Por meio do SPFC, torcedora mantém viva memória de namorado morto
Após perder o companheiro, torcedora fanática do Tricolor enxergou no time uma forma de manter viva a memória do parceiro
atualizado
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A final da Copa Sul-Americana entre São Paulo e Independiente Del Valle caiu em uma época ruim do mês, antes do quinto dia útil. Mas isso não impediu Andrea Perez de fazer uma dívida para garantir sua presença no Estádio Mario Kempes, em Córdoba, neste sábado (1/10).
Muito mais que a chance de ver o time por quem é fanática voltar a ser campeão de um torneio internacional depois de 10 anos, este jogo será mais uma oportunidade de eternizar o amor e a memória de alguém que, assim como ela, amou o São Paulo Futebol Clube.
“Porra eu quase morri, meu marido infelizmente não sobreviveu, e o SPFC foi o que me fez levantar da cama e não cair no poço profundo da dor do luto. ‘Ceis’ acha que eu não me endividaria pra ver essa final?”, escreveu Andrea no Twitter.
Porra eu quase morri, meu marido infelizmente não sobreviveu, e o spfc foi o que me fez levantar da cama e não cair no poço profundo da dor do luto. Ceis acha que eu não me endividaria pra ver essa final? Só se vive uma vez e fodase o capital!
— Din 🇾🇪 (@dinperezspfc) September 13, 2022
São Paulo Futebol clube do início ao fim
Em 2018, quando os grupos no Facebook ainda eram uma febre, o caminho de Andrea e Daniel se cruzou em um deles. Por lá, o tema principal girava em torno de discussões sobre futebol.
Ao Metrópoles, Andrea Perez lembra que o São Paulo, time de coração dos dois, sempre teve uma forte presença no relacionamento. “O São Paulo sempre foi muito presente na nossa vida”, lembra.
Não demorou muito tempo para que o início da troca de mensagens rendesse os primeiros encontros. Que se tornariam mais frequentes, e ligados ao São Paulo.
“A gente se conheceu por causa do São Paulo. Grande parte do relacionamento estávamos juntos por causa do time, no estádio ou em casa quando não conseguíamos ir. Pra você ter ideia, o nosso segundo encontro foi no Morumbi”, relembra.
Entre vitórias comemoradas juntos, ou derrotas que entristecia os dois, muita bola rolou no gramado do Morumbi. No estádio onde diversos torcedores do time possuem lembranças, sejam boas ou ruins.
Para Andrea, um jogo em especial ficou como lembrança. Naquela noite, os olhos de Daniel brilhavam ao assistir aquela festa da torcida na recepção do ônibus do time, com música, rojão, sinalizador e bandeira. No campo, o São Paulo garantiu a classificação para as oitavas de final da Libertadores de 2020 – o primeiro jogo do time na competição que Daniel via no Morumbi -, ao vencer a LDU por 3 x 0.
Logo após aquele jogo, a Covid-19 acabou paralisando o futebol ao redor do mundo.
“Quando a pandemia se complicou nós comentamos que foi uma sorte termos ido naquele jogo, porque não sabíamos quando tudo ia voltar, os jogos, o público aos estádios…”, releva. “O que também não sabíamos, era que aquele seria o último jogo da vida dele em um estádio”.
Antes de ser mais uma das 686 mil vítimas da Covid-19 no Brasil, Daniel ainda chegou ver o São Paulo ser campeão paulista em 2021, do hospital onde estava internado. Na mesma noite, o marido de Andrea era transferido para a UTI, onde permaneceu por um mês antes de morrer por complicações da doença.
“Eu só conseguia chorar”
A dor do luto, lembra Andrea, também se misturou com um tipo de culpa por ter sobrevivido a doença que levou Daniel.
Nos primeiros dias e meses, até mesmo assistir os jogos do São Paulo era difícil. “Eu só conseguia chorar e ficar abraçada com a camisa dele”, lembra. “No início é muito pesado. Você não quer sair, não quer viver. A vontade era de morrer, pra falar a verdade, e tentar me reencontrar com ele de alguma forma”.
Mas, de algum jeito ela acabou percebendo que o time que uniu também podia ser a forma de manter viva a memória de Daniel.
Para espalhar o amor que o companheiro tinha pelo clube, Andrea decidiu doar cerca de 30 camisas do São Paulo que pertenciam a Daniel para outros são-paulinos, mas que nunca tiveram a chance de ter uma CAMISA oficial do time.
“A ideia é que esse amor pelo São Paulo não tivesse fim, que fosse resignificado. Que outra pessoa usasse essa camisa e vibrasse pelo São Paulo da mesma forma que o Dani vibrava e amava esse time. A ideia era de continuidade. O São Paulo me ajudou a lidar, a manter um amor que nós tínhamos pelo time, a fazer com que a memória dele nunca fosse esquecida através dessa paixão”, diz Andrea.
Muitos acreditam que o futebol não é só um jogo, enquanto outros enxergam o esporte apenas como 22 jogadores em busca do gol. Andrea faz parte do primeiro grupo, que entende o futebol como algo além das quatro linhas. “Tem muito mais coisas por trás do futebol. Tem muito amor, muita cultura, muita identificação. Muitas formas de lidar com o futebol… A minha agora está sendo atravessar esse momento difícil, o luto”.
Por isso, Andrea não pensou duas vezes antes de decidir ir para Córdoba. A confiança em um título do São Paulo neste sábado (1/10) foi tão grande que as passagens foram compradas logo após o time se classificar para a semifinal. Na mala, uma camisa do time de 98 que pertenceu ao companheiro, uma faixa com o nome de Daniel e a aliança do pedido de casamento que não teve tempo de acontecer. Foi a forma que encontrou para estar com ele na arquibancada, durante a final.