Polícia pede que COI faça mapeamento de ingressos das Olimpíadas
De acordo com delegado, cerca de 800 ingressos vendidos pela quadrilha internacional de cambistas do irlandês Kevin James Mallon podem ter vindo de “vários lugares”
atualizado
Compartilhar notícia
O delegado titular da Delegacia de Defraudações do Rio, Ricardo Barbosa, disse que pediu ajuda do Comitê Olímpico Internacional (COI) para mapear a origem de ingressos vendidos por uma quadrilha internacional de cambistas. De acordo com Barbosa, os cerca de 800 ingressos vendidos pelo grupo do irlandês Kevin James Mallon podem ter vindo de “vários lugares”. Em sua edição desta terça-feira (9/8), o jornal O Estado de S. Paulo revelou que parte dos ingressos vinha da “família olímpica”.
“Como são muitos ingressos, temos que avaliar um por um para saber exatamente de onde vieram. Podem ter vindo de mais lugares. Precisamos dessas informações e quem as detém é o Comitê. Eles têm esse banco de dados”, disse.A polícia já identificou que parte destes ingressos teria vindo da empresa norte-americana de viagens Cartan. Barbosa afirmou ao Estadão.com que chamará representantes da empresa para serem ouvidos na polícia. Cambistas presos no Rio de Janeiro foram abastecidos por ingressos fornecidos pela “família olímpica” e atuavam para uma empresa com ligações com membros do COI.
Máfia
Um dos presos pela Polícia Civil do Rio na última sexta (5) foi um irlandês acusado de envolvimento com uma quadrilha internacional de cambistas, Kevin James Mallon. Detido em flagrante, ele era um dos diretores da empresa inglesa THG que, em 2014, teve seu CEO, James Sinton, preso por integrar a máfia dos ingressos da Copa do Mundo.
Durante a ação, os policiais civis apreenderam cerca de mil ingressos que eram comercializados por valores bem acima dos fixados pela organização da Olimpíada.
Mas vários desses ingressos faziam referências às entidades de membros do COI. Para que cada ingresso seja emitido, ele precisa sair com um nome de referência. Muitos deles estavam em nome do Comitê Olímpico da Irlanda, inclusive ingressos de valores elevados para a cerimônia de abertura.
Procurado, o Comitê Olímpico da Irlanda indicou que não conhece as pessoas presas. ” Abrimos investigações imediatas para entender como ingressos com os nomes do comitê chegaram a essas pessoas”, indicou o comitê irlandês, em um e-mail. A entidade garante que segue as regras do COI sobre venda e revenda. “Estamos tratando dessa assunto como máxima seriedade”, garantiu.
Na THG, porém, um dos funcionários que trabalhou numa das subsidiárias da empresa era Stephen Hickey, filho do também irlandês Pat Hickey, membro até semana passada do Conselho Executivo do COI e hoje chefe dos Comitês Olímpicos Europeus.
Tráfico de influências
Em 2012, o senador Romário apresentou um requerimento no Ministério do Esporte, solicitando que o governo federal investigue um possível tráfico de influências envolvendo Pat Hickey com o presidente do Comitê Organizador Rio-2016, Carlos Arthur Nuzman. “O senhor Hickey costuma visitar o Rio para contribuir com os preparativos do evento ou para sondar oportunidades de negócios para sua família?”, questionou Romário na época. Hickey, naquele momento, negou qualquer envolvimento.
Mark Adams, porta-voz do COI, garantiu que está colaborando. Mas insistiu que, por enquanto, “essa é apenas uma boa história de imprensa”. Questionado se Hickey já havia sido informado do caso, ele indicou de forma positiva.
“Tratamos o assunto de forma séria. Mas são ainda suspeitas. Precisamos esperar pelas investigações. Quando soubermos dos fatos, tomaremos atitudes. Até lá, é algo prematuro”, disse Adams.
Mario Andrada, diretor de Comunicação da Rio-2016, confirmou que a entidade está “repassando informações para a polícia”. “Estamos ajudando nas investigações.
O caso ainda está sendo investigado”, justificou Andrada.