Técnico da Argentina, Lionel Scaloni é o “estagiário” que venceu
Em seu primeiro grande trabalho como profissional, Scaloni levou Argentina ao tri e se tornou o mais jovem técnico campeão mundial
atualizado
Compartilhar notícia
Doha (Catar) – Na última coletiva antes da final da Copa do Mundo contra a França, Lionel Scaloni, técnico da Argentina, falou sobre o processo de renovação que guiou no elenco, que deu espaço a jovens como Enzo Fernández, Alexis Mc Allister, Julián Alvarez, Cristian Romero e Nahuel Molina. Renovação, aliás, é uma boa palavra para explicar como o treinador, agora campeão do mundo em seu primeiro trabalho como profissional, conseguiu levar a Argentina ao tri.
Aos 44 anos, Scaloni é o mais jovem campeão mundial desde o compatriota Cesar Menotti, que deu o primeiro título da Copa à Argentina, em 1978. A trajetória vitoriosa parecia improvável em 2018, quando Lionel assumiu o comando da seleção após a eliminação nas quartas de final do Mundial da Rússia.
Scaloni, ex-lateral com passagens por Estudiantes, La Coruña, Lazio e a própria seleção argentina (onde foi companheiro de Messi na Copa de 2006), trabalhava como auxiliar de Jorge Sampaoli e foi indicado para assumir interinamente a sua seleção pela AFA (Associação de Futebol Argentino).
E aí, o “estagiário” começou a mostrar serviço. Primeiro, em campo, se aproveitando de um período “sabático” de Lionel Messi da seleção para trazer os jovens nomes listados acima e montar uma seleção competitiva que não fosse totalmente dependente do seu camisa 10. Depois, fora da “cancha”, montando uma comissão técnica com ídolos do passado, que pudessem dar estofo ao marinheiro de primeira viagem.
Pablo Aimar, Walter Samuel e Roberto Ayala ajudaram Scaloni a conquistar da Copa América em 2021, em pleno Maracanã, contra a Seleção Brasileira. Além de tirar a Argentina de uma fila de 29 anos sem título, a vitória solidificou o relacionamento entre os “Lioneis” e carregou o time, apelidado de “Scaloneta”, a uma sequência de 36 vitórias consecutivas — com outro ponto alto a vitória contra a Itália, por 3 x 0, na Finalíssima, o encontro do campeão da Copa América e da Eurocopa –, que só terminou na primeira partida do Mundial, uma derrota surpreendente para a Arábia Saudita.
Montar e desmontar
O 2 x 1 de virada para a Arábia Saudita trouxe velhos fantasmas de derrotas passadas à tona e, literalmente, desmontou a Scaloneta. Mas no melhor sentido possível. Mesmo sendo o treinador mais jovem entre as 32 seleções que iniciaram a Copa do Mundo, Lionel demonstrou um entendimento profundo da competição e não hesitou em mudar o time que vinha dando tão certo até ali, utilizando escalações diferentes em cada partida.
Algumas mudanças foram motivadas por lesões, outras por suspensões e algumas por adaptação ao adversário. Por exemplo, o meia Lo Celso, titular absoluto, se lesionou antes da Copa e foi cortado do elenco, o que levou Scaloni a tentar uma escalação mais ofensiva, com “Papu” Gomez entre os titulares.
Na partida seguinte, contra o México, mexeu nas laterais e na zaga, trocando Molina e Tagliafico por Acuna e Montiel e substituindo Romero por Martinez. Além disso, Rodrigues entrou no lugar de Paredes e Mc Allister ocupou a vaga que tinha sido de Gomez na estreia. Com Lautaro sem pontaria, Scaloni deu chance ao jovem Julián Álvarez e também escalou Enzo Fernández no meio-campo. Depois, ao perder Di Maria por problemas físicos, o técnico recolocou Papu Gomez na equipe.
Montagem de uma boa equipe, conhecimento tático, capacidade de adaptação e, talvez, mais importante, identificação com o ambiente de trabalho, que levou os torcedores da Argentina a criarem uma simbiose impressionante entre seus apoiadores e a seleção, Scaloni demonstrou, em um ciclo de quatro anos, inúmeras habilidades que, mostraram, no fim das contas, que ele era o homem certo para o trabalho, mesmo que, no início, o desfecho deste domingo parecesse tão improvável.