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Aberto da Austrália de 2016: a supremacia de Novak Djokovic e a reinvenção de Angelique Kerber

Ao longo de duas semanas, as bolinhas de tênis quicavam para consagrar, uma vez mais, os já mui consagrados Novak Djokovic e Serena Williams. Agora, se há algo de novo a ser dito, o mérito é da tenista alemã Angelique Kerber, que venceu a americana

atualizado

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Kacio Vianna/Metrópoles
Djokovic
1 de 1 Djokovic - Foto: Kacio Vianna/Metrópoles

Ao longo de duas semanas, nas quadras de Melbourne, as bolinhas de tênis quicavam para consagrar, uma vez mais, os já mui consagrados Novak Djokovic e Serena Williams. Líderes dos rankings masculino e feminino, os dois já tinham vencido o Aberto da Austrália do ano passado. Todos os indícios davam conta de uma reprise daquela história que já sabemos de cor.

Portanto, se agora há algo de novo a ser dito, agradeça a Angelique Kerber, voluntariosa tenista alemã que chegou como número sete na Austrália e de lá sai como a número dois do planeta. Graças a uma improvável e, até por isso sensacional, vitória sobre a americana Serena Williams na final de sábado (30/1).

Na decisão deste domingo (31/1), no entanto, o desafiante escocês Andy Murray não conseguiu repetir tal condão e, de fato, o sérvio Novak Djokovic levou a melhor em três sets sobre um de seus diletos fregueses. Praticamente um canguru, Djokovic já tem seis canecos de Australia Open.

Então, Djoko pode esperar um minutinho, enquanto por aqui vamos primeiro olhar um pouco mais de perto o que fez esta moça, Angelique Kerber, de 28 anos, para emprestar uma lufada de ar fresco ao topo do tênis mundial. Preste atenção, Murray…

RICK RYCROFT/AP/ESTADÃO CONTEÚDO
As tenistas Serena e Angelique, após partida vencida pela alemã

Bater forte, fundo e balançado
Quando se é um notável da envergadura de Serena Williams e Novak Djokovic, os adversários têm esquadrinhados cada um de seus movimentos, suas dinâmicas em quadra, as virtudes e os vícios. Serena e Angelique Kerber já tinham se trombado tantas vezes pelo circuito, que a alemã tinha claro – intuitiva e teoricamente – o que precisaria para vencer a Maior Campeã Desta Geração.

A saber… Bater forte e fundo na bola, buscando assim manter Serena o mais acuada possível e atrás da linha de saque, além de trocar de direção e de angulação durante os rallys, para obrigar Serena a se movimentar de um lado para outro, de frente para trás. E, claro, fazer isso durante três sets, minimizando os erros e as distrações, porque pelo menos um set Serena vai levar de ti. Então, o corpo e o espírito têm que estar preparados para um par de horas de tênis jogado na mais alta intensidade.

Foi exatamente o que Angelique fez em Melbourne. Com a sorte de contar com uma jornada não tão inspirada de Serena. Desde o primeiro set, quando aproveitou erros não-forçados para quebrar o serviço da americana e fazer 3/1, a alemã teve sangue frio. Dias antes, Maria Sharapova já tinha imposto semelhantes 3/1 sobre Serena, porém uma dupla falta da russa abriu caminho para a reação da adversária. Desta feita, diante de Angelique, Serena só conseguiu emparelhar as ações já no segundo set.

A bênção de um match point
E então, no terceiro e decisivo período, Angelique Kerber e Serena Williams atuaram no limite técnico e físico. O sexto game desse set, especialmente antológico, durou mais de dez minutos e, com 4/2 para a alemã, ali ficou claro pela primeira vez para Serena que ela poderia perder. Ela reagiu a essa percepção com um leve descontrole durante o game seguinte e, dali pra diante, passou a repetir seus já conhecidos gritos de “come on” a cada perrengue. Como pôde, desta vez, Angelique Kerber não se deixar intimidar?

Talvez por Angelique já ter vivido um momento bem pior neste Aberto da Austrália. Logo na primeira rodada, diante da japonesa Misaki Doi, ela teve um match point contra si. Conseguiu salvá-lo, claro, e virar a parada. Desde então, pareceu estar de certa forma abençoada, jogando de peito aberto e derrotando nas quartas-de-final a franca-favorita de sua chave, a bielorrussa Victoria Azarenka, num duelo em que já demonstrara uma impetuosidade e uma precisão inéditas.

