Cinco lições que aprendemos com atletas na Olimpíada de Tóquio
Foram muitas histórias inspiradoras, conquistas emocionantes, feitos históricos e muitas lições importantes
atualizado
Compartilhar notícia
Com o fim dos Jogos Olímpicos de Tóquio neste domingo (8/8), depois de 19 dias de competição, podemos dizer que aprendemos muito com os atletas na Olimpíada.
Foram muitas histórias inspiradoras, conquistas emocionantes, feitos históricos e muitas lições importantes. O Metrópoles destaca cinco delas a seguir. Confira:
Saúde mental em 1º lugar
A multicampeã dos Estados Unidos, quatro vezes medalha de ouro nos Jogos do Rio-2016, Simone Biles tomou uma atitude surpreendente e exemplar. A ginasta desistiu de disputar diversas finais na ginástica artística, escolhendo priorizar a sua saúde mental.
A atleta de 24 anos contou que chegou a tremer enquanto esperava pelo horário da competição. “Eu nunca me senti assim antes. Quando eu cheguei aqui eu pensei: a mentalidade não veio. Eu tive que deixar as meninas fazerem”.
Depois de abrir mão de brigar por quase todas as medalhas, a norte-americana decidiu disputar a final da trave, último exercício da ginástica na Olimpíada. Ao fim da apresentação, Simone ficou em 3º lugar, vencendo a medalha de bronze. Porém, a sua maior conquista, segundo ela, foi “trazer luz à conversa sobre saúde mental.”
“É algo que deveria ser mais falado, é algo que as pessoas passam, principalmente os atletas. Nós somos pressionados a jogar para baixo do tapete, mas agora estamos mais velhas e podemos falar por nós mesmas. Sinto que não somos apenas entretenimento, somos humanas e temos sentimentos”, disse.
Outra grande estrela do esporte, a tenista Naomi Osaka também trouxe o assunto à tona quando abandonou a disputa de Roland Garros no fim de maio deste ano. A japonesa deixou de participar das entrevistas e recebeu multa por não respeitar uma regra do Grand Slam, e então ela revelou sofrer depressão.
“Quem me conhece sabe que sou introvertida e que nos torneios sempre vou com os fones (ouvindo música), porque sofro de ansiedade social. Sinto grandes ondas de ansiedade antes de falar com a mídia e fico muito nervosa e estressada ao tentar responder a perguntas na coletiva de imprensa”, alegou.
“Eu nunca banalizaria saúde mental. A verdade é que eu tenho sofrido longos ‘surtos’ de depressão desde o US Open 2018”, justificou a tenista. Estreante em Olimpíadas dentro de sua casa, Osaka foi eliminada nas oitavas de final do tênis feminino e disse ter sentido “muita pressão”. “Tenho a impressão que a minha atitude (em quadra) não foi muito boa porque não tenho conseguido enfrentar essa pressão”, admitiu.
Empatia sobre rodas
Um dos esportes que mais conquistou a torcida brasileira nesta Olimpíada foi o skate. Pelas conquistas de prata de Kelvin Hoefler, Rayssa Leal e Pedro Barros, pelos skatistas gringos que deram show de simpatia e carisma, mas principalmente pelo exemplo de companheirismo que existe no skate.
Ficou evidente, durante todos os dias de disputa, tanto na modalidade street quanto no park, que os skatistas competem em comunidade, quase em equipes. A bandeira que eles representam é só um detalhe.
“O skate ensinou isso para a gente. Acertando ou errando, a gente quer ir lá ajudar as pessoas, dar os parabéns. O resultado é consequência”, disse a skatista paulista Dora Varella.
Do peruano que comemorou a medalha de Kelvin, à filipina parceira de dança de Rayssa, à britânica Sky Brown e à atitude das skatistas do park ao apoiar a japonesa Misugu Okamoto após queda na final, o skate demonstrou o quanto cada um se respeita, celebra cada manobra bem executada e valoriza cada cotovelo ralado.
Altruísmo
O catariano Mutaz Essa Barshim e o italiano Gianmarco Tamberi protagonizaram um momento de pura essência do espírito dos Jogos Olímpicos. Na final do salto em altura, os dois empataram em primeiro e tomaram a decisão de “dividir” a medalha de ouro.
“Trabalhamos juntos. É um sonho virando realidade. Esse é o espírito, o espírito esportivo, e a gente está aqui para passar essa mensagem”, disse Barshim sobre o episódio.
Essa “divisão” do ouro, só aconteceu outra vez na Olimpíada de 1912, em Estocolmo, nas disputas do pentatlo e decatlo. Na ocasião, Jim Thorpe, dos Estados Unidos, venceu as duas provas e perdeu a conquista depois do Comitê Olímpico Internacional descobrir que ele tinha recebido dinheiro para jogar beisebol, violando a regra que só permitia atletas amadores nas Olimpíadas.
Em 1982, no entanto, o COI voltou atrás e devolveu a conquista a Thorpe e a medalha de ouro ficou com ele, o norueguês Ferdinand Bie e o sueco Hugo Wieslander, que herdaram o título antes.
