Dirigentes esportivos fazem apelo para mudar data da Olimpíada
“Eu não sou contra a Olimpíada. Mas dizer que a Olimpíada ainda vai continuar é um grande erro de comunicação”, disse Giovanni Petrucci
atualizado
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Com o número de mortes por coronavírus mais alto na Itália do que em qualquer outro lugar do mundo, dois executivos esportivos do país europeu fizeram apelos de cunho mais emotivo nesta quinta-feira (19/03) ao Comitê Olímpico Internacional (COI) para revisar sua posição sobre a data dos Jogos Olímpicos de Tóquio, no Japão.
“Eu não sou contra a Olimpíada. Mas dizer que a Olimpíada ainda vai continuar é um grande erro de comunicação”, disse Giovanni Petrucci, que foi presidente do Comitê Olímpico Italiano por 14 anos. “Essa pandemia está afetando o mundo inteiro”, acrescentou o dirigente, com a voz embargada, em entrevista à agências Associated Press. “Conheço os contratos de bilhões de dólares, os negócios de seguros. Eu sei tudo. Mas a vida humana vale mais do que todas essas coisas.”
A declaração de Petrucci ocorreu depois que as autoridades olímpicas regionais se uniram à posição do COI de manter a data dos Jogos de Tóquio como previsto, para 24 de julho. “Não acho que sou o único que pensa assim. Outros simplesmente não querem dizer isso”, disse Petrucci, que agora é presidente da federação italiana de basquete. “Não quero atacar o COI. Existem muitas pessoas lá que eu conheço. Mas não sei mais o que dizer. Não estou tentando criar polêmica. Eu sou realista. Veja os boletins médicos.”
Os atletas também começaram a questionar a posição inabalável do COI de que a Olimpíada ainda estão em andamento. O Athleten Deutschland, principal grupo de defesa dos atletas alemães, disse nesta quinta-feira que o COI está “seguindo teimosamente com o planejamento dos Jogos”.
A Itália, com uma população de 60 milhões de habitantes, registrou pelo menos 3.405 mortes, ou cerca 150 a mais que na China – um país com uma população 20 vezes maior. “Não há país que tenha sido mais afetado. É uma questão de respeito para com aqueles que estão sofrendo”, acrescentou Petrucci, recusando-se a especular se os Jogos devem ser cancelados ou adiados. “Não sou eu quem deveria dizer. Eles deveriam estar dizendo isso.”
Paolo Barelli, presidente das federações italiana e europeia de natação, sugeriu que o COI precisasse decidir o status dos Jogos até meados de abril. “Até 15 de abril, haverá alguns atletas que não treinam há dois meses”, disse o dirigente. “Atletas são como relógios. Eles precisam treinar e funcionar impecavelmente. Muitos deles ainda precisam se classificar, por isso precisam treinar não apenas para se qualificar, mas também para a Olimpíada. Portanto, qualquer data após meados de abril se torna muito complicada.”
Esportes suspensos
Todos os esportes na Itália foram suspensos há 10 dias, quando todo o país entrou em quarentena. Eventos como o de classificação olímpica para a equipe de natação italiana foram adiados sem data prevista.
A equipe italiana campeã mundial de polo aquático masculino não treina há duas semanas devido a piscinas fechadas e mais da metade da equipe de natação da Itália foi forçada a suspender o treinamento, de acordo com Barelli. “Quanto tempo eles podem ficar fora da água?” disse Barelli, que também é vice-presidente da Federação Internacional de Natação (Fina).
Os melhores nadadores italianos, como Federica Pellegrini e Gregorio Paltrinieri, continuam treinando em Verona e Roma, respectivamente. Mas mesmo eles podem ter que sair da água em breve. “Aqueles que têm a sorte de ter a piscina aberta e perto de casa podem treinar. Mas se a piscina está a 100 ou 200 quilômetros de distância, como eles podem? Os locais são administrados por clubes esportivos e cidades que não têm condições de mantê-los abertos para duas ou três pessoas”, disse Barelli.
Mesmo que pudessem treinar, muitos atletas simplesmente perderam o foco enquanto se preocupavam mais com parentes nas áreas do norte da Itália, região mais atingida pelo vírus. “Eles não estão treinando em condições ideais”, disse Barelli. “Se essa situação continuar assim em abril, falar sobre as Olimpíadas é ridículo.”