De cartola ao apito: Luiza Estevão se forma em curso de arbitragem
Vice-presidente do Brasiliense, Luiza Estevão adquiriu um novo olhar sobre o trabalho da arbitragem ao se formar no curso da EFAB
atualizado
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Com o símbolo do Brasiliense no peito, a camisa do time onde nasceu e cresceu é praticamente o uniforme de Luiza Estevão. À frente do clube do coração desde 2016, a dirigente assumiu um novo desafio paralelo às atividades como vice-presidente do Jacaré. Em setembro de 2023, a mandatária iniciou o seu caminho como aluna do curso da Escola de Formação de Árbitros de Brasília (EFAB).
A escola, que formou árbitros de renome, como Leila Cruz, Sandro Meira Ricci e Wilton Pereira Sampaio, graduou mais uma turma de árbitros nessa sexta-feira (28/6). Dentre os 34 formandos da turma de 2023 estava Luiza, que apesar de não seguir na carreira, fez questão de concluir todas as etapas da formação básica de um oficial de arbitragem e obter o diploma.
Confira a íntegra da entrevista com Luiza Estevão:
Luiza espera abrir as portas para que outros integrantes do corpo diretivo de clubes percebam a importância do diálogo entre as duas partes. Ela é a única dirigente a realizar o curso de arbitragem no exercício do mandato à frente de um clube. Ari de Almeida também conquistou o diploma da EFAB, mas concluiu a formação antes de assumir a presidência do Ceilândia.
“Quem sabe essa minha experiência abre uma porta para outros dirigentes ou outras pessoas envolvidas no futebol realizarem o curso. Porque realmente foi uma coisa que mudou completamente a minha visão sobre arbitragem”, revelou.
Formada, Luiza Estevão agora volta suas atenções exclusivamente ao comando do Brasiliense, carregando “um respeito gigante pela arbitragem”. Ao Metrópoles, a dirigente do Jacaré revelou como foi a experiência ao longo do curso e como os conhecimentos adquiridos podem influenciar na sua relação com os profissionais de arbitragem daqui em diante.
O fim de uma relação antagônica
O histórico de Luiza, como o de qualquer outro dirigente no futebol, não é dos melhores quando se trata da relação entre a mandatária e arbitragem. Nas palavras da vice-presidente do Brasiliense: “Eu sei que aqui a gente tem uma relação muito turbulenta, desde antes da minha chegada, com a arbitragem de Brasília e de fora”.
Apesar dos altos e baixos, parte do interesse de Luiza na realização do curso foi uma tentativa de aproximação com o trabalho dos oficiais de arbitragem e o estabelecimento de um diálogo.
“Foi muito importante para eu entender mais a fundo. Como é que a gente vai cobrar algo da arbitragem se a gente não entende o que eles fazem, como é que eles chegaram ali? Às vezes nem entende a regra direito, entendeu? Enfim, eu saio do curso com um respeito enorme por esse pessoal”, revelou Luiza.
A ideia de realizar o curso surgiu inesperadamente, mas depois foi muito bem pensada. Afinal, a presença de qualquer dirigente de clube nas salas de aula poderia causar incômodo, ou, no mínimo, algum estranhamento. Para evitar a possibilidade de qualquer mal-estar, Luiza chegou a questionar diversos oficiais de arbitragem se poderia, de fato, participar da formação. Apesar da preocupação, Luiza foi encorajada a seguir em frente.
“Para entrar no curso, eu pedi permissão para, pelo menos, umas dez pessoas diferentes. Perguntei a ex-árbitro, atual árbitro, ao presidente e ao vice presidente da Federação. Eu fiquei com muito receio”, contou.
Agora dona de uma bagagem que a permite falar com mais propriedade sobre o assunto, Luiza reafirma a necessidade de cobrança por um trabalho profissional e competente dos responsáveis por apitar partidas de futebol. Com a experiência de quem já viveu o outro lado da moeda.
