Adiamento da Olimpíada obriga atletas a reprogramarem preparação
Desde o fim dos Jogos do Rio, em 2016, a preparação teve como objetivo deixar o atleta pronto para julho deste ano
atualizado
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O adiamento da Olimpíada de Tóquio, anunciado nessa terça-feira (25/03), vai causar uma radical mudança no ciclo de quatro anos de preparação dos atletas. Após o Comitê Olímpico Internacional (COI) transferir a competição para 2020, os esportistas terão de repensar toda a estratégia de treinos e competições para estarem no auge da forma física em uma nova data.
O desafio agora é mudar completamente o foco. Desde o fim dos Jogos do Rio, em 2016, a preparação teve como objetivo deixar o atleta pronto para julho deste ano. A partir de agora, será preciso reconstruir o trabalho, com o cuidado para não desgastar o competidor e ao mesmo tempo, deixá-lo nas condições ideais para poder render o máximo da forma física em outro prazo, apenas em 2021.
“Agora, todo mundo tem de sentar, fazer planilhas e analisar em que ponto o atleta estava, como estava fazendo o crescimento e planejar uma curva de crescimento, inclusive de olho nos concorrentes. Será uma situação muito diferente”, disse ao Estado o Médico do Esporte Páblius Staduto Braga, do Centro de Medicina Especializada do Hospital Nove de Julho. “Será uma ocasião interessante para a própria ciência do esporte evoluir”, afirmou.
O recomeço do planejamento fez a Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM) prometer mudanças. O consultor técnico da entidade e treinador de Hugo Calderano, o francês Jean-René Mounié, afirmou que a nova data vai causar alterações profundas no trabalho. “Muda bastante. Vamos ter que criar uma nova estratégia quando soubermos mais do calendário. Muda também a nossa própria estratégia, o Hugo tem de treinar sabendo que temos pelo menos um ano em vez de quatro meses para os Jogos”, explicou.
Por isso, boa parte das competições no fim deste ano e no início do próximo vão ganhar importância para os atletas olímpicos. Esses torneios deixaram de ser do início do ciclo olímpico para se tornarem a retomada da preparação, que havia ficado afetada recentemente pelos treinos em quarentena e atividades em casa, distante de colegas e do contato com treinadores.
“Algumas modalidades ficaram muito prejudicadas pela quarentena e agora os atletas vão poder se recuperar. Esportes coletivos e que precisam da atividade aeróbica, como o vôlei, foram afetados porque o atleta não consegue em um treino em casa reproduzir o movimento do jogo”, explicou ao Estado o médico pesquisador do Grupo de Dor do Departamento de Neurologia do Hospital das Clínicas da USP Marcus Yu Bin Pai.
A mudança de compromisso de 2020 para 2021 implica também em um trabalho mental forte. A psicóloga do Pinheiros, Melissa Voltarelli, afirma que será necessário o esportista não pensar só na parte física. “Nessas condições, manter o atleta motivado e equilibrado torna-se o principal objetivo”, disse. Mesmo durante a quarentena, a conversa com os esportivas se mantém ativa via Skype.
Melhor forma
Os próprios esportistas garantem que agora será melhor ter um novo foco. Na opinião deles, ter mais um ano de preparação será importante porque nas últimas semanas o quadro de incerteza sobre a realização da Olimpíada prejudicou o rendimento nos treinos. “Nós, atletas, estamos sendo prejudicados por ter de ficar em casa e não conseguir treinar. Em 2021, os atletas vão se preparar melhor para a Olimpíada e conseguir dar o seu máximo”, disse a jogadora de vôlei Camila Brait.
A atleta da ginástica artística Flávia Saraiva concorda. “Estou há uma semana e meia sem treinar. Isso é muito ruim para a gente, porque temos uma rotina de oito horas diárias de treinos. A gente respirou aliviado porque teremos mais um ano para poder treinar”, afirmou.