Reaberta investigação contra Cristiano Ronaldo, acusado de estupro
Jogador é acusado por caso ocorrido em 2009, nos Estados Unidos. Vítima foi diagnosticada com depressão profunda e estresse pós-traumático
atualizado
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Nove anos após ser acusado de estupro pela americana Kathryn Mayorga, o jogador de futebol português Cristiano Ronaldo voltará a ser alvo de uma investigação nos Estados Unidos. Nessa segunda-feira (1º/10), a polícia metropolitana de Las Vegas emitiu um comunicado avisando que estava reabrindo o inquérito. O novo advogado da professora entrou com uma ação civil na Justiça, acusando o atleta.
O caso veio à tona após a revista alemã Der Spiegel ter conseguido documentos que falam sobre a acusação de estupro contra o jogador português – ainda sob um nome fictício, a reportagem falava sobre uma carta enviada pela vítima à Cristiano.
O caso
Um documento de 27 páginas que acompanha a ação civil movida pelos advogados de Kathryn, disponibilizado pela revista alemã Der Spiegel, conta a história da vítima: ela e Cristiano se conheceram em uma festa em 2009, pouco depois de o atleta ter sido comprado pelo Real Madrid – na época, a transação de 95 milhões de euros batia o recorde pago por um jogador. Ele pediu seu telefone e a convidou para conhecer a cobertura de seu hotel com vários amigos. Acompanhada de uma amiga, a modelo subiu.
No apartamento, que custava cerca de 1 mil dólares por noite, várias pessoas entraram em uma jacuzzi. Kathryn não quis entrar, pois não tinha roupa de banho e não queria molhar o vestido. Cristiano ofereceu trajes apropriados e indicou um banheiro onde ela poderia se trocar. Enquanto ela vestia short e camiseta emprestados, o jogador entrou no local com o pênis à mostra e pediu para ela tocá-lo. A modelo achou que era brincadeira, riu e negou. Ela tentou sair do banheiro, mas Cristiano bloqueou a porta, avisando que ela só sairia com um beijo. Ainda sem se sentir ameaçada, ela o beijou.
Em entrevista exclusiva ao Der Spiegel, a modelo lembra que o jogador a agarrou, mas alguém bateu à porta perguntando se estava tudo bem e os dois saíram do banheiro. Uma vez do lado de fora, Cristiano a empurrou em cima de uma cama. Kathryn falou “não” várias vezes e, com medo, levou as mãos à vagina, se protegendo. Ele então a virou e a penetrou pelo ânus.
Segundo a vítima, o jogador pediu desculpas após o ato e afirmou ser, normalmente, um “cavalheiro”. “Sou 99% bom, não sei o que é este 1%”, teria dito, após perguntar se ela estava machucada.
O primeiro processo
Amedrontada, Kathryn conversou com amigos que a aconselharam a procurar a polícia. No dia seguinte, a modelo ligou para as autoridades e pediu um exame de corpo de delito. Uma das enfermeiras do hospital sugeriu para ela se preparar: o processo contra uma pessoa pública seria difícil e penoso, o que foi corroborado pelo delegado. Com medo de se expor, ela procurou um advogado sem muita experiência para lidar com o caso e optou por uma mediação com o time de advogados de Cristiano, sem ter de passar pela Justiça convencional.
À Der Spiegel, ela conta que não queria dinheiro. Queria a compreensão de Cristiano sobre o ocorrido. Diagnosticada com depressão severa e transtorno de estresse pós-traumático, Kathryn pediu demissão do emprego como modelo e se escondeu na casa dos pais.
Em mensagens obtidas pelo Football Leaks, o advogado do jogador, Osório de Castro, conversou com o acusado durante a sessão. “O mediador acaba de dizer que ela está chorando e nervosa porque acredita que você não está interessado no caso e não está presente. Por enquanto, não falamos sobre dinheiro, mas [o assunto] está vindo”, escreveu.
Cerca de 45 minutos depois, enviou o número: 950.000 dólares. Cristiano respondeu: “Essa é a quantia?”. Osório: “É a primeira demanda: são 660 mil euros. Não vamos aceitar. As negociações continuam”. O jogador perguntou se era muito dinheiro, e o advogado concordou, mas afirmou ser possível diminuir a soma. “Tem de ser menos!”, respondeu Cristiano.
Histérica, Kathryn precisou se deitar no chão para se acalmar. “Eu estava muito instável para assinar aquele papel, mas pensei ‘nunca vou passar por isso de novo. Vai me quebrar da próxima vez, eu não posso fazer de novo’”, lembra. Após 12 horas, o acordo foi finalizado em US$ 375 mil, cerca de € 260 mil – o equivalente a uma semana do salário de Cristiano na época. Além disso, a modelo foi proibida de falar sobre o assunto ou citar o nome do jogador, inclusive com seu terapeuta. Em contrapartida, ela escreveu uma carta de seis páginas e exigiu que fosse lida para Cristiano. Também no Football Leaks, e-mails comprovam que o atleta nunca escutou o conteúdo do documento.
Em um questionário obtido pela Der Spiegel, Cristiano assume que o ato não foi consensual e a modelo disse “não”. Em outra versão do documento, a pergunta desaparece.
It’s a questionnaire made by his lawyers. Ronaldo seems to partly confirm Mayorga’s version & stated that “she didn’t want to, but she made herself available.” In a later version of that questionnaire, these answers are gone. #CR7 is quoted saying it was consensual. 10/24 pic.twitter.com/1gsAcb5vZw
— Christoph Winterbach (@derWinterbach) September 30, 2018
A revista alemã procurou o jogador, mas ele não quis se pronunciar. O advogado do atleta na Alemanha enviou uma nota afirmando que a publicação sobre o caso é ilegal por “violar os direitos pessoais” de Cristiano Ronaldo. Em uma live, questionado por fãs, o jogador da Juventus afirmou que as acusações são fake news.
No estado de Nevada, onde teria acontecido o crime, a condenação para estupro é prisão perpétua.