Qual é a música? Diretores comentam trilha sonora da abertura
Veteranos como Elza Soares, Jorge Ben Jor e Paulinho da Viola dividiram o palco com nomes da nova geração, como Ludmilla, MC Soffia e Gang do Eletro
atualizado
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Samba de raiz, música de protesto, dança do passinho e até festa de aparelhagem. A cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016 trouxe ritmos variados e bem brasileiros para embalar uma longa noite de celebrações. Veteranos como Elza Soares, Jorge Ben Jor e Paulinho da Viola dividiram o palco com nomes da nova geração, como Ludmilla, MC Soffia e Gang do Eletro.
Quem cuidou da trilha sonora foram os diretores musicais da cerimônia, os compositores Beto Villares e Antônio Alves Pinto. Beto já fez música para seriados e filmes, como “Xingu” e “Cidade Baixa”, e assinou a direção musical do projeto “Música do Brasil” (1998 a 2000), um mapeamento idealizado pelo antropólogo Hermano Vianna. Antônio também compõe para filmes, como “Cidade de Deus” (1998) e “Amy” (2015), documentário ganhador do Oscar neste ano.“O desafio foi fazer algo grandioso, Olímpico, sem ser lugar comum ou militar. Acho que conseguimos. Temos emoção, momentos grandes e trechos mais intimistas”, diz Antônio, irmão de Daniela Thomas, que faz parte do trio de diretores criativos do espetáculo.
Que música era aquela?
A noite no Maracanã começou com a voz de Luiz Melodia interpretando “Aquele Abraço”, de Gilberto Gil, enquanto um vídeo passava nos telões com vistas da cidade Olímpica do Rio de Janeiro. Depois, na contagem regressiva, veio uma versão contemporânea de “Samba de Verão”, de Marcos Valle, acompanhando uma coreografia com mil pessoas que manipulavam grandes infláveis metalizados.
O Hino Nacional foi cantado por Paulinho da Viola, que começou de um jeito bem solene e escapou para um sambinha antes de finalizar com uma pequena orquestra de câmara com nove cordas, como baixo, viola e violino.
Um rearranjo de “Toada e Desafio”, de Capiba, toca quando o mar do Rio avança pelo Maracanã, numa imensa projeção seguida por um vídeo da artista Susi Sie com imagens que lembram microorganismos, referência ao começo da vida.
Índios e chibatas
Em “Pindorama”, o segmento em que índios dançam com grandes telas de elásticos, surgiu uma peça composta por Beto, Antonio e duas convidadas, Renata Rosa e Marlui Miranda, uma das maiores autoridades em pesquisa de música indígena no país. “É uma peça original que se aproxima culturalmente ao mundo sonoro dos índios”, diz Beto.
Quando entram os escravos, ao som de chibatadas e correntes, a trilha teve participação de dois africanos que moram no Brasil: a cantora e bailarina guineana Fanta Konatê e o cantor e ator congonês Bukassa Kabengele. Na vez dos árabes, os irmãos Sami e William Bordokan, de descendência libanese, tocaram alaúdes, percussões e flautas árabes.
Uma versão instrumental de “Construção”, de Chico Buarque, impulsionou os atletas que pularam de prédio em prédio numa gigantesca projeção no palco do estádio, enquanto “Samba do Avião”, de Tom Jobim, ajudou a decolar o 14 Bis de Santos Dumont e acompanhou sua viagem noturna pelo Rio.
Daniel Jobim, instrumentista neto do maestro Tom, apareceu num piano na Cidade das Caixas para “Garota de Ipanema”, embalando os passos de Gisele Bündchen. “É um momento de tranquilidade. E o Daniel fez um arranjo bem minimalista, elegante”, comenta Beto.
