Estrela do pôquer, brasileira é destaque em jogo dominado por homens
Jogadora de pôquer profissional, Lali Tournier conta um pouco sobre os desafios enfrentados em um ambiente até então dominado por homens
atualizado
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Barcelona – Mulheres em todas as áreas estão quebrando barreiras diariamente em uma luta constante para garantir seu espaço. E no mundo do pôquer não é diferente.
Diversas jogadoras, assim como empresas envolvidas com o esporte, trabalham para mudar este cenário.
Durante o European Poker Tour (EPT) Barcelona, do PokerStars, o Metrópoles conseguiu conversar com Lali Tournier, uma das principais referências brasileiras no mundo das mesas de feltro, sobre esse assunto.
Confira a entrevista:
Para você, quais são os empecilhos para a entrada das mulheres no pôquer?
Eu já tive muitas discussões sobre isso, até com amigos, sempre discussões saudáveis, para tentar entender. Porque é uma coisa muito difícil de medir, a questão de como a gente foi criada desde antes. Homens são criados para tomar riscos, se aventurar. A gente ganha bonecas, eles já jogam bola e competem muito mais. Enquanto a gente não foi incentivada a disputar, a jogar esportes, querer ganhar.
O homem é muito confiante desde pequeno. E eu acho que é pela forma como ele é criado mesmo, em vários detalhes. Não dá pra medir isso, mas reflete aqui no jogo. Quando você vê mulheres começando, elas não estão tão preocupadas em ganhar, sabe? Tá tudo bem se perder. Enquanto o homem, aprendeu o jogo agora, já acha que é o melhor naquilo ali. Em tudo eles tem uma confiança muito lá em cima.
A gente também é criada para ser muito mais responsável. Para eles, tudo bem se arriscar, tirar um ano aí, se aventurar.
Tem alguma coisa que você acha que pode ser feita nos eventos para aumentar o número de mulheres nos torneios?
Vai acontecer uma coisa legal agora. Eu dei uma ideia para o Brazilian Series of Poker (BSOP) e eles toparam. Porque eu pensei: um dos motivos de uma mulher não se sentir à vontade em uma mesa com vários homens é… vai ser bobo falar isso… mas alguns deles não se comportam. Então vai ter um flerte, vai ter uma falinha, vai ter alguma atitude machista. Eu sugeri um torneio com 50% mulheres e 50% homens. Porque as mulheres vão se sentir mais à vontade. Elas vão ser a metade, vão se acostumar a jogar com os homens, e os próprios homens vão ter que se esforçar para trazer mulheres no jogo.
Se eu for me registrar, eu vou ter que estar com um homem do meu lado. Eu não preciso conhecer ele, mas só para ter 50% dos dois, né? Se um homem registrar, ele vai ter que estar com uma mulher, isso vai fazer com que homens chamem esposas, filhas, amigas, e também ter que aprender a se comportar. Lógico, não são todos assim, mas existe esse problema, né?
Mas então, como é ser uma mulher neste ambiente?
Para você ganhar em um torneio de pôquer, ou em qualquer outro emprego, qualquer empresa, você vai ter que passar por coisas no dia-a-dia a mais do que eles. Então é uma falinha a mais… E essas coisas vão te irritando no meio do torneio, você tem que saber lidar com isso. Então é mais difícil ainda para você chegar lá, sabe?
Mas eu sou otimista. Tem melhorado demais. E outra coisa muito legal é no Twitch (serviço onde jogadores podem fazer transmissões de jogos online), quando uma mulher vira referência, ela vira referência não só para outras mulheres, mas para homens também.
Porque um cara, quando ele me tem como referência, já começa automaticamente a não ver mais ali a diferença de sexo. E eu acho que é o mais importante, não fazer um negócio em que mulheres só são referência para mulheres. Não, elas podem ser referência para homens também.
Por exemplo, eu estou no torneio, e as mensagens que eu recebo são de vários caras que estão torcendo mesmo. Isso é muito legal, então por isso eu sou otimista.
Pôquer meio a meio
O torneio ao qual Lali se refere irá acontecer em novembro durante o BSOP em São Paulo, programado para o dia 26, o Daily 500 meio a meio com Lali e Rafa Moraes, marido da jogadora.
Projetos de inclusão
O próprio PokerStars tem uma iniciativa na área, tentando aumentar o número de mulheres no pôquer. O Women’s Bootcamp é um programa de cinco anos em que várias jogadoras, com diversos níveis de experiência, têm aulas e mentorias, além de participar de torneios organizados pela empresa.
Relações públicas da empresa, Moya Wilson, contou que antes do início do projeto, o PokerStars também fez diversas pesquisas para tentar descobrir alguns empecilhos que poderiam estar travando a entrada das mulheres no pôquer, como preço de inscrições, dias e horários de torneios.
Para acompanhar mais informações sobre a competição, acesse a página no Instagram do PokerStars.
A repórter viajou a convite do PokerStars.