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Gramados comunitários de futebol do DF viram “campo minado”

O Metrópoles percorreu espaços públicos deteriorados. Usuários reclamam de buracos, grades destruídas e falta de iluminação adequada

atualizado

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Vinícius Santa Rosa/Metrópoles
As mazelas dos campinhos de futebol do DF
1 de 1 As mazelas dos campinhos de futebol do DF - Foto: Vinícius Santa Rosa/Metrópoles

Embalado pelo sonho de se tornar jogador de futebol profissional, Tales Sousa, 15 anos, percorre estabelecimentos comerciais do Guará munido com bilhetes de rifa. As cédulas prometem R$ 300 ao felizardo que faturar o prêmio. Mas quem vai, de fato, tirar a sorte grande ao fim das vendas é o menino e uma centena de adolescentes.

Por meio da rifa, eles arrecadam fundos para tapar buracos e demarcar o campo público onde treinam e, assim, suprir o desmazelo do poder público. A grana também vai custear materiais esportivos e viagens para disputa de torneios.

O Metrópoles percorreu campos comunitários do Distrito Federal. De grama natural ou sintética, nenhum deles recebe dos agentes públicos a atenção necessária para promoção de esporte e lazer. Nos arredores, falta iluminação e, consequentemente, segurança. As grades estão quebradas. Nos espaços, à míngua, buracos põem à prova a integridade física dos atletas que apostam as fichas no futebol amador como base para o esporte profissional.

“Dependemos de doações e boa vontade, porque a administração não toma conta do local. Nós que fizemos demarcação do gramado. Temos de pegar água em um posto de gasolina perto. E só de vez em quando caminhão-pipa vai ao campo para irrigá-lo”, reclama Élton Cláudio Pinto, 39, idealizador e técnico da escolinha Élton Futebol Arte (EFA), na qual Tales e outros 100 atletas, de 12 a 19 anos, treinam.

Sem verba para alugar campo com toda estrutura necessária, o treinador recorre ao espaço gratuito apelidado de Toca da Coruja, no Guará II. Ele ensina futebol desde janeiro do ano passado, às segundas, quartas e sextas-feiras, das 18h30 às 21h.

Quando chegou, a situação do gramado era pior. Segundo Élton, estava “cheio de cupim”. Hoje, parte dos problemas desapareceu, por união de esforços voluntários. Porém, um deles perdura: a insegurança causada por falta de iluminação. A solução para o entrave, o dinheiro das rifas não pode pagar.

Meus meninos, às vezes, passam por lugares muito escuros em volta do campo. Tenho medo de que ali sejam vítimas da violência, mas, felizmente, nunca houve algo assim com eles. A CEB [Companhia Energética de Brasília] vem de vez em quando e conserta os postes. Mas logo estragam de novo

Élton Cláudio Pinto, treinador de futebol

Em volta do campo, além de luz, faltam espaços próprios para os atletas trocarem de roupa e guardarem pertences. Para solucionar tais problemas, o treinador considera alugar contêineres. Mas o arrocho financeiro, agravado pelas despesas com viagens para disputa de torneios, inviabiliza a medida.

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O técnico Elton Cláudio e o aluno Tales Victor fizeram rifa a fim de conseguir verba para melhorar o campo no Guará
O banco de reserva não possui telhado
A iluminação precária também é problema
Antes de os professores chegarem, as crianças aguardam no escuro e nem sempre têm onde sentar
Treino sob péssimas condições
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As crianças sofrem com a falta de banheiros ou vestiários

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O técnico Elton Cláudio e o aluno Tales Victor fizeram rifa a fim de conseguir verba para melhorar o campo no Guará

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O banco de reserva não possui telhado

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A iluminação precária também é problema

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Antes de os professores chegarem, as crianças aguardam no escuro e nem sempre têm onde sentar

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Treino sob péssimas condições

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Jonathas Amilcon da Silva Filho: atletas reclamam da situação

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Antônio Gomes de Araújo reclama da precariedade dos locais de treino

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A sujeira e o lixo tomam conta do lugar

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As mazelas dos campinhos de futebol se repetem por todo o DF

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Os alunos tentam "costurar" a grade com arame

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A rede do gol é presa com pequenos galhos de árvores

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Banco de reserva destruído

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Problemas põem a integridade física dos atletas à prova

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Grades mal conservadas

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Redes arrebentadas em volta de todo o gol

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Buracos e grama mal cuidada

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Apesar das adversidades, Élton não perde a esperança de ter melhores condições de desenvolver o trabalho. “Não desisto porque, por meio do esporte, tiro os meninos das ruas. Meu trabalho não tem só importância social, ajudo os meninos a terem mais cultura, nas viagens para torneio, por exemplo”, diz.