“Isso não quer dizer que eu não vou mais cobrar. Porque, inclusive durante o curso, eu já cobrei, já que eu vou sempre ser dirigente de futebol, acima da aluna do curso de arbitragem”, reforçou a vice-presidente do Jacaré.
O Curso
Com pouco mais de oito meses de duração, o curso teve início em outubro de 2023 e formou a XV turma da EFAB nessa sexta-feira. Após uma primeira fase voltada para o aprendizado teórico do exercício profissional da arbitragem, os alunos passaram ao treinamento prático, parte considerada como a mais difícil por Luiza.
“Eu fiz um jogo. Foi sub-11 e 13, mas eu fiz. Foi sinistro. O curso é dividido em partes. A gente fez a parte teórica, e as partes práticas, como aprender a levantar uma bandeira e a apitar, o que inclusive eu tive muita dificuldade. Eu errava para onde correr, o posicionamento, o cartão que tinha que dar. E aí, na hora que eu acertei o posicionamento, acertei o cartão, o que eu esqueci de fazer? Apitar”, contou.
Apesar das dificuldades, a vontade de concluir o curso fez com que Estevão persistisse e até adquirisse apreço pela prática. No fim, Luiza deixa o curso com “aperto no coração”.
“Eu não fiz o estágio durante o Candangão porque eu tinha um time envolvido na competição. Então eu acabei fazendo depois. Geralmente o pessoal começa a apitar jogo do sub-11, 13, e aí eu fiz um dos últimos jogos dessas competições. Eu entrei no curso para fazer ele direito, então faltei o mínimo possível, fiz todas as provas. Eu realmente entrei de cabeça, porque eu sabia que eu não ia permanecer, eu ia me formar e ia sair dali. Então eu precisei aproveitar ao máximo o tempo que eu estive lá e eu estou como eu nunca pensei que eu ia ter um aperto no coração com isso, mas eu estou triste”, afirmou saudosa a dirigente do Brasiliense.
Relação com Brasília
Apesar de ter nascido em São Paulo, Luiza não esconde o seu apreço pelo futebol candango e esse apoio também foi transferido para a arbitragem brasiliense após a formação no curso da EFAB.
“Eu hoje sou outra pessoa dentro do futebol por causa do curso. Inclusive assisto a jogos do futebol nacional, de times de outros estados, só para ver trio de arbitragem de Brasília. Eles vão bem e eu acredito que isso alavanca o nosso status”, afirmou Luiza.
Com uma relação praticamente indissociável do futebol de Brasília, Luiza não tem dúvidas ao afirmar que o cenário local produz excelentes profissionais do esporte. “Na minha opinião, que eu digo que é enviesada, Brasília é um celeiro de bons jogadores. Assim como também é um celeiro de bons árbitros”, finalizou a dirigente do Brasiliense.
Mulheres na arbitragem
Luiza foi uma das três mulheres da turma XV a realizar e concluir o curso da EFAB. A presença de mulheres na arbitragem de grandes campeonatos é recente e o curso da escola de Brasília foi responsável por revelar, por exemplo, Leila Cruz, árbitra com experiência na Copa do Mundo de Futebol Feminino da Fifa.
“São três mulheres, eu e as duas Gabis e eu não vou atuar, né? Então tem duas que realmente vão seguir carreira na arbitragem”, comemora.
Em contrapartida, o número de mulheres no quadro de arbitragem de partidas de futebol tem subido consideravelmente, fato que não passou despercebido por Luiza. Segundo a dirigente do Brasiliense, o crescimento proporcional é perceptível e a qualidade das profissionais de arbitragem também.
“A gente está em um momento, agora, que é meio que uma troca de fase. A galera de uns cinco anos para cá foi se aposentando e tem uma nova leva entrando. E eu, há alguns anos, estou muito impressionada com essa nova leva. Tem muita mulher, proporcionalmente. É lógico que não é igual, mas eu vejo que tem muita mulher e tem muita mulher competente”, revelou Luiza, animada com o prospecto da arbitragem feminina.