Respeito Futebol Clube abre debate para combater o preconceito nos estádios
Grupo questiona conceito de que o estádio é o “lugar mais democrático do mundo”, para ele, é o local onde preconceitos são propagados sob a justificativa de que a paixão cega
atualizado
Compartilhar notícia
Há muito em comum entre as declarações sexistas que provocaram a queda do diretor-executivo do Torneio de Indian Wells no início desta semana, os gritos de “Bicha” disparados nos estádios brasileiros a cada tiro de meta cobrado pelo goleiro adversário e o comportamento racista de torcedores do Grêmio perante o hoje desempregado goleiro Aranha. Mas o principal é que esse tipo de ação machista, homofóbica e racista não passa mais despercebida perante a opinião pública.
É para debater por que esse tipo de comportamento ainda tem espaço nos estádios brasileiros, com torcedores que se sentem com poder para destilar preconceitos sem qualquer temor de serem castigados, que foi criado o Respeito Futebol Clube, um movimento coletivo com a meta de colocar em pauta a luta contra o preconceito no esporte.O pontapé inicial do grupo foi dado na última terça-feira (22/3), em uma livraria do centro de São Paulo, com a realização de um debate sobre machismo, racismo e homofobia no futebol brasileiro que reuniu dezenas de jornalistas, torcedores, ativistas, militantes, membros de organizações e estudiosos do assunto.
“Numa época em que o ódio e a intolerância viraram moda, o nosso desafio é transformar em moda o que deveria ser óbvio, transformar em costume o que deveria ser o permanente prazer pela mudança: a luta pela diversidade e pelo respeito ao humano”, disse o jornalista Marco Aurélio Carvalho, da EBC, um dos presentes à mesa do debate, ao lado dos também jornalistas Mário Marra (ESPN e CBN), Renata Mendonça (Dibradoras), Wagner Prado (Associação dos Cronistas Esportivas do Estado de São Paulo) e Ana Clara Ferrari (Prefeitura de São Paulo), além da ex-jogadora Juliana Cabral.
Ao fim do evento, foi lido um manifesto com todas as ideias básicas que marcam a fundação do Respeito Futebol Clube, com o grupo questionando o conceito de que o estádio é o “lugar mais democrático do mundo”, onde desconhecidos se abraçam no momento do gol, mas também onde preconceitos são propagados sob a justificativa de que a paixão cega.
O encontro e a divulgação do manifesto são apenas os primeiros passos para desconstrução desses comportamentos arraigados na cultura dos estádios de futebol, também se aproveitando de um momento histórico no País no qual esse tipo de ação passa a sofrer posicionamento contrário de uma parcela ativa da sociedade.
Até por isso, o planejamento do Respeito Futebol Clube prevê a realização de novos debates no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte até o meio deste ano. Em São Paulo, a ideia é agora realizar novas reuniões para que se organize encontros temáticos, com a intenção de intensificar o debate sobre a homofobia, o machismo e o racismo no futebol. A partir daí, será possível construir propostas concretas.
Em contatos iniciais, o coletivo também já recebeu o apoio informal de membros do Bom Senso FC e da Universidade do Futebol E, posteriormente, a ideia será chegar aos clubes, utilizando a força deles para ajudar a combater a cultura do ódio, além, claro, de estreitar o relacionamento com as torcidas. As próprias lideranças do grupo lembram que alguns times brasileiros já realizaram ações louváveis, como o Sport, que criou uma campanha para adoção tardia de crianças, realizada em 2015.