Sensação da Copa, Marrocos é a 1ª seleção árabe a chegar nas quartas
Marroquinos também igualam marca de Camarões, Senegal e Gana como melhor campanha africana em uma Copa do Mundo
atualizado
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Um grande dia para Marrocos, mas também um grande dia para o futebol africano e árabe. A classificação heroica da seleção marroquina nos pênaltis, contra a Espanha, para as quartas de final da Copa do Mundo obriga todo apaixonado por futebol a olhar para a História, com “H” maiúsculo.
Isso porque Marrocos escreveu um belo capítulo nessa terça-feira (6/12). Além de chegar entre as oito melhores de uma Copa do Mundo pela primeira vez, é apenas a quarta africana a alcançar esse feito e a primeira seleção árabe a ir tão longe.
A equipe comandada por Walid Regragui, que é também o primeiro técnico africano e o primeiro árabe a levar uma seleção tão longe, é, sem dúvidas, a grande surpresa do mundial do Catar. Mas para entender melhor o tamanho da marca que Marrocos alcançou nesta Copa, é necessário ir por partes.
Contratação de última hora
Sem técnico faltando menos de 100 dias para o início da competição, a Federação Marroquina de Futebol precisou correr às pressas atrás de um comandante para sua sexta Copa do Mundo. O motivo foi a demissão do treinador bósnio Vahid Halilhodžić, que comandava a seleção desde 2019.
Apesar da convicção no trabalho de Halilhodžić, a federação não enxergava com bons olhos o relacionamento conflituoso que o bósnio tinha com alguns jogadores, como o meia Ziyech, do Chelsea, e o lateral Mazraoui, do Bayern de Munique.
Focada em ter o melhor plantel possível para a Copa do Mundo, a federação trocou de comandante e contratou Walid Regragui no dia 31 de agosto. Antes do mundial, o marroquino havia comandado a equipe em apenas três amistosos.
“Azarão” do grupo
Com um elenco não muito entrosado com a comissão técnica, Marrocos chegou ao Catar para jogar em uma chave complicada. O grupo F tinha, além dos africanos, Canadá, a Bélgica, apontada como uma das favoritas da competição, e a Croácia, atual vice-campeã do mundo.
Marrocos, no entanto, não se intimidou e aproveitou-se do repertório tático implantado por Halilhodžić e da volta das estrelas Ziyech e Mazraoui para vencer o grupo. Terminou a primeira fase como uma das melhores campanhas – invicta e entre as melhores defesas do torneio sofrendo apenas um gol.
Duelo histórico
E o chaveamento foi impiedoso. Classificados para o mata-mata apenas pela segunda vez na história, os norte-africanos cruzaram com uma vizinha de outro continente logo nas oitavas: a Espanha.
Separados pelo Estreito de Gibraltar, os dois países ficam a apenas 58 quilômetros de distância um do outro e dividem uma história de invasões e colonizações. Além disso, as cidades de Ceuta e Melilla (localizadas na África, mas oficialmente espanholas), são pivôs de divergências entre Espanha e Marrocos desde o século XIX.
Com toda essa tensão extra-campo, as seleções fizeram um duelo duro dentro das quatro linhas e empataram em 0 x 0 por 120 minutos.
Enquanto a Espanha impôs seu estilo de jogo e controlou a posse de bola – sem criar muitas chances, vale ressaltar –, Marrocos mostrou como tem solidez defensiva e gera perigos no contra-ataque. Nas penalidades, dois heróis apareceram: o goleiro Bono, do Sevilla, e o lateral Hakimi, do PSG.
Marrocos venceu a disputa por 3 x 0, desperdiçando apenas uma oportunidade e com Bono defendendo todos os chutes da Espanha. Por ironia do destino, ou não, coube ao espanhol Hakimi, nascido na capital Madri, bater o quarto e último pênalti.
De cavadinha, eliminou seu país natal e classificou seu país de coração para as quartas de final. Na entrevista coletiva depois do jogo, ao ser perguntado sobre a quantidade de jogadores da seleção que nasceram em outros países (14 no total, a equipe com mais naturalizados da Copa), Regragui disse que nesta terça os jogadores “patentearam que são todos marroquinos”.
4ª africana e 1ª árabe
Quatro anos depois, Camarões superou os marroquinos e chegou às quartas de final, conquistando a alcunha de equipe africana a chegar mais longe em um mundial. Em 2002, Senegal repetiu o feito, e em 2010, justamente na única Copa do Mundo na África, Gana entrou para o clube.
Agora, Marrocos também faz parte, mas ainda com tempo (e chance) para se tornar a única africana a alcançar as semifinais. Mesmo se for eliminada, pode se orgulhar de ser a primeira seleção árabe a chegar entre os oito melhores, na primeira Copa do Mundo em um país árabe.
Os norte-africanos agora enfrentam outro vizinho ibérico: Portugal. No próximo sábado (9/12), ás 12h (horário de Brasília), e ainda com status de “zebra”, Marrocos vai depender da mesma garra que apresentou nos primeiros quatro jogos no Catar para escrever outro capítulo na história.