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Ícone do vôlei mundial, Bernardinho ganha sétima medalha em nove Jogos

Ele começou como jogador no final da década de 70 e fez parte da “Geração de Prata”, a seleção que ganhou a primeira medalha olímpica no esporte, em 1984

atualizado

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Marcelo Fonseca/Estadão Conteúdo
Bernardinho
1 de 1 Bernardinho - Foto: Marcelo Fonseca/Estadão Conteúdo

A vitória deste domingo (27/8) sobre a Itália no Maracanãzinho, mesmo ginásio onde iniciou a carreira, na década de 80, consagrou Bernardinho como o maior treinador na história do vôlei. O ouro conquistado neste domingo é a sétima medalha em uma trajetória de nove Olimpíadas. Icônico dentro e fora de quadra, Bernardinho comemorou o título com abraços contidos com equipe e jogadores, carregando a filha no colo enquanto a torcida gritava: ‘É campeão’.

Carioca de 56 anos, Bernardo Rocha de Rezende se descreve como um “velho olímpico”. Ele começou como jogador no final da década de 70 e fez parte da “Geração de Prata”, a seleção que ganhou a primeira medalha olímpica no esporte, em 1984. A conquista inspirou gerações de atletas, pavimentou o caminho para a hegemonia do país nas competições internacionais e fez do vôlei a segunda paixão nacional entre os brasileiros.

A medalha obtida em Los Angeles é a única que Bernardinho guarda em casa, já que os treinadores não recebem o símbolo que eleva os atletas ao Olimpo. Ainda assim, antes da conquista no Rio, ele já era o técnico mais vitorioso da história do vôlei mundial. Foram mais de trinta títulos em competições internacionais à frente das seleções masculina e feminina.

A primeira conquista olímpica como treinador foi em Atlanta, em 1996, o bronze com a seleção feminina, repetido em Sydney, quatro anos depois, encerrando um longo ciclo no comando da equipe. A partir de 2001, ele conduziu a seleção masculina a uma trajetória única no esporte coletivo brasileiro: a sequência de quatro finais olímpicas, iniciada com um ouro, em Atenas (2004), e duas pratas, em Pequim (2008) e Londres (2012).

No Rio, o lema da conquista foi jogar “por uma causa”: o fim de um ciclo vitorioso para os principais jogadores em quadra, como o líbero Serginho. Para alcançar a consagração, martelou entre os atletas a necessidade de jogar com “lucidez e inteligência”, para encontrar soluções à qualidade técnica dos adversários, e “paixão” para sentir e jogar com a torcida.

Para o técnico, a “expectativa” dos brasileiros pesou sobre a atuação em quadra. Sempre concentrado, Bernardinho disse que o Maracanãzinho é o mesmo de quando iniciou a carreira. “Dessa vez tem uma decoração bonita”, disse. “Mas ali dentro é tudo igual. Temos que desmistificar um pouco e, ao mesmo tempo, entender a importância. É preciso ter uma leveza responsável”, repetiu.

O lema, entretanto, contrasta com o estilo explosivo, as caretas, xingamentos e muita cobrança aos jogadores. Mesmo fora de quadra, a personalidade do técnico é motivo de anedota: inteligente, rápido no pensamento e na articulação das palavras, ele sempre dispensava os tradutores voluntários nas coletivas de imprensa após cada partida, para encerrar o mais rápido possível o protocolo. “A Itália está descansando”, disse após a semifinal contra a Rússia, na madrugada de sexta para sábado.

O tempo, entretanto, pesa sobre os traços após mais de 30 anos de carreira como técnico. “Já não tenho mais idade para hipocrisia”, disse o treinador, em uma das conversas com jornalistas nas últimas duas semanas. “Ele está ficando mais careca e com o coração mole”, relatou o líbero brasileiro Serginho, um dos jogadores que mais conviveram com o técnico, nas últimas quatro olimpíadas.

Antes de iniciar a preparação, o técnico se reuniu com todos os jogadores e ouviu, de todos, suas percepções sobre o temperamento de cada um. A conversa se repetiu após as duas derrotas na primeira fase, contra Estados Unidos e Itália, quando o time esteve à beira da eliminação e do pior resultado na história, diante da própria torcida.

“Tenho que buscar ser uma ferramenta melhor para que eles possam desempenhar o papel deles. Mas (quem) achar que vou ficar sentado no banco, então nem vem jogar”, disse o técnico, na véspera da estreia no Rio. “Estávamos com as costas na parede, mas o time demonstrou capacidade de lutar”, disse.

Seu futuro permanece incógnito, apesar de ele indicar que a Olimpíada em casa “encerra um ciclo” na seleção. Bernardinho já tem proposta para treinar outras seleções, e até flertou com a política nos últimos anos, ao ser sondado pelo PSDB, partido ao qual é filiado, para disputar eleições majoritárias no Rio. Qualquer que seja sua escolha, diz que seu legado é “o trabalho bem feito”.

“Se temos que dar algum tipo de exemplo é fazer nosso trabalho bem feito, nosso melhor, sermos disciplinados, corretos, éticos, trabalhadores e isso que é o legado”, resumiu, antes de iniciar a competição que o consagrou como o maior treinador da história do vôlei.

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