Buracos
A 14km de distância dali, na Praça dos Eucaliptos, em Ceilândia Norte, pelo menos quatro escolinhas se revezam em um campo sintético castigado por buracos e desníveis. Na marca do pênalti, por exemplo, os atletas improvisaram um círculo de concreto e gesso para tapar a falha no revestimento. Em uma das áreas de escanteio, o furo no piso chega a 10cm, o suficiente para lesionar os atletas.

Apesar disso, a alternativa representa risco às centenas de crianças e adolescentes que jogam na cidade mais populosa do DF, com 489,3 mil habitantes, de acordo com a última Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDad), de 2015/2016, da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan).

“No fim de semana passado, um garoto escorregou no local. Se não tivéssemos tapado, poderia ter quebrado o pé. O gesso foi a melhor maneira que encontramos”, conta o treinador do Madureira, uma das escolinhas que utilizam o campo, Nildo Arcanjo dos Santos, 58, conhecido como Ninha.

Fora das quatro linhas, há uma ameaça cuja solução não é possível por meio de improviso: a insegurança. Segundo Antônio Gomes de Araújo, 60, o Tonhoca, técnico na escolinha Botafoguinho, traficantes de drogas frequentam os arredores do campo. “Inclusive, já entraram no gramado e arrombaram a grade para entrar e fugir da polícia. Nunca mexeram conosco, mas incomoda”, lamenta.

O atleta Jonathas Amilcon, 17, engrossa o coro. Ele conta que mães e pais de atletas temem pela falta de segurança no local. “Às vezes, vemos ‘bote’ da Polícia Militar nos traficantes aqui perto. É uma situação chata”, diz. O garoto critica a situação do gramado e afirma já ter sofrido torções por causa dos buracos, mas sem contusões graves.

A iluminação também é alvo de queixa do adolescente. Ele conta que, a partir das 18h, os refletores demoram a ligar. Em época de campeonatos, o impasse atrasa o cronograma de partidas.

O outro lado
A Administração Regional do Guará informa que “aguarda recursos para a revitalização do campo comunitário”. “Quanto à iluminação pública, monitoramos as áreas mais demandadas pela população e investimos R$ 1,34 milhão, via emenda parlamentar, para reforçar nas entrequadras 36/34, 34/32, 32/30, Avenida Contorno (da QE 36 à EQ 30/32), dando continuidade aos serviços por toda a extensão da avenida”, acrescentou, em nota.

Ainda segundo o texto, há previsão para troca de luminárias na Avenida Contorno, próximo ao campo comunitário, a partir deste mês. A obra deve custar R$ 2,15 milhões. A administração também salienta a importância da participação da população pelo número 162, via internet ou pessoalmente, na regional.

Já a Administração Regional da Ceilândia afirma que o campo de grama sintética na Praça dos Eucaliptos tem problemas “por falta de cautela dos próprios cidadãos”. Informa que vai solicitar vistoria  no local e, “após o laudo, os reparos necessários serão encaminhados aos órgãos responsáveis”.

“Além do campo de futebol, a Administração já tem projeto de melhorias também para a praça, atualmente sob análise da Novacap”, diz, em nota. O plano, segundo a pasta, prevê a reforma do skate park, playground, academia ao ar livre e a criar pista de caminhada.

Já a Polícia Militar do Distrito Federal disse que atua “de acordo com levantamento e estudo de manchas criminais”. “O patrulhamento nessas regiões é realizado de forma ininterrupta e viaturas são estabelecidas em pontos estratégicos, com o intuito de inibir o cometimento de crimes”, acrescentou.

A PMDF também ressaltou a importância de a comunidade acionar a corporação e fazer registro de ocorrências em delegacias.

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