Pop pop pop
Na sequência, Ludmilla puxou o “Rap da Felicidade”, um hino das favelas cariocas, convidando uma série de artistas para rápidas apresentações. Elza Soares interpretou “Canto de Ossanha”, de Baden Powell e Vinicius de Moraes, e Zeca Pagodinho cantou “Deixa a Vida me Levar”, com Marcelo D2 fazendo versos por cima.
A música de protesto veio das rappers MC Soffia, de apenas 12 anos, e Karol Conka, que escreveram a canção inédita “Toquem os Tambores”. A letra passou nos telões do Maracanã para todos acompanharem. Em seguida, o palco ficou tenso com a entrada de maracatus, espadas de fogo e bate-bolas ao som de uma trilha original que Beto e Antônio fizeram com alfaias, gonguês e efeitos sonoros.
O grupo Gang do Eletro, vindo diretamente das festas de aparelhagem de Belém, trouxe seu treme-treme para o estádio com a música “Velocidade do Eletro”, agitando uma coreografia gigantesca de 1.500 pessoas. “É uma parte do Brasil que tem trazido novidades para a música nas últimas décadas”, diz Beto. “Eles não param de evoluir”.
Antes da Parada dos Atletas, Jorge Ben Jor presenteou o público com “País Tropical”. “Ele fez uma versão mais clássica, um pouco mais acelerada”, conta.
Parada dos Atletas
Para as quase duas horas de desfile dos atletas, a dupla Beto e Antônio chamou o DJ e produtor Érico Theobaldo, de São Paulo, para ajudar com remixes e passagens. “Esta trilha tem, como demanda, a dupla função de ser divertida e impor um ritmo que dê certo, pois há mais de 10 mil atletas entrando no estádio”, diz Beto.
O conceito do playlist é um passeio entre ritmos brasileiros, alguns com sonoridade mais urbana, outros mais raiz. Tem músicas de artistas ou grupos atuais junto com remixes que fizemos de alguns frevos, cocos e cirandas pernambucanas.
A trilha traz canções recentes e remixes de artistas de vários lugares do Brasil, como Felipe Cordeiro (PA), Turbo Trio (RJ), Aláfia (SP), Rodrigo Caçapa (PE), Siba (PE), Chico Correia (PB), Marcio Wernek (SP), Luisa Maita (SP), DJ Maga Bo (EUA) e Faze Action (EUA). Há também uma composição de Beto, um batuque-guitarrada chamado “Meio Dia em Macapá”.
Uma série de protocolos, como juramentos e discursos de autoridades, foi acompanhada por uma composição mais tranquila – mas nada militar. “É uma música calma”, explica Beto. “Não chega a ser solene, mas combina com cerimônia. Vai num crescendo, mas nunca explode.”
- LISTÃO
— Luiz Melodia: “Aquele Abraço”, de Gilberto Gil
— “Samba de Verão”, de Marcos Valle (instrumental)
— Paulinho da Viola: Hino Nacional brasileiro
— “Toada e Desafio”, de Capiba (instrumental)
— “Pindorama”, composição de Beto Villares, Antônio Alves Pinto, Renata Rosa e Marlui Miranda
— “Geometrização”, participação de Fanta Konatê, Bukassa Kabengele, Sami e William Bordokan
— “Construção”, de Chico Buarque (instrumental)
— “Samba do Avião”, de Tom Jobim (instrumental)
— Daniel Jobim ao piano: “Garota de Ipanema”
— Ludmilla: “Rap da Felicidade”
— Elza Soares: “Canto de Ossanha”, de Baden Powell e Vinicius de Moraes
— Zeca Pagodinho e Marcelo D2: mash-up de “Deixa a Vida me Levar”
— MC Soffia e Karol Conka: “Toquem os Tambores”
— “Pop – As Disputas”, composição de Beto Villares e Antônio Alves Pinto
— Gang do Eletro: “Velocidade do Eletro”
— Jorge Ben: “País Tropical”
— Caetano Veloso, Giberto Gil e Anitta: “Sandália de Prata”, de Ary Barroso