Surpresa, Luisa Stefani quer ser referência e mira Tóquio-2020
Tenista paulista de 22 anos vê caminho nas duplas como foco da carreira
atualizado
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Em um ano de pouco brilho para o tênis brasileiro, Luisa Stefani foi a grata surpresa de 2019. Então desconhecida do público em geral, a atleta de 22 anos faturou sete títulos na temporada, sendo um deles o seu primeiro troféu na WTA, a elite feminina. Todas as conquistas foram obtidas nas duplas, modalidade que ela pretende abraçar de vez em 2020, de olho nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
O grande momento de Luisa foi a conquista do Torneio de Tashkent, no Usbequistão, em setembro. Uma semana antes, também ao lado da norte-americana Hayley Carter, fora vice-campeã em Seul, na Coreia do Sul, em competição do mesmo nível. As duas finais seguidas na WTA confirmaram a ascensão de uma promessa do tênis brasileiro.
“Não vou dizer que eu esperava, mas, sim, era uma das minhas metas ganhar um título de WTA neste ano. Mas não estava pensando em conquistar tudo isso”, disse Luisa, ao Estado. Ela foi ainda campeã em Houston, nos Estados Unidos, em torneio logo abaixo do nível WTA, e brilhou em torneios da ITF ao longo de sua primeira temporada completa no circuito.
Natural de São Paulo, Luisa começou a competir no profissional somente em meados de 2018. Já tinha 21 anos, idade avançada para tenistas consideradas estreantes. Mas ela não tinha nada de iniciante. A entrada tardia no circuito foi uma opção de carreira porque ela se desenvolveu no tênis universitário dos Estados Unidos, onde foi morar aos 14 anos com a família. Lá fez o ensino médio, deu as primeiras raquetadas no juvenil e entrou para a faculdade.
Hoje tem como base a academia Saddlebrook, em Tampa, na Flórida. Lá se concentra nos treinos, após ter trancado o curso de publicidade na Pepperdine University, na Califórnia. “Descobri que amo estar no circuito, esse estilo de vida, os desafios, as competições, as viagens. Tive um ano muito bom, estou muito feliz com os resultados. Era uma de minhas metas chegar ao Top 100 de duplas. E até ultrapassei isso”, afirmou.
De fato, Luisa figura na 67ª posição do ranking de duplas. Trata-se da melhor brasileira nas listas da WTA. Para 2020, a meta é mais ambiciosa: estar entre as 25 melhores do mundo. A tenista, então, pretende concentrar a sua energia nas duplas, ainda que não pretenda abandonar de vez as partidas de simples. “No começo o foco era jogar nos dois, mas passei a ir melhor nas duplas. No ano que vem, com certeza, a prioridade será jogar em duplas para continuar no embalo. Quero chegar ainda mais longe.”
Luisa espera seguir os passos de André Sá, Marcelo Melo e Bruno Soares, que se destacaram no circuito com títulos de Grand Slam e boas posições no ranking sem precisar brilhar em simples. Se as metas forem alcançadas, ela deve preencher uma lacuna no tênis brasileiro, que não tem lideranças nas duplas no feminino.
“Sempre que posso, converso com o Bruno e o Marcelo. Estou sempre ouvindo a opinião deles. Quero chegar ao nível deles no feminino. Nunca tivemos destaque nesta disputa na história”, disse a tenista, que tem como ídolos o suíço Roger Federer e a belga Kim Clijsters.
A temporada de Luisa foi marcada também pela medalha de bronze nos Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru, ao lado de Carol Meligeni. O pódio deu mais confiança à tenista para sonhar com a Olimpíada do próximo ano. “É uma meta, com certeza. Gostaria muito de jogar. Sei que tenho que fazer a minha parte, ter um ranking alto, mas preciso de uma parceira. Algumas coisas estarão fora do meu controle.”
Luisa se refere à suspensão temporária sofrida por Beatriz Haddad Maia, sua amiga e parceira recorrente nas duplas. Bia ainda não foi julgada por doping e seu futuro é uma incógnita. Se sofrer punição branda, poderá se recuperar no ranking (é a atual 272ª nas duplas) em 2020, a tempo de se colocar em posição de classificação olímpica.
“Se não pode com ela…”
Apesar da parceria com Bia, principalmente nos confrontos da Fed Cup (a Copa Davis feminina), Luisa está mais acostumada a formar dupla com Hayley Carter. Foi com a norte-americana que a brasileira obteve as suas principais conquistas no ano. Curiosamente, Hayley era uma de suas principais rivais na época da faculdade. Nesta temporada, a adversária virou parceira e amiga. As duas até já decidiram manter a dupla para 2020.
“Sempre achava difícil jogar contra ela na faculdade. Ela incomodava bastante, jogava muito bem. Nada melhor do que ter ao seu lado alguém que você não gosta de jogar contra”, brincou a brasileira sobre a parceira, de 24 anos e atual 68ª nas duplas. “Começamos a jogar juntas na gira da Ásia, quando ela me convidou. Acabou dando mais certo do que o esperado. Nosso jogo se encaixou bem. Nos damos muito bem, viramos boas amigas.”