Persistência
Por trás de cada medalha vencida nas Olimpíadas, há uma história de superação e persistência. Os feitos de Luisa Stefani e Laura Pigossi no tênis, Ana Marcela Cunha na maratona aquática e a holandesa Sifan Hassan são exemplos disso.
A dupla brasileira do tênis foi inscrita por iniciativa da Confederação Brasileira de Tênis (CBT), que incluiu as atletas nos Jogos no último dia permitido, 22 de junho. Amigas desde a adolescência, elas só haviam jogado juntas em outras duas ocasiões antes da Olimpíada, foram surpreendidas com a vaga e terminaram a participação com a medalha de bronze no peito.
Na maratona aquática, Ana Marcela Cunha finalmente realizou o sonho de subir em um pódio olímpico e ainda fez isso no lugar mais alto dele. Pentacampeã mundial na modalidade, a baiana estreou em Jogos Olímpicos em 2008, em Pequim, sempre favorita a conquistar medalha e sempre saindo frustrada. Depois do ouro, essa foi a declaração dela: “Aprendi a ser feliz. Fui feliz fazendo o que eu amo e foi tudo bem.”
“Acreditar no sonho… Eu acredito e acreditei nisso. Eu sonhava muito com uma medalha olímpica, mas ia ter um gostinho especial ser campeã olímpica e eu estou muito, muito feliz”, disse Ana Marcela.
Sifan Hassan impressionou o mundo na prova classificatória dos 1500m rasos feminino. Logo no começo, depois de ter saído atrás, a holandesa acabou tropeçando em uma adversária que caiu na sua frente, levou um tombo, levantou e não desistiu. A atleta de 28 anos ultrapassou todas as adversárias e cruzou a linha de chegada em primeiro.
Brasil fez muito com pouquíssimo
O Time Brasil bateu recorde de medalhas em Tóquio. Algo marcante, sem dúvidas, mas que deixa um gostinho amargo de que poderia ser melhor.
Perdemos as contas de quantas vezes vimos atletas, principalmente os que ficaram fora dos pódios por pouco, felizes com suas participações e ao mesmo tempo bastante chateados e frustrados de ver que o resultado seria diferente com mais apoio, investimento e incentivo.
As declarações e desabafos foram muitos. Vitória Rosa, velocista olímpica, foi eliminada na prova classificatória dos 200m rasos e abriu o coração em entrevista logo depois da disputa: “Primeiramente posso dizer que estou muito feliz com a prova. Estamos numa pandemia, estou sem patrocinador, meu clube reduziu o meu salário e só a Marinha manteve o apoio. Independentemente das dificuldades, a gente está aqui para tentar, estamos trabalhando para chegar a uma final e um dia o resultado vai vir.”
Alison Cerutti, o Mamute, ouro no Rio-2016 e prata em Londres-2012, bicampeão mundial de vôlei de praia, atleta calejado, deixou os Jogos de Tóquio nas quartas de final ao lado de sua dupla, Álvaro Filho, e criticou a falta de evolução no esporte brasileiro:
“O mundo está investindo no vôlei de praia e gente está parado. Tem de melhorar, a CBV tem de investir mais. Brasil ganhou a medalha de ouro em 2016 e não mudou nada, sem nenhum investimento. O circuito continuou o mesmo, tudo paralisado, com menos etapas. Esperando só Alison e Bruno, Alison e Álvaro, como foi com Ricardo e Emanuel.”
Outro nome que se destacou pelo desempenho foi Darlan Romani, atleta de arremesso de peso. Aos 30 anos, ele terminou a prova da sua modalidade em 4º lugar e se emocionou ao falar sobre os desafios que passou para estar em Tóquio. “A pandemia complicou tudo. Ano passado a gente vinha treinando forte. Entrou a pandemia, tudo que aconteceu, a cirurgia, Covid. É difícil falar”, disse Darlan.
Morador de Bragança Paulista, sem ter onde treinar, ele improvisou uma local para praticar o arremesso. Como contou o Globoesporte.com, ele pediu para um pedreiro preparar uma área de concreto num terreno baldio ao lado de sua casa e foi lá que ele se preparou para as provas olímpicas.
Darlan Romani 🇧🇷, o lançador do peso que conquistou o coração de todo o mundo.
O brasileiro de 30 anos superou a Covid-19, foi sem treinador a Tóquio, improvisou os seus treinos em condições precárias, mas mesmo assim foi 4° classificado em #Tokyo2020.pic.twitter.com/hloXKsJdQP
— Cabine Desportiva (@CabineSport) August 6, 2021
Darlan e a grande maioria dos atletas brasileiros são exemplos vivos de que o Brasil só chegou onde conseguiu chegar na Olimpíada de Tóquio com o próprio esforço, dedicação, suor, sacrifício e luta. O Time Brasil bateu o recorde de medalhas do Rio-2016 (19 medalhas), na maior prova de superação e amor pelo esporte.
Quer ficar por dentro de tudo que rola no mundo dos esportes e receber as notícias direto no seu Telegram? Entre no canal do Metrópoles.