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Para ler e se emocionar: relembre textos de Eduardo Galeano sobre Maradona

Escritor e jornalista uruguaio usou o craque como assunto em dois de seus livros

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Ricardo Ceppi/Getty Images
Eduardo Galeano
1 de 1 Eduardo Galeano - Foto: Ricardo Ceppi/Getty Images

O escritor e jornalista uruguaio, Eduardo Galeano, era fã de Maradona. “O mais humano dos deuses”, escreveu. “Qualquer um poderia reconhecer nele uma síntese ambulante das fraquezas humanas”, anotou em 2008.

Com a morte do ídolo do futebol argentino e mundial nesta quarta-feira (25/11), dois textos sobre Maradona, assinados por Galeano, tem repercutido. O primeiro está no livro Bocas do Tempo, sobre o nascimento de uma estrela do futebol. Confira:

O parto

Ao amanhecer, dona Tota chegou a um hospital no bairro de Lanús. Ela trazia um menino na barriga. No umbral, encontrou uma estrela, na forma de prendedor de cabelos, jogada no chão.

A estrela brilhava em um lado, e no outro não. Isso acontece com as estrelas, todas vez que caem na terra, e na terra reviram: em um lado são de prata, e fulguram esconjurando as noites do mundo; e no outro são só de lata.

Essa estrela de prata e de lata, apertada na mão, acompanhou dona Tota no parto.

O recém-nascido foi chamado de Diego Armando Maradona.

O segundo está no livro Espelhos: uma História Quase Universal, publicado em 2008. Veja:

Maradona

Nenhum jogador consagrado tinha denunciado sem papas na língua os amos do negócio do futebol. Foi o esportista mais famoso e popular de todos os tempos quem rompeu barreiras na defesa dos jogadores que não eram famosos nem populares.

Esse ídolo generoso e solidário tinha sido capaz de cometer, em apenas cinco munutos os dois gols mais contraditórios de toda a história do futebol. Seus devotos o veneravam pelos dois: não apenas era digno de admiração o gol do artista, bordado pelas diabruras de suas pernas, como também, e talvez mais, o gol do ladrão, que sua mão roubou.

Diego Armando Maradona foi adorado não apenas por causa de seus prodigiosos malabarismos, mas também porque era um deus sujo, pecador, o mais humano dos deuses. Qualquer um podia reconhecer nele uma síntese ambulante das fraquezas humanas: mulherengo, beberrão, comilão, malandro, mentiroso, fanfarrão, irresponsável.

Mas os deuses não se aposentam, por mais humanos que sejam.

Ele jamais conseguiu voltar para a anônima multidão de onde vinha.

A fama, que o havia salvo da miséria, tornou-o prisioneiro.

Maradona foi condenado a se achar Maradona e obrigado a ser a estrela de cada festa, o bebê de cada batismo, o morto de cada velório.

Mais devastadora que a cocaína foi a sucessoína. As análises, de urina ou de sangue, não detectam essa droga.

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