirigentes, jogadores se entendem e mostram que a briga é para mostrar o resultado, tudo fica mais tranquilo.

Metrópoles: Aproveitando para falar de Seleção Brasileira e o futebol brasileiro de um modo geral, o São Paulo passou por uma situação delicada que foi perder o Dorival logo após uma vitória. Teve que procurar um novo técnico de supetão. Como foi a escolha para trazer um técnico jovem, que ainda não tinha trabalhado na Série A, e por que a escolha pelo Thiago? O que você espera dele?

Júlio Casares: A saída do Dorival foi muito difícil. Eu até dizia que nós tínhamos um planejamento com ele e a comissão técnica, em cima de contratações que ele havia pedido, e nós não entendíamos naquele momento o motivo da CBF agir com tanta rapidez, já que ela estava esperando o Ancelotti. Ainda houve um problema político, o presidente Ednaldo saiu do poder, voltou reestabelecido através de uma liminar. Logo nas primeiras horas ele decidiu contratar o Dorival.

É claro que nós ficamos chateados, foi um golpe dentro da gente. Com todo o princípio de honestidade nós falamos com o Dorival, fizemos de tudo para que ele continuasse, e em uma das reuniões ele me respondeu dizendo que era um sonho ir para a Seleção. E como era um sonho, fora a liberdade de ir e vir… Nós lamentamos, mas olhamos para frente.

O nome do Carpini, dentro de um entendimento que nós temos dentro da diretoria, que é de entrevistar vários profissionais. Nós ficamos muito felizes com o preparo do Carpini, que é muito jovem, mas muito estudioso, experiente, que fez bons trabalhos como o do Água Santa, Juventude que foi um trabalho maravilhoso, que saiu da zona do rebaixamento e foi promovido para a Série A. Um trabalho extremamente profissional dele e da comissão técnica. Nossa decisão foi tomada. É confiar numa renovação, dar tranquilidade ao Carpini, nós sabemos que teremos oscilações.

É o início de uma temporada, uma temporada diferente, pois nós iniciamos a temporada com a decisão da Supercopa Rei e depois dessa maratona tivemos inúmeras contusões. Então temos que entender a adaptação dos novos jogadores. O Carpini é um cara muito sério, demos total apoio ao Carpini, sabemos que é um trabalho de convicção, de planejamento, que requer tempo. Não vamos nos abalar por resultados negativos. Eles são ruins, indigestos, ficamos tristes e discutimos os resultados, a performance, porém a convicção é de apoiar o Carpini, e a comissão técnica. Esse é um trabalho pelo Carlos Belmonte, diretor de futebol, Rui Costa, diretor executivo, os dois adjuntos Chapecó e Nelsinho, e também do nosso coordenador Muricy Ramalho.

É uma convicção, e quanto a convicção nós temos que seguir. Veja, nós assumimos em meio a uma pandemia com tantas dificuldades econômicas, processos, mós desenhamos um programa de gestão com convicção. Convicções estabelecidas em cada área. Depois os resultados vieram não só esportivamente, que são incontestáveis, mas também vieram na área do marketing, na área financeira, na comunicação direta, no compliance, governança, social e na área do futebol de base, do futebol feminino.

É um São Paulo novo. O São Paulo é de 1930, dos nossos torcedores, mas é um São Paulo novo. Competitivo, que tem cumplicidade com o torcedor e que traz o torcedor para a verdade. Você não vai ver eu, ou nenhum outro diretor, fazendo bravatas. Aqui nós não brincamos e falamos sério. Você perguntou do Casemiro e não há nada, mas quando me perguntavam na época sobre o Lucas eu respondia: “Quem sabe? Ele declarou que se ele voltar para o Brasil ele iria para o São Paulo…”. Muitos duvidaram, nós trouxemos e renovamos o contrato com ele.

Acho que a verdade, a cumplicidade e transparência fazem com que o São Paulo novo traga de novo o perfil de competitividade e o novo apoio desse torcedor que é maravilhoso, que bate todos os recordes, que é o torcedor da inclusão, pois temos um, setor popular de 14 mil lugares. Eram pessoas que estavam alijadas de assistir um jogo na própria casa. Se o Morumbi é a própria casa do torcedor, eu tenho que ter um setor extremamente popular e disso não abrimos mão.

Metrópoles: E a torcida tem correspondido. Lotado o estádio toda vez que é convocada.

Julio Casares: Muito. Eu vi um ranking em que a média é de Flamengo, São Paulo e Corinthians. Nossa diferença para o Flamengo nesse início do ano. Nós mudamos de patamar. O São Paulo hoje é um clube popular, um dos mais populares do Brasil. O mais popular de São Paulo, não tenho dúvida.

Uma torcida que traz dentro de sua militância a fé. A vanguarda de um clube que pensa na frente, mas acima de tudo,  um clube popular que ama as três cores e acima de tudo, que leva o nome de São Paulo que é uma grande potência econômica do país e traz nesse bojo um clube que sabe planejar, sofrer, planejar e supera as dificuldades com as próprias pernas, sobe degraus e sabemos que ainda precisamos subir muitos degraus. Mas estamos em um bom caminho e no caminho certo.

