Projeto tem futebol como interação social entre moradores de rua
Rogério Barba, fundador da ONG Barba na Rua, é um dos principais responsáveis pela iniciativa e referência para os que querem mudar de vida
atualizado
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Há um ano e três meses, os grupos No Setor, Festuc e a ONG Barba na Rua criaram o Festuc No Setor, que acontece todas as sextas-feiras, às 19h, no estacionamento da Quadra 5 do Setor Comercial Sul, em Brasília.
Em seus primórdios, o Festuc era um campeonato semestral de golzinho. Hoje, virou uma reunião semanal para que moradores de rua possam praticar futebol na rua. Um dos modelos e líder deles é Rogério Barba, fundador da ONG Barba na Rua.
Rogério foi abandonado por seus pais e morou em orfanato até os 18 anos, quando passou a viver nas ruas. Seu nome, Roberto Soares de Araújo, foi dado por um juiz, pois ele não sabia como se chamava quando foi encontrado. Hoje, fora das ruas há seis anos, ele se dedica a mudar a vida de outros moradores de rua. “É uma dívida de gratidão que eu tenho com a população em situação de rua. Ter a oportunidade de trabalhar com eles, de fazer projeto social, porque eu acredito que o esporte, a cultura e o lazer ressignificam a vida das pessoas”, reflete.
“Barba” é referência para os moradores de rua de Brasília. É ele quem leva alguns deles para jogar futebol com a intenção de oferecer o esporte como atividade de interação social, possibilitando aos moradores criar vínculos entre si.
“Esse (a prática do futebol) é o primeiro passo para uma pessoa ter a possibilidade de sair das ruas. A pessoa que vive na rua vai perdendo a sociabilidade, o vínculo com o próximo, assim como seus bens materiais. Ela vai deixando de saber como é viver em sociedade e o sentimento é de anulação”, disse um dos participantes do projeto.
O futebol é apenas uma das ferramentas para romper essas barreiras que se formam. Vários moradores que passaram por lá hoje estão empregados. Outros voltam para suas famílias ou estão em processo de reabilitação.
Vitor Tucci, um dos coordenadores do Festuc No Setor, falou sobre como foi o começo e como o projeto afetou até a vida dos responsáveis por ele. “A gente tinha medo de algumas situações, era tudo imprevisível e desafiador. A frase que me marcou esse período veio de um rapaz que inclusive saiu da rua. Ele disse: ‘É uma oportunidade de vocês conhecerem a rua e a gente conhecer os playboys’. Esse cara jogou bola com a gente quase um ano, sumiu do Setor, mas apareceu lá há umas duas semanas, dizendo que está morando com a mulher. Esse primeiro momento foi muito marcante para o pessoal da rua, mas eu nunca ia imaginar o impacto que teve no nosso âmbito pessoal.”
“Acho que todas as mudanças que foram ocorrendo no processo (onde jogar, o que servir de lanche..) tiveram impacto positivo, porque a gente deu voz pra eles decidirem. A gente não fez só o papel de escuta ativa, de diálogo, que agora entendemos bem. A gente também colocou eles no mapa, deu oportunidade de escolher e gerir o próprio espaço”, relata.
Veja alguns vídeos das “peladas” de sexta: