Olimpíadas: entenda polêmica sobre sexo e gênero que envolve boxeadora
Boxeadora argelina Imane Khelif reacendeu debate sobre o que define uma mulher nos Jogos Olímpicos de Paris
atualizado
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Nosso gênero é idêntico ao nosso sexo; está inscrito em nossos genes, pode ser claramente determinado e não muda ao longo da vida. A mulher está em um polo totalmente oposto ao do homem – ou se é uma princesa ou um cavaleiro, e não há absolutamente nada entre esses dois seres. Não importa o que você diga: seu sexo é aquele com o qual você nasceu. Ponto final. Quem pensa assim – muitos, inclusive, envolvidos na discussão sobre se a boxeadora argelina Imane Khelif deveria poder competir nos Jogos Olímpicos de Paris – geralmente se baseia em um argumento: “É questão de ciência” – biologia, para ser mais preciso.
Só que o consenso científico mudou: sexo é um espectro. Se você quiser se ater ao argumento de que mulheres e homens estão em polos opostos, precisa saber que há bastante variação entre um polo e outro.
Genética é claramente ambígua
Cromossomos XX = mulher; cromossomos XY = homem. É assim que aprendemos, na escola, que o sexo é definido.
Em pessoas com os cromossomos XX, a vagina, o útero e os ovários normalmente são formados no próprio útero. No caso dos XY, fetos geralmente desenvolvem pênis e testículo.
Há pessoas cujos aspectos físicos são femininos, mas que carregam em suas células os cromossomos XY “masculinos”, e vice-versa.
Um gene localizado no braço mais curto do cromossomo Y, chamado SRY, determina (junto com outros fatores) se testículos serão formados em um embrião. Se, por exemplo, esse gene não estiver pronto por causa de uma mutação, ou se estiver dormente, por assim dizer, o órgão não se desenvolverá – e isso apesar da presença dos cromossomos XY.
Por outro lado, testículos podem se desenvolver em pessoas com cromossomos XX caso o gene seja passado ao cromossomo X (possivelmente durante o processo de divisão das células).
Sendo assim, quão delicado é determinar o sexo de uma criança logo após o nascimento, baseando-se somente em características sexuais externas visíveis?
Nada é tão imutável quanto parece
Há muitas variações naturais nos cromossomos sexuais. Isso também pode afetar as características sexuais visíveis, como os genitais – aqui também existem várias gradações entre o pênis totalmente formado e a parte externa visível do clitóris.
Indivíduos que não se encaixam claramente em um dos sexos binários referem-se a si mesmos como intersexuais – um grupo do qual 1,7% da população mundial faz parte, segundo estimativas das Nações Unidas. Esse número é comparável ao de pessoas ruivas no mundo.
Desde 2018, recém-nascidos intersexuais podem ser registrados sob o gênero “diverso” na Alemanha. Outros países, como Austrália, Bangladesh e Índia, também reconhecem um terceiro sexo. No Brasil, há casos isolados de pessoas adultas que conseguiram se registrar como não-binários.
Leia a reportagem completa em Deutsche Welle, parceira do Metrópoles.