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Sequência de erros causou a queda do Cruzeiro no Brasileirão

Derrota em casa para o Palmeiras decretou o primeiro rebaixamento da história do clube celeste

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Pedro Vilela/Getty Images
Cruzeiro v Corinthians – Brasileirao Series A 2019
1 de 1 Cruzeiro v Corinthians – Brasileirao Series A 2019 - Foto: Pedro Vilela/Getty Images

No palco onde viveu alguns dos melhores momentos dos seus quase 99 anos de história, o Cruzeiro também passou pelo seu pior. Neste domingo (08/12/2019), no Mineirão, selou seu primeiro rebaixamento para a Série B em partida contra o Palmeiras. O time fechou o Campeonato Brasileiro em 17º lugar, se juntando a CSA, Chapecoense e Avaí como clubes que caíram para a segunda divisão nacional.

A queda inédita se dá após anos recentes de êxito esportivo, tanto que o clube foi bicampeão brasileiro em 2013 e 2014 e também faturou duas vezes seguidas a Copa do Brasil, em 2017 e 2018. Além disso, começou a temporada sendo campeão estadual. Mas o fracasso se dá após uma série de erros cometidos dentro e fora dos gramados.

Os graves problemas na gestão do Cruzeiro, presidido por Wagner Pires de Sá e tendo Itair Machado como vice-presidente de futebol, vieram à tona no fim de maio. Além de conviver com dívidas que superam os R$ 500 milhões, o clube e sua gestão se tornaram alvo de investigação e inquérito para apurar denúncias sobre falsificação de documentos, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e possíveis infrações às regras da Fifa e da CBF.

As denúncias enfraqueceram a cúpula do Cruzeiro e, principalmente, Itair. Tendo carta branca para tocar o departamento de futebol, assumido por ele em janeiro de 2018, fez contratações de impacto, como a de Fred, que estava de saída do Atlético-MG, montou o elenco bicampeão da Copa do Brasil e tinha relação de amizade com jogadores, como Thiago Neves.

Mas também viu as dívidas e ações na Fifa, por falta de pagamentos, se avolumarem. Recebia um salário milionário, o que incluía premiações por conquistas do time. Foi acusado de realizar repasses a empresários em negociações, de utilizar menores como garantia de pagamento de dívidas e fazer repasses para torcidas organizadas. Também colecionou declarações polêmicas, seja atacando a gestão da Federação Mineira de Futebol (FMF), Arrascaeta por sua saída para o Flamengo ou a imprensa quando da eclosão das acusações de má gestão.

Itair cai, Perrella volta
Em 10 de outubro, Wagner Pires demitiu Itair e nomeou o presidente do Conselho Deliberativo, Zezé Perrella, opositor durante a maior parte do seu mandato, como gestor de futebol. Figura emblemática da história do clube, foi o seu dirigente mais renomado entre meados da década de 1990 e o início da atual, com quatro mandatos presidenciais, alternado por períodos como homem-forte da gestão do irmão Alvimar.

O período coincide com algumas das maiores conquistas esportivas da história do clube, como a Libertadores de 1997, tendo alavancado sua carreira política – foi senador e deputado federal. Seu retorno também foi uma aposta na união política. Mas fracassou nessa estratégia e, principalmente, na tentativa de recuperar o time na briga contra o rebaixamento, desgastando ainda mais a sua imagem com o torcedor, também se envolvendo em polêmicas com Thiago Neves e dirigentes de outros clubes, como o Vasco.

Foco disperso
Sob o comando de Mano Menezes, o Cruzeiro optou por priorizar os torneios mata-mata em temporadas recentes, estratégia que contribuiu para a conquista da Copa do Brasil em 2017 e 2018. Mas não deu certo nesta temporada, com Mano e Rogério Ceni. Enquanto esteve vivo no mata-mata nacional e na Libertadores, caindo nas semifinais e nas oitavas de final, respectivamente, o time somou apenas 18 pontos em 17 compromissos pelo Brasileirão.

Rotatividade de técnicos
Sob o comando de Mano desde 2017, o Cruzeiro, pressionado pela campanha ruim no Nacional, trocou a longevidade do treinador pela rotatividade de técnicos. O clube demitiu o técnico, conhecido pelo estilo de jogo defensivo, em 8 de agosto, com duas vitórias, quatro empates e sete derrotas no Brasileirão, foi dirigido uma vez interinamente por Ricardo Resende e apostou em Rogério Ceni, com filosofia oposta ao do antecessor, com valorização da posse, mas que durou meros 46 dias no cargo, especialmente porque o relacionamento com os jogadores se deteriorou rapidamente, sendo criticado publicamente por Thiago Neves e questionado por Dedé. Foram duas vitórias, dois empates e três derrotas na Série A.

Em busca de um maior entendimento entre comando e elenco, a escolha seguinte da diretoria foi por Abel Braga, com trajetória de sucesso ao lado de Fred e Thiago Neves e seu estilo “paizão”. Com três vitórias, oito empates e três derrotas, não conseguiu tirar o Cruzeiro da zona de rebaixamento, sendo demitido em 29 de novembro, a três rodadas do fim do Brasileirão. Restou confiar em Adílson Batista, técnico que levou o time à final da Libertadores. A esperada reação para evitar a degola, porém, não veio.

Veteranos e medalhões fracassam
A aposta em um elenco caro e renomado não trouxe o resultado esperado dentro de campo, sendo que muitos “medalhões” nem enfrentaram o Palmeiras: Edilson, Egídio e Ariel Cabral, todos suspensos, e Robinho, machucado. Durante a campanha da queda, Edilson perdeu status de titular, Dedé pouco ajudou em campo, atrapalhado por lesões, Fred não foi o artilheiro de outrora e Thiago Neves é quem encerra a temporada com a imagem mais arranhada.

Protagonista em conquistas recentes, com gols decisivos, colecionou polêmicas: criticou publicamente Rogério Ceni, disse ter jogado no sacrifício contra o Santos, informação negada pelo departamento médico do clube, perdeu pênalti decisivo contra o CSA, teve áudio vazado em que cobrava o pagamento de salários atrasados e foi visto em um show enquanto os colegas estavam concentrados para o duelo com o Vasco. Foi o seu ato final pelo clube, sendo afastado do elenco por Perrella.

Protestos da torcida
Agora atônita e lamentando o rebaixamento do Cruzeiro, a torcida não deixou de estar presente nas arquibancadas durante a campanha do clube, mas ficou mais marcadas por atos realizados longe delas, em protestos contra o rendimento agônico em campo em todo o Brasileirão e a membros da diretoria.

Houve invasão à Toca da Raposa II logo nos primeiro dias da gestão de Abel, protestos irônicos, com garrafas de cachaça para falar do suposto abuso noturno de atletas, e pichações com termos pouco conhecidos, como “sevandijas” e “quilingue”. Também foram feitas ameaças à integridade física de jogadores em caso de rebaixamento, agora sacramentado. Com a queda, novos atos devem acontecer nos próximos dias.

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