Foi o primeiro triunfo de Angelique sobre Victoria Azarenka em seu cartel, ela própria lembrou na entrevista coletiva minutos depois da maior partida de sua vida. A coletiva da campeã após “duas loucas semanas”, como definiu Angelique Kerber, diante de uma Serena Williams que parecia incrivelmente relaxada e genuinamente feliz pelo sucesso alheio. Serena, tamanha sua grandeza, pode se dar a essa delicadeza.

E Angie poderia ter citado o poeta contemporâneo Robert Zimmerman, mais conhecido como Bob Dylan: “quando não se tem nada, nada se tem a perder”.

Ben Solomon/Tennis Australia


A provocação de Gilles Simon
Quando se é um vencedor com a frequência de Novak Djokovic e Serena Williams, às vezes surgem reações imprevistas. Do nada, durante uma coletiva na véspera de enfrentar Djoko pela terceira rodada de Melbourne, o francês Gilles Simon mandou para os jornalistas uma informação pouco convencional. Disse que contaria com “a torcida de todo o vestiário”, porque os demais jogadores estavam “cansados de serem humilhados constantemente” por Novak Djokovic.

Sujeito afável e boa-praça, inclinado às redes sociais e nada controverso em gestos e palavras, Novak Djokovic entrou em quadra no dia seguinte com a cara fechada. Simon tinha conseguido provocá-lo. Talvez por isso o jogo se prolongou por angustiantes cinco sets, extenuantes quatro horas e meia. Foi o único momento, em todo o certame, que Djokovic se mostrou irritadiço e movido de seu cool. Mas ele só respondeu à artilharia verbal de Simon disparando esféricos projéteis amarelos do tamanho exato de uma bolinha de tênis.

Quando voltou à quadra no jogo seguinte, para azar do japonês Kei Nishikori, ele já era o Velho Djoko Inabalável de Sempre. Apenas uma vitória fácil em três sets. Mesmo o suíço Roger Federer, mais uma vez, não foi páreo. (Com duas parciais de vantagem na semifinal, Djokovic permitiu um milímetro de respiro para Federer, e isso foi o suficiente para o lendário campeão reluzir em sua melhor forma, promovendo rallys de insuperável beleza plástica, brindando o público com o set mais esplêndido desta temporada australiana, pouco antes de se deixar bater novamente por um Djokovic hoje muito acima de suas forças.)

A sombra de Andy Murray
Se Novak Djokovic chegou ao sexto título no Aberto da Austrália, Andy Murray pela quinta vez se viu derrotado na finalíssima. Quatro derrotas para Djokovic, uma para Federer. Particularmente, o revés deste domingo deve estar pesando toneladas sobre as costas do escocês. Porque nasceu de muitos, muitos erros não-forçados, inclusive dentro de seus próprios saques. Para ele, o primeiro set foi particularmente desastroso (1/6) e quando conseguiu levar o terceiro para o tie-break, Murray caiu de rendimento vertiginosamente, deixando que o oponente tivesse a seu favor cinco match points, decidindo a fatura no terceiro.

Se Angelique Kerber se referiu a este Aberto da Austrália como “duas loucas semanas”, Andy Murray tratou na coletiva de “duas duras semanas”. Sua cabeça deve ter andado a mil… Com a mulher na Grã-Bretanha, prestes a dar à luz o primeiro filho do casal. Com o sogro, Nigel Sears, treinador de Ana Ivanovic, sofrendo um piripaque (calor + tensão) nas tribunas de Melbourne, durante uma partida, e baixando hospital. E acompanhando o irmão mais novo, Jamie Murray, sendo campeão de duplas ao lado do brasileiro Bruno Soares na véspera de ele próprio entrar em quadra para a sua final.

Mais do que no renascimento de Angelique Kerber, após aquele maroto match point na primeira rodada, talvez Andy Murray possa se inspirar no renascimento de Novak Djokovic. Pelejando por anos e anos, perdendo repetidamente para Rafael Nadal e Roger Federer, Djoko hoje superou seus antigos algozes. Talvez seja sua dieta sem glúten, talvez seja a descoberta da meditação transcendental, talvez seja um pacto com o demônio. Vá saber.

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