Superação: Tamires e Fabi Claudino comemoram Dia das Mães com orgulho
As atletas são dois exemplos de mães que mostram suas forças tanto dentro quanto fora de campo e quadra
atualizado
Compartilhar notícia
O Dia das Mães é uma data destinada a homenagear e celebrar mulheres guerreiras, fortes e com histórias inspiradoras. As atletas Tamires, do Corinthians e da Seleção Brasileira feminina, e Fabi Claudino, da Seleção Brasiliera de vôlei são dois exemplos de mães que mostram suas forças tanto dentro quanto fora de campo e quadra.
Tamires, 33 anos, é mãe do Bernando, 11 anos, e descobriu a gravidez com 21 anos, quando estava apenas no começo da carreira profissional. “Estava entre temporadas, prestes a ir para os Estados Unidos. Foi uma surpresa. Eu ouvi de pessoas que minha carreira tinha terminado e que eu ‘só’ seria mãe. Mas eu tive todo o apoio da minha família e da família do César (pai do Bernardo)”, lembrou.
“Eu ouvi de pessoas que minha carreira tinha terminado e que eu ‘só’ seria mãe.”
“Com o nascimento dele, a minha vida ganhou outra perspectiva. Não existe amor maior do que o de mãe e eu entendi que era o momento de me dedicar ao meu filho. Foram quatro anos cuidando diariamente, aproveitando toda a dádiva da amamentação e de ensinar e mostrar o mundo a ele”, relatou a atleta.
Ela, então, deixou o futebol de lado pelo filho por um tempo, mas conta que guardou “no coração esse sonho e sabia que no momento certo tudo iria se alinhar.” Quando voltou à ativa, ela jogou pelo Atlético-MG, pelo Centro Olímpico, onde se destacou, venceu seu primeiro Brasileirão Feminino e conseguiu ir para o exterior, jogar na Dinamarca, pelo Fortuna Hjorring.
Tamires jogou no futebol dinamarquês por três temporadas e meia e voltou ao Brasil para vestir a camisa do Corinthians, em 2019. Pelo Timão, ela conquistou seu segundo título nacional, um Paulistão e uma Libertadores. Além da trajetória em clubes, ela é um dos principais nomes da Seleção Feminina. Já disputou duas Copas América, um Pan-Americano (2015), uma Olimpíada (2016) e duas Copas do Mundo (2015 e 2019).
Mesmo com tantas conquistas no esporte, a jogadora afirma: “O sentimento de ser mãe é único e muito especial. Mas acho que cabe um paralelo com a superação que o futebol proporciona. É um aprendizado constante, e ficou para mim a lição de acreditar nos meus sonhos e de ter orgulho das conquistas a partir da dedicação.
Mãe recém-nascida
A central bicampeã olímpica pelo Brasil Fabi, 36 anos, deu à luz Asaf há apenas 22 dias e é mãe de primeira viagem. Ela lembrou que o adiamento dos Jogos de Tóquio-2020 foi crucial para ela decidir que era hora de realizar esse sonho. “Minha vida e minhas prioridades mudaram. Decidi com meu marido que íamos tentar engravidar e o fruto disso tudo está aí!”
Fabi lembra que recebeu muito amor e apoio de todos da Seleção. “Só tenho gratidão! O nascimento dele foi o dia mais importante da minha vida! É uma emoção indescritível ver a carinha dele pela primeira vez. É um amor sem medidas”, contou.
Ela recordou que, durante a gestação, Asaf deu trabalho e as maiores dificuldades foram a “falta de ajuda e recursos” por ser atleta. “Não há planos, não há garantias, nem segurança de nada. É bem complicado. O corpo, também, de alguma forma paga pela vida que temos. Para ser atleta você chega ao limite de muitas coisas e para ser mãe, ter uma gravidez saudável, as coisas são diferentes”, explicou.
A jogadora diz que o filho é como “mais uma medalha olímpica”. “As duas que tenho foram o auge da emoção e do orgulho da minha carreira. E, na vida fora das quadras, o Asaf é minha maior emoção e orgulho. É uma alegria e um amor que não tem explicação”, relatou.
“Quando estava grávida continuava treinando, não parei em momento algum até porque sabia que era fundamental para a minha saúde e pro Asaf também. Agora vou retomando aos poucos sem muita pressa ou cobrança. Os treinos eram mais difíceis grávida, porque dá muito sono e preguiça, mas estava determinada a me manter ativa porque sabia que era muito importante”, relembrou Fabi.
Para se dedicar ao sonho de ser mãe, Fabi deixou o clube que estava jogando no Japão, o Hisamitsu Springs, e está sem um time desde então. O mesmo ocorreu com a Seleção. Fabi deixou sua vaga em aberto para poder cuidar de Asaf. Os planos para o futuro serão feitos com calma, mas garante que a gravidez não irá atrapalhar sua carreira.
“Minha cabeça e meu foco agora estão todos voltados pro Asaf e minha família. Gravidez não prejudica carreira de forma nenhuma. Temos exemplos de várias atletas que voltam até melhor após a gravidez. A gente muda. A cabeça foca em coisas importantes, você amadurece mais ainda porque é responsável por outra vida”, analisou.
“Sobre a minha volta às quadras é algo que preciso pensar com calma e sem atropelar fases da minha vida que agora são novas e muito aguardadas por mim. O futuro a Deus pertence”, garantiu Fabi.
Maior desafio
Infelizmente, quando atletas ficam grávidas, independente do esporte que praticam, é comum ver notícias e relatos de como elas são desvalorizadas e, de certa forma, vistas como invalidadas na profissão.
Há casos nos quais, por exemplo, uma corredora perdeu patrocínio por causa da gravidez — e 10 meses após dar à luz, bateu o recorde de Usain Bolt —, uma jogadora de vôlei foi processada por clube por “não informar intenção de ser mãe” e Serena Williams ganhou um Australian Open enquanto estava grávida.
Tamires e Fabi comentaram sobre esse assunto:
“Homens são pais mas não param de jogar, nem perdem salários e contratos, porque não engravidam. Nós mulheres, já temos essa dádiva divina mas que pesa em outros tantos aspectos. Como disse antes, atleta não conta com planejamento, segurança, aposentadoria, auxílio maternidade, nada disso!
Quando engravidamos dependemos do clube aceitar manutenção de contratos mesmo grávidas. Não contamos com ajuda alguma de órgãos esportivos ou governamental. A gravidez de atleta de qualquer modalidade é um passo que tem que ser calculado porque é um período de um ano e meio às vezes dois anos que não há amparo algum”, disse Fabi.
“É algo diferente, e é verdade que não é tão comum. Se não me engano, na Copa do Mundo de 2019, das mais de 550 atletas que participaram, somente cinco eram mães. Eu não tive muitas referências quando fiquei grávida do Bernardo e entendo que represento, na minha geração, o exemplo de que é sim possível conciliar a maternidade com a vida de atleta de futebol.
Se a gente parar pra pensar, as mulheres já foram proibidas por lei de praticar esportes ‘que não condiziam com as condições da sua natureza’. E isso deixou marcas. Hoje temos nossos direitos reconhecidos com a CLT e vimos a FIFA, em 2020, sinalizando essas mudanças. É preciso que os clubes e as entidades estejam cada vez mais atuantes e oportunizando as escolhas das mulheres. E que as atletas estejam cada vez mais cientes dos seus direitos”, comentou Tamires.