Metrópoles: Gostaria que você fizesse uma análise do futebol brasileiro de uma forma geral. Por vezes ouvimos o senso comum e questionamos se ainda temos craques que consigam levar a Seleção Brasileira, ou até mesmo os nossos times nos campeonatos mundiais e ganhar. O que falta? Precisamos de gente ou gestão? Como o senhor vê o cenário brasileiro atual para o mundo?

Julio Casares: Essa é pergunta requer uma reflexão grande. Precisamos primeiro de união. Os clubes precisam caminhar unidos por uma liga, precisamos ter dirigentes audaciosos, precisamos ter um clima fora de campo melhor, a estrutura do futebol brasileiro é inadmissível, alguns campos que vamos jogar, com péssimos vestiários, gramados horrorosos, iluminação terrivelmente sofrível… Isso não é um espetáculo. Não é um bom cenário, esse cenário não vai atrair dinheiro.

Nós brigamos pela liga, pois a liga vai capacitar a venda internacional dessa imagem, mas para vender bem, precisamos ter um encargo mínimo de cada estádio, cada centro, para que tenhamos palco, como vocês tem aí. Aí você melhora a qualidade técnica, pois tendo um dinheiro maior você consegue segurar um craque, garantindo que ele fique mais tempo aqui.

Isso fideliza o torcedor. Eu sou das décadas de 60 e 70, e que nós tínhamos inúmeros torcedores que ficavam 10, 12 anos em um clube. Hoje isso é quase impossível. Nós precisamos retomar essa força de mercado. Para que isso aconteça nós precisamos nos unir, a falta de união é o que leva para este quadro sofrível do futebol.  Acho que passa por um reposicionamento dos dirigentes. Aqui em São Paulo temos o presidente da Federação que é um grande exemplo de um grande dirigente de um grande campeonato regional. Nós vamos jogar um jogo do Campeonato Paulista em Brasília porque é permitido dentro de um trâmite, de um procedimento. O futebol precisa de organização.

Quando vejo a Seleção Brasileira com tanto descrédito, falta de ídolos, é um símbolo disso tudo. Nós precisamos fazer com que a Seleção Brasileira seja um espelho literalmente da prata da casa. Jogadores que joguem aqui, porque esse distanciamento com jogadores, afasta o torcedor. O torcedor que quer ver o Lucas, James, Arboleda, é o torcedor que trabalha a semana inteira e precisa desse entretenimento. A hora que os dirigentes entenderem que o futebol  é um produto de entretenimento,  sendo aliados dos centros de mídia, de televisão, internet e com os patrocinadores que teremos a retomada do futebol.

Temos uma nova safra de dirigentes que sonha e realiza. É isso que precisamos, sonhadores que ponham o pé no chão e realizem, pois se ele pode realizar pelo clube de futebol, ele pode fazer pelo futebol brasileiro.

Metrópoles: Sobre o futebol feminino, que também é uma bandeira que devemos carregar internamente. Nós temos a Seleção, temos tantas craques, também temos times investindo no futebol feminino. É um desafio que o senhor acha que precisa ser mais enfrentado de um modo geral? Por mais dirigentes e mais clubes?

Julio Casares: O futebol feminino é um grande desafio. Hoje temos ele inserido em nossa sociedade. O São Paulo tem o futebol de base feminino e o profissional e tenta cumprir o orçamento com restrições para que a gente seja competitivo. O São Paulo sempre faz bons papéis, chega nas fases mais decisivas e é uma modalidade que está em ascensão.

Meu sonho é que o futebol feminino cresça tanto que a gente comece a ter grandes bilheterias, grandes empresas de olho para investimento, veículos de comunicação que já estão transmitindo jogos e que os clubes possam competir de verdade e valorizar o futebol feminino. Não é fácil a missão do dirigente que tem que ter inúmeras modalidades, exerce um planejamento financeiro. Alguns pagando conta do passado, cobrindo compromissos do passado e essa roda precisas girar. O futebol feminino é uma das nossas prioridades dentro do nosso orçamento, assim como é também o masculino. Nós sabemos até onde podemos investir e de como faremos para investir.

Como é um processo em desenvolvimento o futebol feminino está inserido na questão de marketing, agora temos o Morumbis, que foi algo inovador com reforma de patrocínios, mudanças no patrocínio com um investimento maior e tudo isso está inserido no orçamento geral em que está o futebol feminino. Eu não tenho dúvida que em breve vamos começar a experimentar mais estádios com mais pessoas assistindo o futebol feminino. E que as emissoras e veículos de mídia da internet comecem a dar mais espaço. É um processo em curso, uma transição, o São Paulo já teve uma tradição com grandes jogadoras. Lembro da Ceci que era uma jogadora maravilhosa, enfim, sempre tivemos tradição e continuaremos apresentando grandes jogadoras para o maior nível de competitividade. É assim que vejo o futebol feminino e que todos os clubes possam entrar com muita força com as mulheres, afinal, a arte delas é incontestável. Hoje você vê o nível de um jogo de futebol feminino, o nível técnico, tático, físico. É uma realidade.

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