Medalha de lata. Para os brasilienses, organização das Olimpíadas no DF decepcionou
Pesquisa feita a pedido do Metrópoles no início dos Jogos apontava que quase metade da população do DF (48%) tinha expectativa negativa em relação ao torneio na capital federal. Neste sábado (13/8), com o fim dos duelos e após 300 mil pessoas terem passado pelo Mané Garrincha, a sensação é de que houve muitas falhas
atualizado
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Na capital federal, as Olimpíadas Rio-2016 chegaram ao fim neste sábado (13/8). O Estádio Nacional Mané Garrincha recebeu 10 partidas dos torneios femininos e masculinos de futebol. Embora tenha sido palco de jogos da Copa do Mundo, em 2014, Brasília não conseguiu aprender com os erros experimentados há dois anos na competição mundial. Filas quilométricas e segurança falha dentro e nas imediações da arena foram alguns dos problemas enfrentados por brasilienses e turistas.
Pesquisa feita pelo Instituto Paraná a pedido do Metrópoles, entre os dias 6 e 8 de agosto — que coincidiu com o início dos Jogos Olímpicos —, já apontava a expectativa negativa dos brasilienses em relação ao campeonato na capital. O estudo revelou que quase metade da população do DF (48%) acreditava que receber as partidas sairia caro e poderia ser perigoso.
Para 30,5% dos entrevistados, sediar os jogos não faria diferença. Apenas um quinto das pessoas ouvidas (19,2%) disse que as Olimpíadas seriam muito importantes para a cidade, e 2,2% não souberam opinar.
A pesquisa do Instituto Paraná conversou com 1.302 pessoas em diferentes regiões do DF. A margem de erro do levantamento é de três pontos percentuais, para mais ou para menos. O grau de confiabilidade é de 95%, isso quer dizer que se o levantamento fosse feito 100 vezes, em 95 os resultados seriam os mesmos. Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente, de acordo com cotas de sexo, idade e escolaridade.
A reportagem ouviu torcedores que foram ver o duelo Portugal e Alemanha neste sábado (13). E o relato deles confirma os dados da pesquisa. É o caso dos estudantes Lucas Vieira e Bruno Vieira.
Veja o depoimento:
Raio X das competições
O Mané Garrincha, quase sempre deixado às moscas em dias normais, recebeu 10 jogos válidos pelas Olimpíadas de 2016. Ao todo, 15 seleções masculinas e femininas estiveram em Brasília, e o público pagante em todas as partidas foi de cerca de 300 mil pessoas. Apesar de muita gente ter ficado contente por ver de perto o torneio, o balanço final das competições foi desanimador.
“Nossa média de ocupação durante esses dias foi a mesma dos demais anos nos meses de agosto. Nada extraordinário”, afirmou Adriana Pinto, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Distrito Federal (Abih-DF).
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes do Distrito Federal (Abrasel-DF), contudo, registrou um aumento de vendas — ainda que modesto —, já que os torcedores procuraram pelos estabelecimentos depois das partidas. “Houve sim alguns turistas e moradores consumindo por aqui, mas muito pouco. Teve uma certa movimentação, mas nada perto do que a gente esperava”, declarou a diretora da entidade, Damaris Andrade.
Fora isso, as lembranças que ficarão na memória dos torcedores não serão das melhores. O trânsito foi caótico, o acesso ao estádio foi complicado por causa das filas, e cambistas fizeram a festa. Dentro da arena, havia banheiros sujos e falta de comida nos bares. A Secretaria de Segurança Pública promete para a segunda (15) um balanço oficial da “Operação Olimpíadas”.
A Secretaria de Esporte, Turismo e Lazer, responsável pela organização dos jogos no DF, deve participar também da entrevista coletiva. Ao Metrópoles, poucos dias antes do início das Olimpíadas, a secretária Leila Barros declarou que as partidas custariam menos de R$ 30 milhões aos cofres do governo.
Micos Olímpicos do DF
Até o secretário-adjunto Jaime Recena admitiu ter se decepcionado com as arquibancadas vazias do Mané Garrincha. Além disso, desde o primeiro dia dos torneios, a grama da arena esportiva deu sinais de que não estava em plenas condições.
Outros problemas dentro e fora do estádio foram verificados já no primeiro duelo de futebol: Brasil x África do Sul, pelo torneio masculino. A situação só piorou a cada partida.
Outro grande “vacilo olímpico” do DF foi o Estádio Antônio Otoni Filho, no Guará 2, conhecido como Cave (Centro Administrativo Vivencial e de Esporte). O local ficou novamente fora de uma competição mundial realizada em Brasília. Desde 2012, o espaço vem recebendo investimentos, tanto do GDF quanto do Ministério do Esporte para a implementação de melhorias, mas as obras nunca acabaram.
Desta vez, o gramado foi o grande problema. Com isso, o Rio 2016 precisou escolher às pressas um outro lugar. O Centro de Treinamentos do Brasiliense foi usado como um “plano B” para que a capital cumprisse com o que foi prometido junto ao comitê organizador e disponibilizasse quatro campos para os treinos. O gasto com a reforma do Cave, que seria um legado da Copa, já ultrapassa os R$ 7 milhões. Foram investidos R$ 6.166.632,96 por meio do Ministério do Esporte e mais R$ 1.024.568,75 vindos dos cofres do GDF.